Em 2003, quando lançou Glamurosa, MC Marcinho provavelmente não imaginava que a composição ia parar no violino (“Glamurosa, rainha do funk/Poderosa, olhar de diamante/Nos envolve, nos fascina, agita o salão/Balança gostoso requebrando até o chão”). Mas aconteceu: foi em uma versão da musicista carioca Esther Cândida, de 20 anos.
Desde 2017, Esther mostra seu trabalho em redes sociais. “Dei início com covers de R&B e rap. (…) Quando foi lançada Amor de Verdade, do MC Kekel [em 2018], fiz meu primeiro cover de funk”, lembra. Depois veio uma versão de Baile da Penha, de Kevin o Chris, divulgada no mesmo ano.
A violinista não era ouvinte de funk, do tipo que colava o ritmo ao fone de ouvido. Só em festas, nas baladas e na internet. “Sempre mexeu comigo, me fazia querer dançar. Com o tempo, pude perceber o quão impactante ele era. Se você tocar funk em qualquer lugar, ninguém vai ficar parado”, diz.
Para todo mundo ouvir — Moradora da Penha, Rio de Janeiro, Esther quer mostrar que o funk das periferias e favelas tem muito a ver com o violino, instrumento geralmente usado em orquestras. “Aos 8 anos, assistindo [um filme da] Barbie, vi uma cena em que apareciam violinos e fiquei encantada. Logo pedi um violino para minha mãe e pouco tempo depois já dei início a aulas particulares numa igreja aqui por perto”, diz a artista. “Toquei música clássica por toda a minha vida; não quero abandonar, mas fazer com que toda a pessoa ouça, não só músicos e instrumentistas.”
Ainda que o funk não agrade uma parcela da população, ainda que muita gente marginalize, critique e “desde sempre” desvalorize o movimento, Esther quer pôr o ritmo em pé de igualdade com o violino. Ela quer mostrar que os dois têm grandezas. “O funk é um ritmo extraordinário, brasileiro, que tem muita história. Acho que ele precisa ser respeitado como qualquer outro ritmo, e só fazê-lo crescer, expandir, para que o mundo todo escute esse nosso som”, diz a artista. Para Esther, o funk pode ter tanta musicalidade quanto a música clássica. Já o violino, tem “grande poder” fora do erudito.
Repercussão do trabalho — Na escolha do repertório para os vídeos que exibe nas redes sociais, a artista leva em conta a melodia, os arranjos e o que está em alta e combina com seu gosto musical. E qual a repercussão de um trabalho tão inesperado? “A maioria gosta. Ficam impressionados ao ouvir como um violino fica tão bom junto com o funk, dois extremos que ninguém esperaria”, diz Esther. “Já recebi algumas críticas também, mas estou preparada para mais. Quanto mais te notam, mais falam.”
Ao falar do futuro, a musicista diz querer impactar a vida das pessoas com sua música. “Não é para ter um padrão, e sim experimentar o poder da música. Ela pode fazer tristeza virar alegria, sonho virar realidade, de um nada existir algo”, acrescenta. “Fazer o que ninguém espera se tornar algo que ninguém espera também. Fazer com que duas potências, funk e violino, se tornem algo viral. Não vou parar até que todos conheçam o funk clássico.”
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Adorei. Merecida homenagem a tanto talento. Feliz Ano Novo de 2022.
Achei lindo! Nao tinha visto o violino no funk e achei muito bacana e desejo toda sorte e prosperidade do mundo. Vou te acompanhar . Um abraço.