“Me dê licença com o seu preconceito que meu cocar vai passar”, é assim que a médica indígena Yara Ayllyn, de 33 anos, costuma falar quando entra em algum espaço onde percebe olhares estranhos e comentários ruins. Ela pertence à etnia Karipuna, localizada no extremo norte da região de Oiapoque, no estado do Amapá. De pai cacique e mãe paraense, cresceu na aldeia vendo os costumes tradicionais da família. Sua avó era benzedeira e fazia partos, isso a despertou para estudar medicina. “Na aldeia, temos o conhecimento das ervas, a ciência nas mãos, e assim curamos muitos de nós, indígenas”, diz.
Yara cursou o fundamental junto a seu povo até a quarta série, concluiu o ensino médio na cidade e passou no processo seletivo para povos indígenas da Universidade Federal do Pará (UFPA), em 2012. Foram seis anos de “muito estudo, sofrimento e aprendizado”.
A médica lembra que os aprovados naquele vestibular foram chamados de “projeto piloto”, porque formavam um grupo pré-selecionado à qualificação profissional de indígenas. Tudo era novo para ela, já que “ninguém sabia se íamos dar certo”, diz.
Na faculdade, longe da terra natal, Yara teve auxílio psicológico e participou de rodas de conversa e de reuniões com o apoio do corpo acadêmico da instituição. “O indígena entra na universidade com vários problemas, como dificuldade de se comunicar, relacionar em grupo e de expor suas hesitações”, conta a médica. Outro desafio foi distância da família. “Na época dos estudos, já tinha filhos e marido, além de uma casa para cuidar. Essa é a realidade de muitos de nós, e não temos o hábito de nos separar.”
Medicina e saúde indígena — Yara é clínica geral no Hospital Estadual de Oiapoque (AP) e atende principalmente pacientes indígenas. “Tenho um público indígena grande, que me acolhe e me vê como alguém para quem podem pedir ajuda. Sabem que, mais do que médica, os trato como família”, afirma. Mas não é fácil. A sociedade, na avaliação de Yara, ainda precisa respeitar e conhecer melhor a realidade — ela já ouviu de uma colega de profissão a seguinte frase: “Você não é médica de índio”, por causa da atenção que dá aos pacientes indígenas. Ainda assim, Yara percebe e celebra o aumento de profissionais indígenas áreas comom enfermaria, odontologia e setores educacionais. “Hoje, nós ocupamos mais espaços nas universidades e isso mudará o nosso amanhã”, diz a médica.
INDÍGENAS NO AMAPÁ + de 10 mil habitantes 9 etnias Oiapoque: 5.802 Parque do Tumucumaque: 3.043 Pedra Branca do Amapari: 1.220 Fonte: Secretaria Extraordinária dos Povos Indígenas do Amapá
INDÍGENAS NA UNIVERSIDADE 57,7 mil alunos Cursos com maior presença Direito (5.509) Pedagogia (5.064) Administração (3.189) Enfermagem (3.160) Engenharia Civil (2.074) Fonte: Censo da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), de 2018
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Parabéns pela excelente matéria!
Parabéns prima todos nós temos muito orgulho de você .
Todos sabemos que não foi fácil principalmente começa com tendo que ficar muitas vezes longe de sua família principalmente das filhotas .Mais hoje você merecer tudo que conquistou com garra e determinação e a luta continua mais você um dia vai olha pra traz e colher o frutos que você conquistou ao lado de Que mais ama que são seus pais filhas e familiares. 🙏🙌😘