A gaúcha Winnie Bueno, escritora e doutoranda em Sociologia, é leitora curiosa desde a infância. Foi incentivada pela mãe, Sandrali, e pela avó, Eli, a conhecer os mais variados gêneros. “Lia muitos autores negros, como José Emílio Braz, a coleção Vagalume e a Turma dos Tigres. Gostava de livros sobre pessoas negras, aventura e enciclopédias. Minha mãe tinha Barsa e Mirador, em que eu conhecia verbetes. Talvez por isso eu tenha me tornado pesquisadora”, diz Winnie.
Enquanto em casa educação e literatura eram exaltadas, nas escolas que frequentou, todas particulares, Winnie experimentou sentimentos contraditórios. Esses espaços, ocupados predominantemente por pessoas brancas, foram lugares de muitos conflitos raciais para ela. Questionadora, buscou reivindicar histórias ensinadas sobre negros no Brasil. E foi nas bibliotecas que se refugiou junto aos livros. “Era o lugar que eu mais gostava na escola. Um espaço em que eu me sentia acolhida e valorizada”, conta. Tudo isso pavimentou os caminhos de conhecimento escolhidos por Winnie. Doutoranda em Sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e mestre em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em 2020 publicou o livro Imagens de Controle – Um Conceito
do Pensamento de Patricia Hill Collins — a socióloga afro-americana é uma importante pensadora das questões raciais e de gênero.
A invisibilidade de experiências narradas por autoras negras na literatura brasileira é um ponto central nas discussões de Winnie. Ela ressalta a importância, para o país, de Carolina Maria de Jesus, que a partir das próprias vivências traduzia em livros a realidade de um Brasil esquecido; Esperança Garcia, que reivindicou seus direitos através da escrita; e Maria Firmina dos Reis, a primeira romancista brasileira.
Revolução nas letras — Em 2018, Winnie fez uma provocação nas redes sociais: os brancos poderiam colaborar com a luta antirracista doando livros a pessoas negras sem dinheiro para comprar. Era o embrião
de uma iniciativa que está completando três anos, valoriza a formação literária e, principalmente, democratiza a literatura: a Winnieteca é uma espécie de plataforma de conexão entre quem quer e pode a ajudar e quem deseja ler. A solicitação para doações de livros deve ser feita nas redes pela arroba @winniteca e a hashtag
#pedeumlivro.
Winnie pensa em expandir o projeto em pontos físicos pelo Brasil, criando espaços para compartilhar as experiências que a leitura proporciona.
CINCO AUTORAS NEGRAS RECOMENDADAS POR WINNIE BUENO
• Conceição Evaristo: Olhos d'Água
• Eliana Alves: Água de Barela
• Cidinha Silva: Os Nove Pentes d’África
• Alzira Rufino: Eu, Mulher Negra
• Helena Theodoro: Mito e Espiritualidade: Mulheres Negras
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