Fome, trampo estressante e medo constante da casa inundar num dia chuvoso…O pobre não tem um dia de paz, não é? Esses desafios precisam parar de ser invisibilizados ou, simplesmente, naturalizados. Precisamos nomeá-los e trazer um debate crítico sobre o que está acontecendo com o mundo, principalmente nos territórios vulnerabilizados abandonados pelo poder público. Vivemos tempos de intensificação da crise climática, racismo ambiental e insegurança alimentar
Essas são problemáticas que afetam muitos lugares do planeta e é uma triste realidade nas aldeias indígenas, nos quilombos e nas comunidades periféricas. Por isso, precisamos estimular o debate climático nesses territórios! O Instituto Perifa Sustentável nasceu com esse propósito, num lugar de luta, força ancestral e resistência, com a missão de mobilizar a juventude negra e periférica em uma nova agenda de desenvolvimento, no qual os temas de raça e clima sejam centrais.
Em 2019, o Perifa Sustentável foi criado como um projeto para democratizar a pauta climática nas periferias, comunidades e favelas, mas com a pandemia causada pelo coronavírus em 2020, grande parte do trabalho foi desempenhado no formato virtual por meio de palestras, rodas de conversa e webinars sobre a relação de sustentabilidade com periferias. Já em 2021, um time foi criado com o intuito de institucionalizar o projeto e, consequentemente, ampliar seu impacto.
Em 2022, o Perifa Sustentável foi aprovado no Fundo Elas Periféricas da Fundação Tide Setubal e recebeu apoio institucional para tirar seu CNPJ. Agora em 2023 foi aprovado o primeiro projeto para combater as mudanças climáticas na quebrada, o Educando para a ação climática, com apoio do edital Mulheres Liderando a Ação Climática do Fundo Casa Socioambiental.
Atualmente, a organização é liderada por três mulheres negras, que também idealizaram o instituto: Amanda Costa, Mahryan Sampaio e Gabriela Santos, jovens ativistas climáticas que decidiram destinar suas vidas a combater o racismo ambiental e promover justiça climática, tanto em nível local quanto nacional e internacional. Por meio da educomunicação, ações territoriais e incidência política, o Instituto Perifa Sustentável está influenciando o debate público, criando metodologias transformadoras e representando parte da juventude preta e periférica em conferências internacionais e espaços de diálogos no Brasil sobre mudanças climáticas.
Revolucionário, não é? Mas esse é apenas o começo.
A sustentabilidade e a vida em harmonia com a natureza é uma prática histórica de grupos quilombolas, indígenas e de descendentes africanos em diáspora, mas que muitas vezes é cooptada por uma branquitude que deseja dominar todos os espaços de poder e influência. Por isso, para criar uma periferia realmente sustentável é necessário voltar para valorizar a herança cultural de quem está há muito tempo lutando por um futuro melhor.
Abdias Nascimento nos diz que: “Caso o negro perdesse a memória do tráfico e da escravidão, ele se distanciaria cada vez mais da África e acabaria perdendo a lembrança do seu ponto de partida. E este ponto de partida é o ponto básico: quem não tem passado não tem presente e nem poderá ter futuro.” (Livro Quilombismo)
Essa frase é tangibilizada na SANKOFA, o símbolo do Instituto Perifa Sustentável. A Sankofa é um ideograma presente no adinkra, conjunto de símbolos ideográficos do povo Akan, um grupo linguístico da África Ocidental. Ela surgiu com o provérbio ganês “Se wo were fi na wo sankofa a yenkyi”, que significa “não é tabu voltar para trás e recuperar o que você esqueceu (perdeu)”.
Querido leitor, queremos te convidar a também fazer parte desse movimento: que você possa sempre retornar para aprender com aqueles que vieram antes, valorizar o que já foi feito e assim, se unir a nós na construção de um futuro inclusivo, colaborativo e sustentável.
Amanda Costa, Mahryan Sampaio e Gabriela Alves
Instituto Perifa Sustentável