O que é o fenômeno de esgotamento profissional e o que ele provoca na saúde mental e física, como dor de cabeça e desânimo
A síndrome de burnout foi incluída na Classificação Internacional de Doenças da OMS. A nova lista passa a valer em 2022. Nela, a síndrome é classificada não como como uma doença e sim um fenômeno ligado ao trabalho e que afeta a saúde
O que Rafaela teve foi um esgotamento profissional, a síndrome de burnout – que foi incluída na próxima edição da Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS). A condição entrou no capítulo de “problemas associados” ao emprego ou ao desemprego e descrito como “uma síndrome resultante de um estresse crônico no trabalho que não foi administrado com êxito”.
“Embora o burnout represente um nível exacerbado de estresse, as pessoas continuam em seus postos de trabalho pelo medo do desemprego. Um trabalhador nesse estado está mais propenso a cometer erros graves”, comentou Ana Maria Rossi, psicóloga e presidente do Isma- -BR, representante da International Stress Management Association. Para Ana, a decisão da OMS terá um efeito prático. “Pode dar um embasamento maior para os juízes decidirem questões trabalhistas relacionadas com a saúde mental.” Entenda o problema.
BRASIL 72% dos brasileiros no mercado de trabalho sofrem alguma sequela do estresse 32% deles sofrem de burnout 92% das pessoas com a síndrome continuam trabalhando FONTE: ESTUDO DA ISMA-BR
O QUE É BURNOUT?
É um quadro de esgotamento profissional caracterizado por três sinais clássicos: 1) esgotamento físico e psíquico (a sensação de não dar conta das tarefas); 2) indiferença e perda de personalidade (não se importar mais com o próprio desempenho profissional, cinismo e apatia); e 3) baixa satisfação profissional. “Os primeiros sintomas podem ser físicos, como dor de cabeça, dor de coluna e distúrbios musculares”, diz a coordenadora do Serviço de Psicologia e Experiência do Paciente do Hospital Israelita Albert Einstein, Ana Merzel Kernkraut.
QUAIS SÃO AS CAUSAS?
O quadro está associado a fatores de estresse crônicos no ambiente de trabalho, como longas jornadas, pressão e alta competitividade, entre outros. Segundo o Ministério da Saúde, a síndrome é comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades constantes, como médicos, enfermeiros, professores, policiais, jornalistas etc.. “Não é algo que acontece após um ou outro dia de trabalho estressante. É um quadro que vem de uma rotina constante de estresse ao longo da vida profissional”, explica João Silvestre da Silva Junior, diretor da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamat) e perito médico do INSS. Segundo Silva Junior, cerca de 20 mil brasileiros pedem afastamento médico por ano por doenças mentais relacionadas ao trabalho.
COMO TRATAR?
Principalmente com psicoterapia. Pode envolver medicamentos (antidepressivos e/ou ansiolíticos). Em alguns casos, o tratamento requer afastamento temporário do emprego e também mudanças nas condições de trabalho.
COMO PREVENIR?
Algumas condutas reduzem o risco, como negociar limites de trabalho e de jornada e dedicar-se a outras atividades além do trabalho (exercícios físicos, relacionamento e convívio com pessoas queridas, atividades de lazer etc..) Também é importante evitar jornadas excessivas com frequência, alimentar-se bem e tentar dormir cerca de oito horas diárias.
SINTOMAS
• cansaço excessivo (físico e mental)
• dor de cabeça frequente
• alterações no apetite
• insônia
• dificuldade de concentração
• sentimentos de fracasso e insegurança
• negatividade constante
• sentimentos de derrota, desesperança e incompetência
• alterações repentinas de humor
• isolamento
• fadiga
• pressão alta
• dores musculares
• problemas gastrointestinais
• alteração nos batimentos cardíacos
Reportagem de Gilberto Amendola, O Estado de S. Paulo