Roman Krznaric é um militante internacional da empatia, habilidade que, segundo defende, pode ser aprendida e é capaz de unir. Filósofo e membro fundador da The School of Life, ele foi professor de Sociologia e Política na Universidade de Cambridge e na City University. Autor dos best-selleres Como Encontrar o Trabalho da Sua Vida, O Poder da Empatia e Sobre a Arte de Viver, o filósofo esteve no Brasil para lançar o novo livro Carpe Diem – Resgatando a Arte de Aproveitar a Vida, e conversou com a jornalista Juliana Diógenes, do Estadão. Veja alguns destaques da entrevista.
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EMPATIA
“Empatia é a habilidade de se colocar no lugar de alguém e ver o mundo através desses olhos. Sempre foi uma ferramenta poderosa para superar os estereótipos e preconceitos. Todos nós sabemos que julgamos as pessoas a partir da aparência.”
FALE COM ALGUÉM
“Pode ser o cara que vende pão para você cada manhã ou a mulher que está limpando sua casa. Deixe sua zona de conforto. Fale sobre as vidas dos outros e sobre sua vida. Partilhem algo. Como indivíduos, podemos fazer isso.”
CARPE DIEM
“Carpe diem é essa antiga frase latina que vem do poeta romano Horácio. Ele disse: “Mesmo enquanto falamos, o tempo ciumento está fugindo de nós. Colhe o dia, confia o mínimo no amanhã”. O que ele está realmente dizendo é que a vida é curta. O tempo está passando. Não vamos ser para sempre. Se houvesse apenas uma resposta, eu diria: para praticar carpe diem, pense sobre a morte. Precisamos ser criativos na maneira como pensamos sobre a morte. Não tenha medo disso.”
EU E OS OUTROS
“Aprender sobre nós mesmos não é só sobre olhar para dentro, e sim descobrir pessoas e culturas, visões de mundo diferentes da nossa, mudando nossas mentes. É sobre ‘extrospecção’ em vez de introspecção. Empatia é sobre relacionamentos humanos.”
PROPÓSITO
“É o tipo de coisa que tira você da cama todas as manhãs. Por exemplo: encontrar a cura do câncer. Ou: ser jornalista e divulgar as ideias que considero importantes para a minha sociedade ou para as futuras gerações. Acho que é onde encontramos significado. Eu não estou interessado em felicidade, estou interessado em significado. Acho que temos três coisas: a qualidade de nossos relacionamentos é empatia, sua liberdade e autonomia são o carpe diem e o senso de propósito. Então, há uma boa chance de você achar que a vida é boa. Ela pode ser cheia de lutas, dor e sofrimento, mas espero que tudo corra bem.”
APRENDIZADO
“Pesquisadores dizem que 50% de nossa habilidade empática é inerente – o que nos deixa outros 50%. Isso é uma boa notícia, porque você pode aprender empatia, como andar de bicicleta ou dirigir um carro. O salto mental de empatia é entender que alguém pode precisar de algo diferente do que você precisa. Nós desenvolvemos isso. E podemos aprender e melhorar.”
POLARIZAÇÃO NO BRASIL
“É extraordinário estar no Brasil neste momento político. Quase se pode sentir a polarização no ar. Isso é incrível. Não sou especialista em política brasileira. Mas, seja qual for o resultado no segundo turno [a entrevista foi realizada antes da votação], o Brasil será uma sociedade dividida. E as famílias serão divididas porque seu cunhado, sua cunhada, ou qualquer parente votou em um candidato diferente. Então, esta é a pergunta: como você cria e constrói tolerância e respeito? Acredito que a sociedade não funciona bem quando se baseia no ódio. Sociedades funcionam bem quando se baseiam no entendimento mútuo.
Nem sempre chegamos a concordar com tudo sobre religião, política, economia. Mas pelo menos podemos nos tratar como seres humanos. É aí que a empatia é importante. A questão é como você constrói empatia nessas situações difíceis, especialmente com pessoas com quem você não concorda. É muito importante encontrar esse caminho de ouvir o que os outros têm a dizer. Talvez seja apenas ouvir o outro em uma mesa de jantar e não interromper. Apenas ouça o que a outra pessoa tem a dizer e então diga ‘Ok, eu te ouvi. Agora, você pode me ouvir?’.”