Gabriela Alves e Camila Berteli, Perifa Sustentável
Estabelecer metas para o ano que se inicia é tradição para grande parte dos brasileiros e, quase sempre, o cheiro de esperança e ambição para cumpri-las chega a ser palpável, principalmente no início do ano. No âmbito individual, comportamentos que podem impactar a sustentabilidade e o clima começam a aparecer nas listas de oportunidades e objetivos de diversas pessoas, mas é no coletivo que essas metas precisam ser cumpridas e acompanhadas em grande escala e com responsabilidade.
Várias promessas foram criadas para o ano de 2024 e os próximos anos baseados nas conferências e fóruns de clima já realizados. Vivendo ainda na sombra da COP 28, o maior evento do tema realizado em 2023, o documento oficial elaborado pela Global Stocktake, que é a responsável por sintetizar dados globais, acompanhar e verificar o progresso em relação às metas do acordo de Paris, foi bem ameno e fraco em suas promessas.
Tendo em vista a urgência que vivemos globalmente na pauta climática, o documento trouxe o principal ponto que deve estar em destaque, que é a redução das emissões de combustíveis fósseis de forma superficial, citado apenas como “redução tanto no uso quanto na promoção de combustíveis fósseis”, sem dizer como e por quais meios para fazer isso.
Acreditamos que metas possíveis de serem cumpridas, são metas claras e bem direcionadas. Se no nosso maior evento do tema, temos metas/compromissos para chegarmos 2030 e 2050, temos que pensar o papel que 2024 terá na composição dessas metas. Mas diante de objetivos tão amplos e por vezes abstratos, como podemos ser otimistas na realização desses compromissos? Como acompanhá-las? E temos tempo para abstrações nessa altura do campeonato?
Apenas com engajamento real das empresas, governo e sociedade civil é possível sonhar e viver em um cenário positivo quando o assunto é clima, por isso listamos algumas metas e áreas de compromisso que gostaríamos de ver para o Brasil na Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) e nos acordos globais de forma detalhada e desdobrada para estados e cidades.
Abaixo listamos algumas ações que podem trazer impactos positivos ainda neste ano, baseadas na ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) de número 13 – o combate às mudanças climáticas:
- A primeira, é a importância de criação de projetos e ações que ampliem a nossa resiliência e adaptação às mudanças de clima e desastres. Claro que investir em projetos que diminuam o nosso impacto no planeta no longo prazo são muito importantes, mas já temos riscos evidenciados e mapeados, problemas reais que atingem, principalmente os mais vulneráveis. Metas ligadas a reparação de infraestruturas e preparação das cidades devem ser prioridade. Nas periferias há muita oportunidade de atuação e melhorias dos espaços e serviços públicos.
- Segunda frente é mudar, ampliar, diversificar e democratizar nossa matriz de energia renovável. Esta ação é crucial para darmos andamento até o final de 2024. Vemos que esse tema tem sido uma pauta quente e uma tendência no mercado. A proposta global propõe triplicar a capacidade de energia renovável até 2030, no cenário brasileiro precisaríamos avançar em média cerca de 14,3% ao ano na capacidade instalada de energia renovável. O que se traduz em 2024 que nosso país deveria ter avançado cerca de 57,2% em relação à capacidade instalada de energia renovável atual. Um tema sensível para o Brasil que ainda possui dependência de energias não renováveis como petróleo e gás natural. Grandes indústrias ainda sãos as principais responsáveis pelo consumo de energia e água no Brasil, buscar alternativas é necessário para uma transição equilibrada.
- Nossa terceira recomendação está no campo que o Perifa acredita e se propõe a realizar em conjunto com governo e sociedade, que é a educação, comunicação e conscientização sobre o clima, principalmente focado em mulheres, jovens, comunidades locais e marginalizadas.
É preciso preparar nossa sociedade e lideranças, além de estimular a ampliação da cooperação internacional nas dimensões tecnológica e educacional, para que possamos receber apoio e financiamento. Lembrando que o Brasil será país sede da COP 30, o evento será realizado em Belém, no Pará, o que reforça a importância dessa agenda por aqui, além de termos a Amazônia, bioma essencial na mudança do clima.
Como afirmou a ministra Marina Silva “A Amazônia nos mostra o caminho, com sua imensa biodiversidade. Realizar a COP 30 no seio da floresta é nos lembrarmos, com força, da responsabilidade de manter o planeta dentro da nossa missão”.
O cenário do clima nos preocupa, o ano de 2023 foi marcado por desastres, desafios e recordes climáticos segundo Copernicus (programa da União Europeia que fornece dados quase em tempo real sobre o planeta e o meio ambiente). 2024 não deve ser diferente e já que o desafio continua e só aumenta, precisamos agir com velocidade nesta agenda.
Mais um ano chegou e queremos compromisso para realizar. Esperar um “clima novo” talvez seja a única certeza que temos se nada for feito, porém este clima não favorece a nossa vida e existência. Queremos acreditar que um novo clima é possível com um novo comportamento. Enquanto sociedade, podemos e devemos cobrar que essa agenda seja prioridade nos planos de governo e nas ações das empresas em geral.
Por aqui seguimos na luta e você, vem com a gente?