O conceito de racismo ambiental é usado para descrever as injustiças ambientais que afetam de forma desproporcional comunidades marginalizadas, como negras e pobres, e suas ausências nos espaços de poder. Embora o termo tenha ganhado notoriedade recentemente, é fundamental reconhecer que muito se deve às vozes ancestrais, às vivências e às experiências das mulheres negras nessa luta, seja de forma explícita ou indireta.
Particularmente, eu, Gabriela, lembro da minha avó, Dona Eulina, uma mulher afro-indígena que me ensinou sobre remédios naturais, plantio e a importância da conexão com a natureza. Ela não era uma ativista tradicional, mas sua sabedoria sobre a vida em conexão com a terra ecoa de maneira profunda. Ela partiu antes do termo “Racismo Ambiental” se popularizar, o que nos faz questionar quantas avós compartilham conhecimentos semelhantes sobre plantas e a terra.
Além do legado de mulheres como Dona Eulina, devemos reconhecer figuras notáveis como Wangari Maathai, a ambientalista queniana que liderou o movimento do Green Belt, reflorestando e empoderando mulheres em sua comunidade.
No Brasil, temos muitas mulheres negras intelectuais e ativistas que contribuem para a luta por uma vida digna, mas suas contribuições muitas vezes são apagadas. Nomes como Carolina Maria de Jesus (intelectual da favela do Canindé em São Paulo), Joice Paixão (ativista e fundadora do GRIS, em Recife), Sara Marques (ativista de Caranguejo Tabaiares, no Recife), Regina Santos (uma das fundadoras do Movimento Negro unificado), Marina Silva (ambientalista e atual ministra do Meio Ambiente) e Mãe Bernadete (ialorixá, ativista e líder quilombola baiana, assassinada neste ano) são alguns exemplos.
É essencial entender que o colonialismo no Brasil ainda afeta a população, especialmente a negra e indígena, que foi desumanizada e colocada como uma raça inferior. O colonialismo estabeleceu ideias de superioridade e inferioridade, criando danos psicológicos e materiais irreparáveis.
“O colonialismo não é uma máquina de pensar, não é um corpo dotado de razão. É a violência em estado de natureza” – Franz, Fanon, em Los condenados de la tierra
Para além disso, existe uma violência sistêmica que se manifesta na dupla opressão do machismo e racismo, como destacado por Grada Kilomba em seu livro “Memórias da plantação”.
Apesar das injustiças, as mulheres negras são maioria nas lideranças que enfrentam questões climáticas e ambientais. Elas atuam com um profundo senso de coletividade e cuidado, ajudando umas às outras nas tragédias e no dia a dia. No entanto, essas contribuições frequentemente não são reconhecidas.
A representatividade nas esferas de poder e decisão relacionadas ao meio ambiente no Brasil é predominantemente branca. Para enfrentar o Racismo Ambiental, é essencial dar espaço a perspectivas diversas, incluindo aquelas que são periféricas, quilombolas e indígenas.
Precisamos reconhecer a importância da conexão com a ancestralidade e incorporar conhecimentos tradicionais em nossas soluções. Apenas assim poderemos construir um futuro mais inclusivo e sustentável para todos.
Sankofa. Por todas que abriram o caminho para hoje estarmos na luta!
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