Não dá para se queimar como se não houvesse amanhã: a radiação ultravioleta é a maior causa de câncer de pele. Conheça as características dos principais subtipos da doença, além de prevenção, riscos e tratamentos que estão dando certo
TIPOS DE CÂNCER DE PELE
Há quatro tipos principais de câncer de pele e todos, quando diagnosticados cedo, têm grande chance de cura. O mais comum é o carcinoma basocelular, seguido pelo escamoso. O melanoma e o de células de Merkel são agressivos, só que menos comuns.
DEZEMBRO LARANJA
A campanha é promovida pela Sociedade Brasileira de Dermatologia há seis anos. O objetivo é informar a população sobre prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer de pele, a fim de reduzir o número de casos.
• Carcinoma basocelular (não melanoma): raramente se espalha pelo corpo, mas pode crescer muito e produzir importante efeito estético se nascer, por exemplo, na ponta ou na asa do nariz ou muito perto dos olhos.
• Carcinoma escamoso (não melanoma): raramente atinge outros órgãos, mas ocasionalmente se espalha para canais linfáticos e chega aos linfonodos que drenam a região do tumor. Esse processo é mais comum em quem faz tratamento para deprimir o sistema imune.
• Melanoma: é o mais agressivo. Menos comum do que o basocelular e o escamoso, tem potencial para atingir linfonodos e chegar a outros órgãos pela corrente sanguínea.
• Carcinoma de células de Merkel: é ainda mais raro que os demais, agressivo e com potencial para se espalhar e voltar. A imunoterapia tem apresentado bons resultados, aumento da sobrevida e até cura em alguns casos.
A estimativa atual é de surgimento de mais de 165 mil casos de câncer de pele não melanoma no País – 85 mil homens e 80 mil mulheres. A boa notícia é que ele tem alto índice de cura, se for descoberto e tratado precocemente
CAUSAS
• Mais de 90% dos casos de câncer de pele são causados pela exposição aos raios ultravioleta do sol.
• A exposição crônica diária (pequena quantidade de sol nas áreas expostas durante muitos anos de vida) e a exposição intensa e intermitente (prolongada, desprotegida e que causa queimadura) estão diretamente relacionadas ao aumento do risco de desenvolver da doença.
• Estudos demonstram a redução da incidência (até mesmo de melanoma, o tipo mais agressivo) com o uso de protetor solar o tipo mais agressivo.
Fonte: Elimar Gomes, dermatologista, coordenador do grupo de dermatologia do Centro Oncológico da Beneficência Portuguesa de São Paulo e da campanha Dezembro Laranja, membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e do Grupo Brasileiro de Melanoma
INCIDÊNCIA
• O câncer de pele é mais comum em pessoas com mais de 40 anos.
• A constante exposição de jovens aos raios solares tem diminuído essa média de idade dos pacientes.
• O tumor é raro em crianças e negros, exceto em quem já tem doenças cutâneas.
• São mais atingidas as pessoas de pele clara, sensíveis aos raios solares e com história pessoal ou familiar de câncer e outras doenças de pele.
PASSO A PASSO PARA DESCOBRIR E TRATAR
1. O primeiro passo quando há suspeita de câncer de pele é providenciar um diagnóstico bastante claro e completo.
2. É preciso fazer uma biópsia que envolva toda a pinta.
3. É preciso pesquisar o linfonodo sentinela, que avalia gânglios próximos.
4. Com o diagnóstico positivo, a próxima discussão será sobre a cirurgia definitiva e se existe tratamento complementar.
5. Para quem já tem gânglios comprometidos, é considerada – caso a caso – a possibilidade de fazer tratamentos antes da cirurgia.
6. Nesses casos, gânglios palpáveis costumam se beneficiar da terapia feita antes do tratamento principal. Ela pode reduzir o tumor e melhorar a chance de cura.
