Iniciamos essa reflexão apontando a seguinte afirmação: alimentação saudável é sim um problema ambiental. Garantir alimento seguro para nossa população é garantir que nossas futuras gerações estejam vivas, saudáveis e longínquas. Porém, o debate não está apenas ligado a quem acessa alimento seguro, ou de quem tem garantido o direito de se alimentar bem. O problema que também queremos apontar é se teremos alimentos saudáveis e seguros para oferecer à população após a possível aprovação do Projeto de Lei (PL) do Veneno.
Não adianta denunciarmos que o alimento seguro e saudável não chega na mesa de todo mundo, isso já sabemos. É presente na mesa de famílias negras e periféricas o fantasma da fome, o fantasma da desnutrição, o fantasma da insegurança alimentar. O aumento do índice de insegurança alimentar marcado pelo retorno do Brasil ao mapa da fome, compõem um quadro de extrema precariedade para manutenção da vida digna de moradores de contextos vulneráveis.
Porém, enfrentamos outros problemas para além da superação da fome. A aprovação do PL do veneno proporciona uma ação do agronegócio que delibera desenfreadamente sobre o uso excessivo de agrotóxicos, gerando um problema de saúde pública que tende a piorar nos próximos anos.
O Brasil é um dos países que mais consomem agrotóxicos no mundo. O contato direto com alimentos envenenados pode impactar na vida do ser humano de diversas formas. Os problemas variam entre vômitos, dores de cabeça, irritação nos olhos, dores de estômago, náuseas, diarreia, sonolência, arritmia cardíaca e até a morte. Ainda há casos de contaminação crônica com sintomas ou doenças que causam sequelas longínquas proporcionando o surgimento de paralisias, câncer e outros efeitos colaterais.
No contato com a vida animal os danos dos agrotóxicos são tão devastadores quanto na vida dos humanos. Esses produtos vendem a ideia de um extermínio de ‘pragas’, porém, prejudicam o equilíbrio de espécies importantes para a biodiversidade. Em 2019 o pesticida (ou “defensivos agrícolas?”) Fiproni foi responsável pela morte de mais de 500 milhões de abelhas e está proibido em parte da União Europeia.
Outro problema latente é a poluição da água. Os agrotóxicos são hidrossolúveis e afetam a biodiversidade aquática. Contaminam os lençóis freáticos, que consequentemente poluem os aquíferos, e que proporciona a chegada da água contaminada no consumo dos seres humanos e dos animais. Ou seja, o uso desses produtos afeta espécies que estão no topo e na parte mais inferior das cadeias alimentares, ocasionando um desequilíbrio de todo o ecossistema.
Vale ainda salientar que precisamos traçar estratégias para superar o avanço das plantações de monocultura. O avanço dessa forma de cultivo é a principal causa do desmatamento de diversos biomas no país. A maior parte dessa plantação, especialmente milho e soja, são para produções de ração animal e de alimentos ultraprocessados. Estamos envenenando alimentos para nosso consumo e para animais que são alimentos da nossa população.
Como disse anteriormente, devemos nos ater a uma outra preocupação que gira em torno do PL do Veneno. Não adianta o PIB do Brasil crescer, a economia se desenvolver e até a desigualdade social acabar. Enquanto nossa população continuar sendo envenenada, as futuras gerações não estarão aqui para ver o Brasil que sonhamos pois estão acamadas em um hospital ou mortas por envenenamento alimentar.
Pensar novas formas de plantio e cultivo de alimentos é uma pauta urgente para combater as emergências climáticas. Gerar consciência socioambiental é mirar nos princípios de coexistência dos nossos povos originários. É pautar princípios agroflorestais que nos ajude a entender que todos somos natureza!
***Este conteúdo é uma coluna de opinião que representa as ideias de quem escreve, não do veículo.