Brasil, país de dimensão continental, localizado na América Latina. Muitas vezes caracterizado como país emergente, em desenvolvimento, de soft power (poder brando) e para os menos utópicos e mais realistas, a periferia do mundo.
Mas dizem que as soluções estão nas periferias, não é mesmo?
E foi com o discurso de enfrentamento às desigualdades sociais, fortalecimento de uma economia inclusiva e combate às mudanças climáticas que o presidente Lula foi aos poucos, reposicionando o Brasil, fortemente criticado pelos ideais negacionistas de Jair Bolsonaro, último presidente, como ator relevante e de influência global no cenário internacional.
E como parte da retomada do protagonismo global, este ano o Brasil sediará a famosa reunião da Cúpula do G20, que reúne as 20 maiores economias do mundo na cidade do Rio de Janeiro, que historicamente foi palco das maiores conferências globais sobre meio ambiente e mudanças climáticas, como a ECO-92 e a Rio 2012.
Os países que compõem o grupo discutem iniciativas econômicas, políticas e sociais, fazendo parte do principal fórum de cooperação econômica internacional.
Neste ano, as discussões do G20 terão como prioridade o tema de governança global em torno das questões econômicas e diplomáticas do planeta. De acordo com o Ministério de Relações Exteriores, a agenda do Brasil trará o combate à fome, pobreza e desigualdade; promoção do desenvolvimento sustentável e reforma da governança global. Além disso, é de interesse dos países-membros a encaminhamentos relacionados aos conflitos no Oriente Médio e a ofensiva russa contra a Ucrânia.
Mas qual é o impacto destes temas nas comunidades periféricas?
Todas essas discussões me fazem recordar da época da faculdade, onde os debates sobre idealismo e realismo ocorriam de maneira fervorosa nas dinâmicas em grupo. Alguns estudantes diziam que num mundo de guerras, hard power e luta por hegemonia, não há espaço para temas como meio ambiente, sustentabilidade e até mesmo, o fortalecimento da democracia. Já aqueles que simpatizavam mais com o idealismo, defendiam que são esses temas que vão guiar a humanidade rumo ao progresso e desenvolvimento com um todo.
Pois bem, às vezes sinto que a sociedade global está transitando por esses dois mundos distintos. No mundo realista, há pouco espaço para o diálogo, consenso e multilateralismo, sendo que as ideias são implementadas a forças e prevalecem a vontade dos mais poderosos. Por outro lado, no mundo dos idealistas, há a abertura para o imaginar, sonhar com um mundo a partir da utopia, mas com poucas práticas efetivas.
Hoje, mais madura e consciente da lógica dominante nos espaços de poder, entendi que o Brasil adota uma postura realista otimista, isto é, nossos governantes estão conscientes da batalha de poder que acontece pelo mundo e se posicionam com inteligência e de maneira crítica, mas não deixar de adotar uma postura esperançosa, sonhadora e otimista em relação ao futuro.
Tal postura pode ser vista nas preparações para a COP 30, na qual Belém foi escolhida de maneira ousada para sediar a maior conferência ambiental do mundo. Tanto a COP quanto o G20 são possibilidades estrategicamente escolhidas para posicionar a nação brasileira como ator relevante dentro do sistema internacional, adotando uma postura amigável, diplomática e ambiciosa frente aos desafios que atravessam a sociedade contemporânea.
Querido leitor, na minha visão isso não é fruto de um idealismo infundado e ingênuo, mas faz parte da estratégia de poder que o atual governo adotou para voltar a ter influência nas grandes decisões globais e cristalizando a posição do Brasil como país que deve ser consultado, admirado e respeitado.
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