7. O uso de imunoterapia, terapia-alvo e vários remédios têm sido testados.
Fontes: Instituto Nacional de Câncer (Inca); Rafael Schmerling, oncologista e membro do comitê científico do Instituto Vencer o Câncer (Ivoc)
TRATAMENTOS
NÃO MELANOMA
O tratamento para o câncer de pele não melanoma (basocelular e escamoso) é basicamente cirúrgico. O objetivo é remover o tumor e conseguir deixar as margens da cirurgia sem a doença. Assim, o paciente está praticamente curado. A técnica de Mohs tem grande precisão e controla as margens de maneira especial. Reduz muito o risco de recorrência e é importante especialmente em áreas mais complicadas, como próximo do olho e do nariz. Se o tumor voltar, o tratamento pode ser sistêmico (o corpo todo), por radioterapia e/ou cirurgia.
O câncer de pele não melanoma é o mais comum. No mundo, está em 5º lugar em incidência, atrás de pulmão, mama, colorretal e próstata. No Brasil, porém, ele é o mais incidente e representa 30% dos casos. Os dados são da OMS e do Inca
MELANOMA
Depende do estágio:
• Se for inicial e localizado, a cirurgia remove o tumor com margens livres. Depois, a depender do risco de voltar, é possível fazer imunoterapia ou terapia-alvo. Se o paciente apresentar metástases grosseiras nos linfonodos, a cirurgia está indicada. Mas o oncologista também vai discutir um tratamento sistêmico antes do procedimento, porque o risco de o câncer voltar é muito elevado.
• Se for avançado, a situação é mais delicada. Mas há medicamentos promissores para melanoma metastático, como quimioterapia, terapia-alvo ou imunoterapia.
CARCINOMA DE MERKEL
É um tipo de câncer de pele mais raro, só que bastante agressivo. A imunoterapia tem apresentado bons resultados: na Reunião Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica de 2018, as atualizações demonstraram que um terço dos pacientes com casos avançados continuam com o câncer controlado por quatro anos – no passado, essas pessoas morreriam em menos de um ano.
MAIS SOBRE IMUNOTERAPIA
A evolução da imunoterapia tem trazido enorme avanço no tratamento de melanoma (o tipo mais grave) e também em outros tipos de câncer. “Na década de 1990, conseguíamos cura em torno de 5%”, diz o oncologista Antonio Buzaid, um dos fundadores do Instituto Vencer o Câncer. “Por volta de 1995, tudo mudou com a descoberta de novos medicamentos que evitavam a pausa que é realizada pelo organismo para ‘esfriar’ o sistema autoimune – com o sistema funcionando por mais tempo, estudos demonstraram que seria possível fazer regredir os tumores.” O avanço estendeu a cura progressivamente de 5% para 20%. Os casos de evolução sem progressão, com pacientes bem por quase cinco anos, ficaram entre 30% e 40%. Clique aqui e veja mais sobre os avanços da imunoterapia.
DEPOIMENTO
“Há dez anos surgiu uma pinta nas costas. A biópsia confirmou o diagnóstico de melanoma dado pelo cirurgião plástico. Fiz a cirurgia em janeiro de 2010 e, por anos, fui acompanhada por exames clínicos e de imagens com resultados negativos. Prestes a completar cinco anos de acompanhamento, apareceu um linfonodo na axila, e estava espalhando. Passei por vários tratamentos que não resolveram até entrar na pesquisa clínica do Nivolumabe [imunoterapia mais avançada]. É uma benção. No começo, sentia queimação e coceira; nada que uma bolsa de gelo não resolvesse. Às vezes, sinto fadiga e frio nas extremidades, mas tenho qualidade de vida. Faço tudo normalmente e viajo ao exterior para visitar meus netos. Estou mais forte e generosa e quero compartilhar os benefícios que recebi.”
Clio Matzenbacher de Moura, 66 anos, professora aposentada, em depoimento ao Ivoc