Sabe aquela menina com dreads desenhada nos muros, as letras garrafais na lateral de um prédio, o cartaz colado no poste? Formas de expressão assim, artísticas e políticas, constituem o que a gente conhece como arte urbana — a arte de rua que tem tudo a ver com as periferias, as favelas, as comunidades. São Paulo, por exemplo, começou a ganhar o colorido dos grafites nos anos 1980. Hoje dá para chamar muitas regiões de galerias a céu aberto.
A geógrafa Jamila Reis Gomes pesquisa, em seu mestrado na Universidade Federal da Bahia, a relação entre geografia, arte e espaço Público. Em conversa com o Expresso na Perifa, ela explica que no Brasil a arte urbana como forma de manifestação tem início justamente durante a ditadura militar, no ano de 1965. Isso vai bem ao encontro do que diz o artista Cripta, no documentário Pixo, de 2009: “Essa arte surge sempre como ato de resistência dos silenciados”.
A busca por visibilidade por meio da expressão artística, conta Jamila, marcaria para sempre a juventude dos anos 1970. Foi nessa época, nos Estados Unidos, que os primeiros pixadores e grafiteiros bombardearam com arte os trens de Nova York, rompendo limites geográficos e fronteiras sociais.
Essas manifestações eram a válvula de escape para lidar com o cotidiano de violência e criminalidade vivenciado de forma aguda principalmente pela população afrodescendente e latina. Como expressão emergente, o fenômeno da arte urbana em Nova York tem origem, portanto, nas mãos de grupos sociais que moravam em bairros pobres da época, como Harlem, Brooklyn e Bronx. Na década de 1970, a cidade enfrentava sérios problemas sociais e econômicos.
Para Jamila, a cultura urbana se conecta com periferias e favelas brasileiras através de alguns valores, como amizade, solidariedade, respeito e humildade. “A cultura de rua vem dos guetos. É a juventude, a radicalidade, a vontade de transformação, a complexidade da vida jovem de favela”, diz. “É a arte que dá sentido e oferece possibilidades para construção de caminhos de vida.”
A pesquisadora vê nos artistas das periferias, entre fissuras e brechas, a luta por direitos e reconhecimento. “São formas de representar vivências, bairros e atribuir outros sentidos a esses lugares. É a construção de narrativas através da arte.”
Principais formas de expressão visual da arte urbana
Pixação: normalmente vista como vandalismo e sem valor artístico, é feita com tinta em spray ou rolo. No Brasil, a atividade é considerada crime
Grafite: desenho pintado ou gravado sobre um suporte que não é normalmente previsto para essa finalidade, como fachada, muro e asfalto
Stencil: usa molde vazado ou máscara para aplicar um desenho em qualquer superfície. Pode ser papel, plástico ou metal. É uma forma popular do grafite
Lambe-lambe: usa cartazes e pôsteres na intervenção urbana com objetivos que vão do protesto à divulgação de poesia. A cola mais usada é à base de água, farinha de trigo e vinagre
Stickers: podem ser impressos em vinil ou lambe-lambe. Fazem parte da manifestação da arte pós-moderna popularizada na década de 1990 por grupos urbanos ligados à cultura alternativa
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