Todo mundo acha que vai ser o próximo Steve Jobs. Meu livro fala que as pessoas estão assumindo riscos que elas desconhecem, diz Star, em entrevista ao Estado
ENTREVISTA
STAR, AUTOR ANÔNIMO DE ‘ESTE LIVRO NÃO VAI TE DEIXAR RICO’
Este livro não vai te deixar rico. Direto e com a proposta de combater o que chama de “empreendedorismo autoajuda e conhecimento superficial”, o criador anônimo do perfil de Twitter Startup da Real apresenta, logo na capa de seu recém-lançado livro, a mensagem que há dois anos leva a mais de 44 mil seguidores. Conhecido nas redes sociais como Star, o dono do perfil preza pelo anonimato em nome de uma “purificação da discussão”. Confira trechos da entrevista concedida à repórter Marina Dayrell, do Estadão PME. Leia o texto completo no site do Estadão.
• O que as pessoas sabem sobre você?
Não sabem nada do meu nome, onde moro, onde trabalho, qual a minha profissão, mas sabem que sou casado, que minha esposa é médica, que trabalhei com programação, que fui consultor de tecnologia, que estudei fora do País. Tive de mostrar o quanto eu fui privilegiado a vida inteira para poder escrever um livro que vendeu bastante.
• Você não acha que o anonimato pode levar o público a não acreditar em você?
Eu acho que o argumento precisa se sustentar sozinho. Se eu digo que é fácil ficar rico, esse argumento tem que ser verdadeiro sozinho. Ninguém sabe o que aconteceu comigo, eu posso ter uma vida boa e falar que foi assim que eu fiquei rico, mas ninguém sabe se eu ganhei na loteria, se minha família é rica. Tirar a realidade pessoal e deixar o argumento trabalhar sozinho acho que é o melhor caminho.
• O que te deu bagagem para falar de empreendedorismo?
Eu tive uma empresa de tecnologia, depois eu montei uma marca de roupas e foram coisas bem simples que tiveram retorno. Mas fui para fora e fiz um curso de empreendedorismo. Eu vi os argumentos caindo por terra. Tudo o que eu falo no livro e na internet eu via todos os dias. Não sou um visionário. Eu só fui a pessoa que parou e perdeu tempo para falar disso.
• O seu objetivo é que as pessoas não empreendam?
Não! Principalmente porque as pessoas precisam fazer a vida acontecer e uma das formas de fazer isso é empreendendo. O meu problema é o empreendedorismo como uma forma de alcançar a felicidade, como é vendido. Se você tem um emprego ruim, vai empreender. Se você está insatisfeito, se quer ser feliz, vai montar um negócio. Não é assim (…). Não é para não empreender, é para botar o pé no chão.
• No livro você critica o “empreendedorismo de palco”. Por quê?
Esse discurso de que ‘você precisa empreender’ pode ferrar um cara que pediu demissão, pegou o FGTS, gastou tudo em um negócio e foi à falência.
• Qual seria o caminho para quem quer empreender?
Eu acho que o que é vendido vem carregado de otimismo exagerado. A pessoa que quer empreender tem que olhar para o lado técnico. Estudar administração, olhar para o marketing, ver como se estuda mercado e como mede o ganho de investimento em cima de uma campanha. Tudo o que o cara precisa para ser um empreendedor de verdade é técnico.
• Você diz que sua história não é exemplo de meritocracia.
Eu abri minha primeira startup com um amigo em 2007, a gente se deu mal. Eu saí, tinha meu trabalho, tinha o meu salário, pedi demissão, fui estudar fora. Eu tinha um FGTS gigantesco que me sustentou por cinco anos. Estudei filosofia, fiz faculdade de física, tinha uma esposa que era professora concursada, então ela poderia segurar a onda se a gente falisse. Montei uma marca de roupa, estudei, meu avô era programador, eu aprendi a programar quando criança. Eu tive um passado privilegiado, mesmo que depois minha família tenha quebrado e a gente tenha ido morar em um bairro pobre. Mas a minha base já estava muito bem construída e isso tudo fez muita diferença. Todo o livro é só um retrato do meu privilégio.
• Você considera o Startup da Real um empreendimento?
Ele virou, né. Eu posso dizer que ele é um negócio, eu ganho com ele o tanto que ganho de salário. Ele me dá dinheiro porque me consome tempo, eu viro madrugadas produzindo conteúdo, eu tenho conteúdo semanal exclusivo para assinantes. Então ele é um negócio. Mas começou sem a menor pretensão e amanhã as pessoas podem não gostar mais do que eu falo e parar de pagar. E ele vai sumir como qualquer outro negócio.
Se você chegar e matar o seu trabalho por um negócio que você não sabe se vai dar certo e que, se não der certo, você vai passar fome, não funciona
• Não acredita que para empreender precisa se dedicar apenas a isso?
Eu acho que é totalmente o oposto. Você está no seu trabalho e quer empreender? Usa uma hora do seu dia, tira o domingo para isso. Está dando certo? Vai investindo tempo, vai testando. Porque, se você chegar e matar o seu trabalho por um negócio que você não sabe se vai dar certo e que, se não der certo, você vai passar fome, não funciona.