Sou uma líder indígena. Dito isso, entre tantas ameaças na luta e na defesa dos nossos territórios, como o desmatamento, as queimadas, caça e pesca ilegal, garimpo, tráfico de drogas, humano e de animais, a invasão pela grilagem de terras tem nos preocupado, pois as ações muita das vezes são feitas com violência e trazem a morte dos nossos guardiões.
Grilagem é o nome dado para quando um pedaço de terra é invadido e ocupado por pessoas que não são donas. Muitas das vezes essas terras são Terras Indígenas ou Áreas de Preservação. O termo vem especificamente do processo de forjar o documento da terra, mentir para que ele pareça verdadeiro, colocando os papéis em caixas com grilos para que os animais deem a aparência de que ele é antigo e que aquela pessoa estava naquela terra invadida há muitos anos.
Quem comete esse tipo de crime é o grileiro. Geralmente esse crime tem diversas esferas de atuação e resultam em complexos cenários de mortes e destruição para a fauna, flora e para nós povos indígenas, gerando consequências desastrosas ao meio ambiente.
Nós, povos indígenas, lutamos há muitos anos pela defesa dos nossos territórios e conflitos com grileiros têm se tornado cada vez mais frequentes, levando à morte de muitos indígenas guardiões, como Ari Urueu wau wau, Paulino Guajajara, e Gustavo Pataxó. Segundo o relatório de violência contra os povos indígenas do Brasil divulgado pelo CIMI, foram 795 casos entre os anos de 2019 e 2022.
Esse crime também afeta o meio ambiente, pois as áreas desmatadas são as que mais possuem preservação da biodiversidade, como as terras indígenas e áreas de proteção ambiental.
Os grileiros também agem de forma organizada para enganar o povo. Usam pessoas simples, pequenos produtores e agricultores como laranjas na invasão até o processo de regularização da área. Quem promove são empresários, fazendeiros, políticos e especuladores imobiliários que contratam os jagunços armados e pistoleiros que ameaçam e matam indígenas.
Enquanto leis efetivas de punição não forem criadas e colocadas em prática e enquanto órgãos de proteção ambiental e indígena não forem reestruturados, esse crime segue impune no Brasil. E vai continuar matando e destruindo quem ousar denunciar e desafiar os que têm grande poder aquisitivo e que ocupam espaços de poder e tomada de decisões na construção da política do nosso país.
***Este conteúdo é uma coluna de opinião que representa as ideias de quem escreve, não do veículo.