Com a chegada do mês de junho, as ruas do estado do Maranhão se enchem do colorido das apresentações de ‘Bumba Meu Boi’. São mais de 90 grupos dedicados a esta arte em atuação na região metropolitana de São Luís. Um deles é o Boi de Nina Rodrigues, fundado e comandado pela artesã Concita Braga. “Tenho uma história de amor com o meu boi”, diz ela sobre o grupo com mais de três décadas de existência.
Pertencente ao sotaque de orquestra, que usa instrumentos de sopro e cordas, o Boi de Nina Rodrigues perpetua a tradição cultural maranhense. “Desenvolvemos o resgate cultural através da música, da poesia e da arte, na perspectiva de não deixar morrer a história e a cultura popular”, afirma Concita.
A tradição do ‘Bumba Meu Boi’ mistura elementos da religiosidade católica e da cultura indígena para celebrar a devoção aos santos juninos. Através de danças e cantos, os grupos contam a história da morte e ressurreição do Boi, com personagens centrais como o Amo do Boi, Pai Francisco, Mãe Catirina, Índios, Vaqueiros e Cazumbás.
Os grupos são classificados por sotaques: matraca, zabumba, orquestra, costa-de-mão e baixada. Cada um deles tem suas especificidades quanto a ritmos, instrumentos, dança e personagens.
Por sua multiplicidade de matrizes culturais, o Complexo Cultural do Bumba meu boi do Maranhão foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade em 2019.
Pertencente ao sotaque de orquestra, que usa instrumentos de sopro e cordas, o Boi de Nina Rodrigues perpetua a tradição cultural maranhense. “Desenvolvemos o resgate cultural através da música, da poesia e da arte, na perspectiva de não deixar morrer a história e a cultura popular”, afirma Concita.
‘Resistindo e lutando por um pavilhão’ – Nascida no município de Nina Rodrigues, Concita Braga decidiu criar um grupo de bumba meu boi após realizar uma pesquisa sobre as tradições culturais de sua comunidade. Além de Boi de Nina Rodrigues, o grupo também é conhecido como “Brilho da Balaiada”, em referência à uma revolta popular contra a miséria e opressão ocorrida no município entre 1838 e 1841.
Ao longo de mais de três décadas de trajetória, o grupo gravou CDs e vinis, colaborou com cantores maranhenses e se apresentou em diferentes estados do país, incluindo participação em ala na escola de samba Beija-Flor de Nilópolis, do Rio de Janeiro (RJ), em 2012.
Hoje, o grupo realiza seus ensaios na capital maranhense, e apesar das apresentações acontecerem em junho e julho, o trabalho dura o ano todo. Concita relata que os preparativos começam logo que acaba o São João, com etapas de criação dos desenhos e bordados, além da escolha por cores, homenageados e seleção de integrantes. A fundadora está presente em todo o processo, atuando como artesã, compositora e coreógrafa.
Pouco antes do São João, são realizados os ensaios abertos por meio do projeto Nina nos Bairros, que tem o objetivo de levar a apresentação para comunidades distantes do centro da capital. “O meu propósito é chegarmos até as comunidades distantes e contar a nossa história, através da dança, da alegria e do amor que temos em fazer cultura. É o momento pré temporada junina e nós confraternizamos com o povo que vive nos bairros e não tem como assistir um espetáculo do Boi de Nina Rodrigues”, afirma.
Mais de 160 brincantes, como são chamados os integrantes, compõem o Boi de Nina Rodrigues. A maioria é de mulheres, “meninas comprometidas com a cultura”, pontua a fundadora. Grande parte dessas mulheres interpretam as “índias” do bumba meu boi, personagens que simbolizam tribos indígenas maranhenses.
Concita Braga se orgulha de estar à frente do Boi de Nina Rodrigues e participar de todas as etapas de criação do espetáculo. “Ter uma mulher resistindo e lutando por um pavilhão é muito importante para a nova geração”.