Inovação, tecnologia e serviços mudam a cara dos bancos, que estão cada vez mais voltados para os clientes. Apresentamos aqui um panorama deste momento transformador (e do que vem por aí). A reportagem é do Estadão
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COMPETIÇÃO A proliferação dos bancos digitais tem feito o setor financeiro nacional viver em ebulição. Entram na competição desde fintechs europeias, como a alemã N26 e a inglesa Revolut, até o maior banco brasileiro de investimento, o BTG Pactual. Empresas que começaram apenas com meios de pagamento, como o Nubank, avançam para uma nova fronteira que pode transformá-las em bancos de verdade: o crédito pessoal.
MÉDIO PORTE Bancos antes classificados como de médio porte, como Inter e Bonsucesso (BS2), agora são digitais. Foi justamente a intenção de atuar nesse segmento que fez alguns dos sócios do BTG – Marcelo Kalim, Carlos Fonseca e Leandro Torres – deixarem o banco no fim de 2017 e fundarem o banco digital C6 (o leitor talvez já tenha ouvido a música de lançamento: “It’s your life”).
TENDÊNCIA 1 Analistas do setor avisam, porém, que não haverá espaço para todos e que um processo de consolidação está por vir. É difícil saber qual será o perfil dos vencedores, mas provavelmente serão muito voltados para o cliente e terão um leque amplo de produtos. Outra possibilidade é a segmentação.
TENDÊNCIA 2 “Agora, a preocupação dos digitais é construir a base de clientes. Por enquanto, há um jogo de rouba monte (por correntistas), no qual os bancos tradicionais estão perdendo”, diz Ricardo Heidel, da consultoria Accenture. “Em algum momento, isso deve se estabilizar e, aí, os digitais terão de se rentabilizar.”
ENTRE OS DIGITAIS Até agora, os digitais disputam o título de sexto maior banco do País em número de correntistas, atrás de Bradesco, Banco do Brasil, Itaú, Caixa Econômica e Santander. Em maio, quando anunciou sua entrada no segmento, o BTG afirmou que esse era seu objetivo. Em conversa com o Estado, Marcelo Flora, sócio do banco, foi além: “Quero ser o primeiro. Vamos caminhar em direção ao varejo. Estamos começando atrasados, mas já vamos fazer dentro de um banco, para ganhar vantagem competitiva lá na frente”.
NA CORRIDA O banco Inter quer chegar ao sexto lugar “até o fim deste ano”. O Nubank diz que já está no posto. Oficialmente, o sexto banco em número de correntistas é o Banrisul, com 4,2 milhões de ativos. O Nubank tem 7 milhões, mas não abre quantos movimentam as contas. Já o Inter tinha 2 milhões no fim de março. No Original, que está com 1,4 milhão de correntistas ativos, há a convicção de que, até 2022, entre os cinco maiores bancos brasileiros, um ou dois serão digitais. “Os bancos mais completos e digitais de ponta a ponta serão os vencedores”, diz Raul Moreira, diretor executivo do banco.
TECNOLOGIA Os digitais têm aplicativos superiores – mais intuitivos – na comparação com os dos bancos tradicionais e várias isenções tarifárias. Para oferecer contas gratuitas, eles se beneficiam do fato de não terem custos com agências. Uma das maiores fintechs da Europa, o banco alemão N26, por exemplo, calcula que seu custo operacional por cliente seja cerca de 15% do de um banco tradicional.
MENOS É MAIS Os digitais abrem mão de algumas receitas. “Eles admitem que podem ganhar menos dinheiro, mas que, mesmo assim, vão ganhar”, diz o consultor André Leme, sócio da Bain & Company.
TRANSPARÊNCIA Quando não oferecem gratuidades, por outro lado, os digitais explicam de forma mais detalhada ao cliente o que ele está pagando. “Há uma transparência de custo: os tradicionais têm taxas difíceis de entender para quem não está acostumado”, diz Leme. O discurso reitera essa linha. “Não é que tenho de ser de graça, mas tenho de ser transparente na oferta”, afirma Eduardo Prota, responsável por trazer o N26 ao Brasil.
PRÓXIMOS PASSOS Tarifas gratuitas ou didáticas não serão suficientes para a consolidação. A ampliação da oferta de produtos, o que inclui itens mais complexos, é crucial, afirma Yran Dias, sócio da McKinsey – consultoria que já participou do desenvolvimento de mais de 50 bancos digitais em todo o mundo. “Lançar um banco digital não é um desafio”, diz Dias. “A questão está na execução e na escala. Para ganhar escala, as fintechs vão precisar financiar veículo e moradia, colocar mais produtos.”
QUATRO ITENS ALÉM DA CONTA-CORRENTE
1 PORTFÓLIO ROBUSTO
O N26 tem apenas seis funcionários no Brasil até agora. E já considera a possibilidade de ter um
portfólio robusto. “Na Alemanha, temos cheque especial e, certamente, iremos além de um cartão de crédito aqui”, diz Eduardo Prota, responsável por trazer o N26 ao País. “Não viemos para ser um concorrente pequeno.”
2 INVESTIMENTO
O C6 também pretende avançar. Já oferece CDB (Certificado de Depósito Bancário) para quem quer investir e logo deverá ter uma linha de crédito pessoal.
3 CRÉDITO PESSOAL
Nos bancos tradicionais, o crédito costuma ser uma das principais fontes de receita. Daí a importância de os digitais também estarem nessa área. Apesar de afirmar que não pretende oferecer produtos muito complexos, o Nubank [que tem cartão de crédito, débito e conta para movimentar e “guardar dinheiro”] começa a dar seus primeiros passos nessa direção. Desde fevereiro, a empresa tem um serviço de empréstimo pessoal em fase de teste. “Vamos lançar mais produtos, mas que sejam simples para o consumidor. Não queremos que ele tenha de escolher entre 50 tipos de fundo”, diz David Vélez, fundador do Nubank.
4 PONTO DE VIRADA
É na ampliação de leque de produtos que muitas fintechs se transformam em bancos de verdade. Mas é também nesse ponto que elas podem acabar morrendo. Trabalhar com análise de crédito, por exemplo, pode ser mais desafiador e complexo para quem nasceu como uma empresa de tecnologia e precisa desenvolver a área do zero. “Ser banqueiro não é ter um aplicativo bacana”, diz Miguel Santacreu, da Austin Rating. “Instituições financeiras têm risco: é preciso ter gente muito qualificada para fazer uma análise de crédito.”
Reportagem de Luciana Ribeiro Dyniewicz, O Estado de S. Paulo
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