É brincando que a criança aprende a se relacionar com o mundo. Corda; amarelinha; brincadeiras de roda; bolinha de gude; queimada; pega-pega; esconde-esconde; pedra, papel e tesoura. O que faz com que atividades assim, lúdicas, simples, gostosas e passadas de geração para geração, sofram uma espécie de apagamento? Além da – mais do que conhecida – onipresença dos eletrônicos, a violência nos centros urbanos causa medo e faz com que os pequeninos vivam a infância dentro de casa ou nos apartamentos. E entre muros de escola. Os adultos, por sua vez, também estão reféns de celulares, redes sociais, trabalho.
De certa forma, todos estão juntos, mas à parte. Tem jeito? Sim. Jogar bola e soltar bolinhas de sabão aproximam a meninada e fazem com que pais e filhos passem mais tempo juntos. Reunimos algumas ideias para inspirar famílias, educadores e o poder público. Afinal, “é preciso uma aldeia para educar uma criança”. E tem mais: como diz um pôster do documentário Tarja Branca, sobre a importância do brincar para todas as pessoas, “quando você perde a capacidade de brincar, perde a conexão com sua essência”.
Subir em árvore ajuda a formar pessoas seguras e melhora o aprendizado: estudo da Universidade de British Columbia, no Canadá, diz que não há relação entre o aumento de quedas e a altura dos brinquedos
VAMOS BRINCAR
A Rede Marista de Solidariedade, organização com ações em defesa dos direitos da criança e do adolescente, expõe em uma plataforma (vamosbrincar.com.br) uma profusão de brincadeiras tradicionais para praticar ao ar livre, em casa, nas escolas e em lugares públicos. “O livre brincar permite a espontaneidade, a criatividade e a imaginação, as escolhas e as descobertas. Mesmo com o mundo cada vez mais tecnológico e uma variedade de equipamentos eletrônicos à disposição, quando a criança decide como será a brincadeira e quais são as regras, a imaginação é estimulada e ela é incentivada a expor suas opiniões e defender suas ideias”, diz a pedagoga Viviane Aparecida da Silva, diretora educacional do grupo.
Com informações de Camila Tuchlinski
A ARTE DE BRINCAR
Os pais e as mães de hoje trabalham mais do que os do passado e muitas crianças passam o dia no colégio, que também mudou: em muitos deles a brincadeira começou a ser vista como algo supérfluo e facilmente substituído por mais aulas de inglês ou reforço em matemática. Foi por isso que a antropóloga Adriana Friedmann escreveu A Arte de Brincar, Editora Vozes. O livro apresenta uma série de brincadeiras que as crianças ainda conhecem de uma forma ou de outra e algumas que correm o risco de cair no esquecimento porque ninguém as apresentou aos nossos filhos e netos. As atividades estão divididas em “Jogos de perseguir, procurar e pegar”, “Jogos de correr e pular”, “Jogos de atirar”, “Jogos de agilidade, destreza e força”, “Brincadeiras de roda”, “Jogos de faz de conta” e por aí vai. Folhear a Arte de Brincar é, para os adultos, uma viagem no tempo. Para as crianças, pode ser um mundo de descobertas.
Com informações de Rita Lisauskas
FILMES IMPORTANTES
O COMEÇO DA VIDA
O filme mostra a importância dos primeiros anos de vida de uma criança. Durante três anos, a diretora Estela Renner viajou a nove países, em busca de histórias. “Quisemos costurar uma manta de sentimentos universais”, disse Estela. A montagem mostra famílias ricas e pobres, do Brasil, da Europa, da África, da Ásia – unidas pelo desejo de dar às crianças o que elas precisam: amor. Mas como, em um mundo tomado por individualismo, escassez de tempo, pobreza e violência? Opiniões de especialistas renomados engrossam a discussão, na intenção de mostrar um caminho neste objetivo comum. (Bruna Ribeiro) Inf.: ocomecodavida.com.br/filme-completo
TARJA BRANCA
Belíssimo filme que trata do direito e da necessidade de brincar. Tarja Branca – A Revolução Que Faltava começa de mansinho, falando de crianças. Elas brincam diante da câmera do cineasta Cacau Rhoden e os adultos viajam no tempo, lembram das crianças que foram, das brincadeiras que faziam. Concluem que com brincadeira a vida fica melhor. Brincar vira uma ação ancestral desenvolvida pelo homem, para se conhecer melhor e se relacionar com o mundo. (Luiz Carlos Merten) Inf.: mff.com.br/films/ tarja-branca
TERRITÓRIO DO BRINCAR
Descrito no site oficial como “um trabalho de escuta, intercâmbio de saberes, registro e difusão da cultura infantil”, o programa Território do Brincar é desenvolvido pelos documentaristas Renata Meirelles e David Reeks em parceria com o Instituto Alana. Renata e David visitaram “comunidades rurais, indígenas, quilombolas, metrópoles, sertão e litoral”, a fim de registrar a espontaneidade do brincar pelo Brasil. Além deste longa-metragem, o programa é vivo e continua em ação. Ele contém vários produtos culturais, como livros, séries de TV e outros filmes. Inf.: territoriodobrincar.com.br/o-projeto
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