Este é um texto sobre a memória fraca do patrimônio e os critérios para escolher esculturas que celebram personagens da história na cidade de São Paulo.
Quem percorre a capital paulista à procura de esculturas encontra, hoje, 367 monumentos e muitas razões para movimentar, mais e mais, o debate sobre desigualdade racial e de gênero na memória da capital paulista – e na sociedade brasileira como um todo. São 200 representações humanas, a maioria em homenagem a homens brancos. Os dados são do Instituto Pólis, que divulgou em novembro de 2021 uma pesquisa chamada Quais Histórias as Cidades nos Contam? – A Presença Negra nos Espaços Públicos de São Paulo. A tempo: há 169 homens esculpidos. E 24 mulheres.
Quando a análise dos monumentos se concentra nas mulheres negras, o da Mãe Preta é único. A estátua fica no centro histórico, em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do Paiçandu. Tombada pelo patrimônio público, foi feita por Júlio Guerra (1912-2001) e inaugurada em 1955.
Anna Maria Rahme, professora de Arquitetura e Arte e membro do Grupo Museu Patrimônio, que estuda memória e representação, contextualiza: “Mãe Preta é uma figura eleita pelos brancos. Foi criada para amamentar os filhos da sinhá [mulher branca] e deixava sua família para cuidar das crianças dos patrões. Uma forma racista e escravizada da mulher”.
Na cidade em que 39% da população se autodeclara parda (30,6%), preta (6,4%) e amarela (2,2%) — segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial —, falta reconhecimento aos negros e há 14 homenagens a episódios e pessoas controversos ligados à ditadura militar e à escravização – Manoel Borba Gato, por exemplo, matou e oprimiu indígenas e negros entre os séculos 16 e 17
Na tentativa de diminuir a disparidade racial, em outubro de 2021 a prefeitura anunciou a instalação de cinco estátuas em honra a personalidades negras. São Paulo terá esculturas da escritora Carolina Maria de Jesus dos cantores e compositores Itamar Assumpção e Geraldo Filme, do pentacampeão de salto triplo Adhemar Ferreira da Silva e da sambista e ativista Madrinha Eunice.
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