Em 2016, pela primeira vez, meu filho foi tragado pelo clima consumista do Dia da Criança, escreve a jornalista do Viagem, do Estadão, Mônica Nobrega. “Até o último instante achei que conseguiria distrai-lo como vinha fazendo a vida toda. Mas ele nos pegou de surpresa a bordo de uma inabalável certeza de que abriria algum pacote no malfadado dia do incentivo ao consumismo infantil. Então me vi na véspera da data na seção de brinquedos de um supermercado, à procura do carrinho de controle remoto de Star Wars que o menino afirmava querer.
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Uma vez em casa, o tal carrinho funcionou por 20 minutos e pifou. Juro, sem exagero, 20 minutos. Ainda olho com raiva para o pedaço de plástico esquecido na caixa de brinquedos. Foram 79 reais desperdiçados, e mais lixo despejado no planeta.
Desde então venho pensando em alternativas ao presente vazio de dia da criança. Quero um jeito de presentear que mostre ao meu filho a riqueza que é ampliar o nosso conhecimento do mundo e a nossa tolerância. Um presente viajante, que até pode incluir abrir pacotes. Mas que sejam pacotes recheados de significados.
As ideias a seguir são as que pretendo adotar nos próximos anos. Conto à medida que forem dando certo (ou errado). E se você tiver dicas, sugestões e exemplos, vou adorar saber – é só escrever para o e-mail viagem.estado@estadao.com.
CAÇA AO PRESENTE
Uma trilha em família, com duração e nível de dificuldade adaptados à idade da criança, pode virar uma caça ao tesouro. Um adulto leva o presente na mochila e esconde no ponto final da trilha, na chegada. Durante a caminhada, propõe desafios – fotografar cinco flores de cores diferentes, comer um fruta colhida direto do pé, procurar um passarinho verde com binóculo…
Minha sugestão para a brincadeira é a trilha da Praia do Sono, em Paraty. Ela começa na Vila do Oratório, ao lado do condomínio Laranjeiras (pegue o ônibus 1040 na rodoviária de Paraty), tem cerca de 4 quilômetros e leva em média 2 horas, com algumas subidas – só a primeira delas é realmente puxada. Para melhorar, fiquem uma noite na vila de pescadores da Praia do Sono; no site praiadosono.com há opções de chalés simples para alugar. Voltem a Paraty de barco.
BRINQUEDO-ARTE
Os bons museus do mundo têm lojas tentadoras para adultos e crianças. Uma infinidade de opções de quebra-cabeças, livros, jogos de tabuleiro e de armar, caixas de tinta e lápis de cor, cadernos, camisetas, bonecos e fantoches, tudo inspirado nas obras de arte do acervo. Elas podem ser um interessante estímulo extra para despertar o interesse da criança pelas exposições se você propuser, por exemplo, um jogo de escolher quadros e esculturas favoritos e dar aos pequenos o direito de comprar um brinquedo alusivo a tais obras.
As lojas do MoMA, em Nova York, da Art Gallery of Ontario, em Toronto, da Fundação Joan Miró, em Barcelona, e do Quarteirão dos Museus, em Viena, são cheias de presentes legais. No Inhotim, na região metropolitana de Belo Horizonte, a criança pode comprar sementes de espécies que viu nos jardins do instituto e vasos para plantá-las.
INCENTIVO À TROCA
É promessa de ano-novo esta que faço agora, três meses antes: vou incentivar meu filho a levar um brinquedo legal, mas que não queira mais, a cada uma de nossas viagens daqui para frente. Nosso objetivo será trocar o brinquedo pelo de alguma criança que ele conhecer pelo caminho, de modo que os dois fiquem felizes e voltem para casa com boas lembranças um do outro. Ainda não sei bem como fazer isso, mas quero tentar.
HISTÓRIAS DE LONGE
Esta ideia coloco em prática há tempos. Sempre que viajo, com ou sem filho, compro para ele um livro bem bonito, ricamente ilustrado, que mostre aspectos do lugar – animais, fábulas, personagens fantásticos, natureza – e que seja escrito no idioma local. Assim, ao voltar para casa, continuamos aprendendo juntos sobre outros lugares, línguas e jeitos de estar no mundo.
Em tempo: meu filho gosta muito do livro Baby Animals of the North, sobre filhotes do Alasca e do Ártico, que comprei em uma loja de souvenirs em Ketchikan. Quanto ao carrinho de Star Wars, nunca mostrou interesse nem mesmo em consertá-lo.”
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