Eu senti verdadeiramente o impacto da representatividade recentemente. Em 2020, ganhei o livro “Lendários” (Intrínseca, 2021), da escritora norte-americana Tracy Deonn, mas, inicialmente, não dei muita atenção e o deixei em minha cama. Mais tarde, meu pai perguntou o que eu estava fazendo na capa do livro. Demorei para entender o que ele dizia, e ao examinar detalhadamente aquela ilustração, comecei imediatamente a leitura.
Devorei o livro, não tanto pela trama, mas porque me vi refletida em Brianne Matthews, a protagonista. Mesmo antes desse livro, eu já discutia sobre a importância da representatividade nas produções, mas nunca me senti tão pertencente ao ver meus traços, cor e cabelo na capa de um livro jovem.
Quando a escritora e ativista bell hooks fala sobre o amor em seu livro “Tudo sobre o amor”, inicia com a desconstrução da ideia de que esse sentimento é apenas romântico. Sem egoísmo, ela reforça a importância do amor próprio, uma vez que é impossível amar o próximo, sem antes amar a si mesmo. Contudo, como construir o amor próprio se a cada livro, filme ou propaganda, o que é dito como belo não se parece com você?
Em uma entrevista recente que fiz com a especialista em diversidade e inclusão Dayse Rodrigues, ela se emocionou ao lembrar de comprar uma fantasia do Homem Aranha para um de seus três filhos. O garoto teve uma crise de choro ao se vestir como o super-herói, embora parecido com o personagem, não poderia sê-lo, pois tem a pele marrom.
No livro “A outra garota negra” (Intrínseca, 2021), da autora Zakiya Dalila Harris, que recentemente ganhou adaptação em série televisiva, a personagem Nella é uma assistente editorial e única funcionária negra da empresa. Durante a leitura de um livro “racialmente inclusivo”, ela reflete sobre a conveniência e a verdadeira representatividade. “Com uma maior consciência da sensibilidade cultural vem uma grande responsabilidade. Se não tivermos cuidado, ‘diversidade’ pode se tornar só mais um item que as pessoas têm que ticar de uma lista para depois descartar, algo superficial e sombrio sem nada mais além”.
Temos presenciado um aumento de protagonismo negro em produções culturais. Na internet, vídeos de crianças reagindo com brilho nos olhos à animação com personagens parecidos com eles viralizam. Assim como sinalizado por Nella, não é sobre colocar um ou dois personagem negros reforçando estereótipos preconceituosos, mas sim garantir o destaque positivo, seja como heróis e heroinas, reis e rainhas, cientistas, presidentes, músicos, entre outros. Apenas assim o auto amor se tornará palpável, como o descrito por hooks.
***Este conteúdo é uma coluna de opinião que representa as ideias de quem escreve, não do veículo.