Recentemente, fizeram-me uma pergunta que merece reflexão: qual é a importância da juventude na luta pelos direitos indígenas e o que acho do protagonismo jovem alcançando cada vez mais espaços? Minha resposta foi simples: os jovens só estão aqui porque outros abriram caminho para nós.
Sem as lideranças e anciãos que nos precederam, talvez não fosse possível ocupar espaços estratégicos na defesa da Mãe Terra. O Cacique Raoni é o símbolo desta resistência, lutando pela proteção do nosso bioma e nossos territórios antes mesmo de a nossa geração nascer.
Nesse contexto, entre os dias 24 e 28 de julho deste ano, ocorreu na aldeia Piaraçu, território Kayapó em São José do Xingu, no Mato Grosso, o encontro de lideranças guardiãs da Mãe Terra, conhecido como “o chamado do Cacique Raoni”. Tive a honra de ser convidada como jovem ativista e comunicadora indígena.
Esse encontro foi uma oportunidade para compartilharmos estratégias em defesa da Mãe Terra, reunindo representantes do governo e do movimento indígena, lideranças e jovens indígenas, incluindo a presença da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, além da presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana. No término, uma carta aberta foi proposta, com reivindicações e próximos passos da luta indígena.
Nos últimos anos, as ameaças aos povos indígenas no Brasil têm se intensificado, com violência e destruição, desmatamento, queimadas, caça e pesca ilegal, tráfico humano, de drogas e animais, além do garimpo ilegal. Essas ameaças atuais são especialmente preocupantes nos territórios dos povos Munduruku, Kayapó e Yanomami. Líderes como Davi Kopenawa e Alessandra Korap também estiveram presentes no encontro, alertando sobre as ameaças enfrentadas por seus povos.
No evento, a memória do Cacique Raoni sobre a luta pela demarcação da Terra Indígena Caopoto Jarina ecoou como um chamado à resistência. As lideranças presentes destacaram a importância de se unirem em defesa dos territórios, recordando também o papel crucial da luta indígena na criação da Constituição de 1988.
Não podemos ignorar o momento atual de luta contra o marco temporal, uma tese que mina a autonomia dos povos indígenas sobre seus territórios, dificultando o processo de demarcação de terras indígenas no Brasil.
Representantes do povo Guarani e Kayowá também se fizeram presentes, reforçando o compromisso dos povos em unir forças na defesa dos territórios. O povo Guarani enfrenta grandes violências físicas e territoriais, lutando ainda pela demarcação de suas terras.
Acredito que, quando os povos indígenas se unem em defesa da Mãe Terra, estão lutando pela vida contra a crise climática. E, sem dúvida, a demarcação das terras indígenas é a principal estratégia para barrar os efeitos devastadores desse cenário.
O encontro foi um marco na união de gerações e na convicção de que somente juntos poderemos proteger nossos territórios e garantir um futuro para as próximas gerações. É hora de reconhecermos a importância vital dos povos indígenas na preservação da natureza e no enfrentamento dos desafios climáticos, assegurando que suas vozes sejam ouvidas e respeitadas. Afinal, defender a Mãe Terra é defender a própria vida.
Samela Sateré Mawé é indígena do povo Sateré Mawé, estudante de Biologia na Universidade do Estado do Amazonas, ativista ambiental, jovem comunicadora na Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA). Hoje é uma das principais lideranças dos povos originários no Brasil