Muitos motoristas brasileiros estão trocando a propriedade do carro por aplicativos de aluguel. Outros estão compartilhando os próprios veículos com esses serviços
Dois anos depois de vender o carro para se locomover por São Paulo de bicicleta, o administrador de empresas Victor Brasil, de 31 anos, voltou a recorrer ao transporte motorizado. Só que em vez de bancar os custos de um veículo próprio, optou pelo compartilhado. Três vezes por semana, para ir e voltar dos treinos de triatlo, ele aluga um carro por hora. “Às vezes, pego o carro para ir rapidinho ao supermercado, já que não dá para carregar sacolas na bicicleta.” Entre as empresas que oferecem esse tipo de serviço no Brasil, um exemplo é a Moobie. Ela tem 150 mil pessoas cadastradas e 7 mil carros para locação, dos quais 600 estão ativos. “O car sharing [compartilhamento de carros] ainda é pequeno no Brasil, mas vem sendo acelerado”, diz Tamy Lin, que fundou a Moobie no ano passado. A startup atraiu investidores-anjo que vão liberar R$ 15 milhões em 2019 para a ampliação de operações. Um produto de entrega de carros na residência do cliente testado. (Reportagem: Cleide Silva)
Em 2018, o paulistano passou, por dia, duas horas e quarenta e três minutos em trânsito. O tempo médio gasto nos deslocamentos diários representa mais de 11% de uma jornada
• COMO FUNCIONA: o compartilhamento de automóveis segue uma lógica parecida com a de aluguel de bicicletas, em que é possível pegar o veículo em um ponto e deixar em outro, com o uso de um aplicativo.
• QUEM OFERECE: no mundo, esse mercado já chamou a atenção de grandes montadoras. No Brasil, são as pequenas empresas, em geral startups, que dominam o serviço – elas têm 8 mil veículos e 230 mil usuários cadastrados, a maioria em São Paulo.
• NOMES: os números de usuários e frota foram fornecidos por sete das oito empresas que prestam o serviço atualmente: Moobie, Olacarro, Target, Turbi, Urbano, Vamo e Zazcar.
• OS CARROS: geralmente, as empresas dispõem de frota própria ou fazem a intermediação de pessoas que colocam seus carros para alugar. Toda a transação é online.
• NO MUNDO: nos EUA, na China e na Europa, o chamado car sharing está em expansão. A consultoria internacional Frost & Sullivan calcula que há mais de 7 milhões de usuários desse serviço no mundo, número que deve ser triplicado em até cinco anos.
• MODO ALTERNATIVO: o crescimento do serviço vem do desejo dos usuários de usar meios alternativos de mobilidade e de preocupações ambientais – os veículos compartilhados nos EUA e na Europa são, na maioria, elétricos e híbridos.
• É MAIS BARATO: outro grande atrativo é a redução de custos com transporte – o que inclui a compra do automóvel, estacionamento, seguro, combustível e manutenção. Quem for desapegado não sofre.
• AIRBNB: o aposentado Paulo Roberto Silva, de 73 anos, colocou seu Renault Sandero à disposição da plataforma Moobie. “É uma forma de obter uma receita extra”, diz ele, que ganha em média R$ 1 mil por mês ao alugar seu carro de uma a três vezes por semana.
• O FUTURO DA MOBILIDADE: um estudo recente da consultoria PwC prevê que, até 2030, um em cada três quilômetros de tráfego no mundo será rodado em veículos compartilhados. “É um conceito que veio para ficar e a tendência é de se expandir no Brasil”, diz Marcelo Cioffi, sócio da PwC no País.
• DESAFIOS: por ora, a mudança de hábito e a implementação. “Precisa de um programa que monitora e libera veículos pelo smartphone, faz o faturamento e tem segurança contra fraudes e roubos”, diz Cioffi.
• PIONEIRA: a primeira empresa no Brasil a desenvolver sistemas para compartilhamento de carros foi a Zazcar. Ela lançou o aplicativo há apenas dois anos e tem 15 mil inscritos e uma frota de 130 Ford Ka em mais de 100 estacionamentos, onde são retirados e devolvidos.
• POLÍTICAS PÚBLICAS: Lucas Bittar, da Target, defende a participação do governo nos projetos de compartilhamento, a exemplo do que ocorre em Londres. “No centro da cidade, o carro compartilhado não paga pedágio.”
VEJA TAMBÉM
- Mobilidade urbana: quem olha pelos pedestres?
- Pequeno manual de convivência
- Por uma cidade mais humana e feliz