No transporte público, a pé, de bicicleta ou no carro do aplicativo, a insegurança e o medo assombram mulheres e meninas. Janaína Dourado tem 19 anos, estuda jornalismo e mora no Campo Limpo, na zona sul de São Paulo. Aos 14, foi perseguida por um homem enquanto ia sozinha até uma biblioteca. No bairro Boca do Rio, em Salvador, Bahia, a influenciadora digital Dionísia Paiva, de 27 anos, não esquece o dia em que pediu um carro, junto com a irmã. Chovia muito e o motorista disse: “Vamos dar uma voltinha até a chuva amenizar.” Depois de várias voltas e de as duas tentarem abrir as portas do veículo, a viagem foi finalizada em casa.
Desde então, as irmãs prestam muita atenção no número de corridas efetuadas pelo profissional que vai atender a chamada, e nas avaliações feitas por outros usuários. Elas sempre dão notas aos motoristas de acordo com sua experiência. “Na correria, a gente esquece de olhar essas pontuações, mas as empresas punem quem tem baixa avaliação. É uma forma que eu encontrei de me proteger”, diz Dionísia.
Advogada com foco em direitos humanos, Simone Gallo afirma que não dá para pensar em planejamento urbano sem incluir o público feminino nas discussões. A diversidade na cadeia de soluções é fundamental. “Quando falamos de políticas de inclusão é preciso ter isso em mente e ter mais mulheres nos espaços de liderança. Só a cabeça de uma mulher que sofreu assédio ou que está sujeita a passar por ele pode pensar de forma assertiva e eficaz nessas soluções.”
PREOCUPAÇÃO EM PESQUISA Entre os dias 19 e 22 de fevereiro de 2021, a 99 ouviu 1.056 mulheres que usam aplicativos de transporte de todas as plataformas 64% das entrevistadas já foram assediadas, em média, três vezes na vida Sofreram constrangimento e/ou violência • 76% no ônibus • 25% no metrô • 16% no carro do aplicativo • 6% no táxi Têm mais medo • em lugares públicos 47% • nos transportes 40% Sentem-se mais inseguras • ao se locomover à noite 75% • em regiões violentas 66% • em ambientes lotados 61% • em locais desconhecidos 60% • no ponto de ônibus 51% O que mais importuna • olhares insistentes 39% • perguntas da vida pessoal 34% • perguntas de status de relacionamento 26% • assobios 15% • comentários sobre a aparência delas 14%
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