Iniciativas de apoio materno ganham força com home office; creche parental e startup de saúde têm alta demanda na pandemia
Com reportagem de Luana Harumi, especial para o Estadão
Iniciativas de apoio a famílias – especialmente mães – têm ganhado força na pandemia, funcionando como uma rede de suporte para profissionais angustiadas em meio às demandas do home office e dos filhos. Creches parentais, por exemplo, em que mães e pais se unem e se revezam para compartilhar o cuidado, são inspiradas em modelos surgidos na França, na década de 1960.
CASA BENJAMINA
Em um amplo quintal verde crianças interagem umas com as outras sob o olhar atento de mães, pais e cuidadoras. Essa é a proposta da recém-inaugurada creche parental Casa Benjamina, que tem espaço de coworking para as famílias.
Juntas, oito famílias alugaram uma casa na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo, e estabeleceram um sistema de separação de funções para cada pai e mãe. Por causa da pandemia, o cuidado é redobrado e a orientação é procurar não extrapolar o círculo de convivência, para evitar maiores riscos ao grupo.
A iniciativa atraiu a curiosidade de outras mães. O grupo se prepara para criar uma rede de creches parentais em outras regiões da cidade. A ideia é “vender” a estrutura de planejamento. A próxima unidade, prevista para julho, já tem pelo menos trinta mães e pais interessados.
“Foi muito importante a gente ter conseguido construir essa bolha, que ajuda muito no lado emocional das famílias”
Mariana Moraes, uma das fundadoras da Casa Benjamina
CASA B2MAMY
No Brasil, a aceleradora de negócios de mães empreendedoras B2Mamy opera, desde 2019, a Casa B2Mamy, espaço de coworking em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, onde mulheres podem trabalhar enquanto seus filhos são atendidos por monitores.
No último ano, a empresa lançou a B2Mamy e-Place, plataforma digital gratuita de cursos de capacitação para mulheres. O site já conta com mais de 4 mil usuárias e o negócio cresceu quase três vezes desde 2020, quando grande parte das mulheres que começaram a empreender nesse período fez isso mais por necessidade do que por desejo.
“Ainda não é uma decisão fácil. Foram muitas mulheres demitidas. E quando você recorta em camada social, você vê que as camadas mais altas têm uma flexibilidade maior”
Dani Junco, cofundadora e CEO da B2Mamy
BLOOM
Também durante a pandemia e com o crescimento do home office, muitas corporações puseram um olhar mais atento sobre questões familiares. A Bloom, startup de saúde, começou em 2019 a oferecer para empresas assistência digital a trabalhadoras e trabalhadores que têm ou planejam ter filhos e relata um crescimento de mais de 300% na procura pela instalação do serviço.
Se antes a família era de certa forma “invisibilizada” e separada do espaço do escritório, quando tudo se concentra no domicílio fica mais difícil os dois mundos não se encontrarem. Com o Bloom, funciona assim: por meio de um aplicativo, os pais entram em contato com uma rede de profissionais especializados, inclusive psicólogos. A startup também instrui empresas parceiras a se atentar mais a questões e necessidades familiares, especialmente por parte das mulheres.
“Com os pais e as mães dentro de casa e os filhos aparecendo nas chamadas, os desafios se acumulam: falta de escola, falta de rede de apoio. As empresas despertaram para esse desafio”
Nathalia Goulart, head de parcerias da Bloom
MATERNEWS
Com o ambiente digital ainda mais fortalecido, mães de diversas partes do Brasil têm usado esse espaço para se conectar e trocar experiências. A MaterNews, newsletter voltada para quem tem filhos que estão na chamada primeira infância, viu seu público saltar de cerca de 400 assinantes, no final de 2019, para mais de 12 mil.
A MaterNews é escrita pela mãe e redatora Lívia Piccolo e distribuída gratuitamente com patrocínio do Hospital Sabará. Em 2020, a newsletter lançou um e-book com orientações sobre coronavírus em crianças e bebês, baixado quase 10 mil vezes.
“Compartilhar a dor de outra mãe e essa mãe ver que não está sozinha gera uma identificação grande”
Alecsandra Zapparoli, jornalista fundadora da Galápagos Newsmaking, grupo responsável pela newsletter