Cinemateca sentimental: onze filmes bonitos, inesquecíveis e que falam sobre as muitas formas de amor romântico. Do platônico ao… literário.
Dia 12 de junho se aproxima e já começa a provocar alterações até em corações gelados. Tudo é substantivo. Amor, solidão, solitude, saudade. O Dia dos Namorados, não conte para ninguém, faz toda a gente pensar em amores. Assim mesmo. No plural. Os que foram, os que são e os que poderiam ter sido ou ainda bem que não foram. Amores novos, velhos, futuros, passados, impossíveis e platônicos. Motivado por essa atmosfera sentimental, o Expresso montou uma pequena cinemateca básica de muitas emoções. São filmes que falam de muitas formas de amor romântico, todas movidas a encontros e desencontros. Para ver só ou bem acompanhado, se divertir e pensar na vida. Feliz tudo, hoje e sempre.
A TRILOGIA DO ANTES
Dirigidos por Richard Linklater, os três longas têm altas doses de experiência emocional
ANTES DO AMANHECER (1995), ANTES DO PÔR DO SOL (2004) E ANTES DA MEIA-NOITE (2013)
Da juventude ao amadurecimento, é como se esses três deliciosos filmes condensassem três décadas de análise sentimental – do homem, da mulher, dos dois juntos e de quem assiste. Você pode até achar a comparação exagerada, mas é provável que respire profundamente em vários momentos.
Vê-los ou revê-los desde o começo é uma adorável maratona.
Quem acompanhou em tempo real cada uma das estreias da trilogia dirigida por Richard Linklater esperou quase vinte anos para saber o que aconteceu com Celine (Julie Delpy) e Jesse (Ethan Hawke). O intervalo entre um filme e outro foi de mais ou menos dez anos e todos envelhecemos juntos. No primeiro longa, os dois estão com vinte e poucos anos.
Eles se conhecem no fim da década de 1990 em um trem e, de cara, estabelecem uma verborrágica ligação. Muito diálogo afiado e bem construído. Celine e Jesse ficam juntos até amanhecer, nas ruas de Viena. Em meados dos anos 2000, a conversa ocorre em Paris. Agora ela é uma pesquisadora e ativista do meio ambiente e ele um escritor de sucesso. O terceiro longa se passa quando a dupla já entrou nos quarenta, durante um verão na Grécia.
RISOS
Duas obras geniais, cada uma a seu modo, e que expressam o melhor da comédia romântica
HARRY & SALLY (1989)
Você vai se divertir bastante com esta comédia, na vertente de Woody Allen (o da fase antiga), sobre como homens e mulheres veem uns aos outros. Em Nova York, Billy Crystal (Harry) e Meg Ryan (Sally) são amigos há muitos anos. Quando percebem que, na verdade, estão apaixonados, eles temem assumir, com medo de que isso seja o fim da amizade. O filme tem ótimos diálogos, uma dupla perfeita e a cena em que Meg simula um orgasmo (na delicatessen) – tão convincente que até a mãe do diretor pede o mesmo prato, para tentar repetir o efeito. (Luis Carlos Merten)
NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA (1977)
Obra-prima de Woody Allen, esta comédia romântica conta a história do vaivém entre o desastrado comediante Alvy Singer (Allen) e sua namorada Annie Hall (Diane Keaton). Na foto que ilustra este texto, quando ainda estão se conhecendo, Alvy diz: “Ei, escute, me dá um beijo”. Annie desacredita: sério? “Sim”, ele continua. E argumenta: “A gente vai para casa mais tarde, certo, e vai ter toda aquela tensão, porque nós nunca nos beijamos e eu nunca vou saber a hora em que devo fazer alguma coisa. Então, a gente se beija agora e supera logo isso. Daí, vamos comer. Nossa digestão vai ser bem melhor assim.”
ROMANCE FRANCÊS INESQUECÍVEL
Um clássico do chabadabadá. Com chuva e frio e névoa
UM HOMEM, UMA MULHER (1966)
Este longa romântico de Claude Lelouch ganhou a Palma de Ouro em Cannes (1966) e dois Oscar – filme estrangeiro e roteiro original (1967). Quando Anne (Anouk Aimée) vai visitar sua filha pequena no colégio interno, ela conhece Jean-Louis (Jean-Louis Trintignant), que tem um filho na mesma escola.
Ele é viúvo, piloto de corrida. Ela tem saudade do marido. Os dois acabam se reencontrando dias depois, com as crianças, e já sabemos que estão apaixonados. Surge uma relação simplesmente complicada e embalada por um inverno sombrio na praia, por muitas incertezas, pela trilha sonora de Francis Lai (chabadabadá, chabadabadá…) e por uma certa Samba Saravah.
O filme teve uma sequência (Um Homem, Uma Mulher – Vinte Anos Depois). Em maio de 2019, no entanto, Lelouch ignorou o trabalho e apresentou no Festival de Cannes, fora da competição, o longa Les Plus Belles Années D’une Vie (Os Melhores Anos de Uma Vida), que estabelece o reencontro de Anne e Jean-Louis e seria, este sim, o filme que dá sequência ao romance. Jean-Louis está com Alzheimer, mas jamais esquece de Anne.
DRAMA
Quem usa rímel vai borrar. Melhor tirar a maquiagem
DESENCANTO (1946)
Em 2013, a revista inglesa Time Out publicou um ranking dos dez filmes mais românticos de todos os tempos. Desencanto, de David Lean, com Celia Johnson e Trevor Howard, ficou em primeiro lugar. É a história de amor entre Alec, um médico, e Laura, uma dona de casa. Os dois são casados, se conhecem em uma estação de trem e, no breve encontro, se apaixonam e precisam decidir o que fazer com isso. Na tentativa de conter a paixão, cada pequeno gesto acaba atingindo uma vastidão de sentimentos em quem assiste. Difícil não chorar.
MUITAS BELEZAS
Tudo pode mudar em um olhar cruzado: o fascinante e assustador imponderável e imprevisível… acaso
ME CHAME PELO SEU NOME (2017)
Do italiano Luca Guadagnino, a história de amor é ambientada em uma temporada de verão, anos 1980, no interior da Itália. Elio (Timothée Chalamet) é o jovem filho de uma família de intelectuais que mora no campo. Eles recebem a visita do pesquisador norte-americano Oliver (Armie Hammer). A história toda se desenvolve na atmosfera entre livros, ideias, piano e conversas que nunca cedem à banalidade. Guadagnino, esteta, trabalha a luz, a vegetação abundante, os riachos e os lagos, um calor que se espessa na imagem. Mas também os corpos, que se exibem e se olham nos banhos preguiçosos à tarde. O diretor envolve o filme numa aura levemente erótica e nela encontra o seu centro nervoso – o desejo. Com o detalhe: um dos corpos é o de um iniciante, ainda indeciso quanto à sua sexualidade. (Luiz Zanin Oricchio)
ENCONTROS E DESENCONTROS (2003)
A jovem norte-americana Charlotte acompanha o marido fotógrafo em uma viagem de trabalho para Tóquio, uma cidade que, para a garota, vai se revelar fascinante e estranha. O sujeito sai para trabalhar todos os dias e a deixa sozinha no hotel. Entediada e perdida no fuso horário, insone e cheia de dúvidas, ela conhece Bob Harris, um ator que está na cidade para filmar uma propaganda de uísque. Os dois começam a passar o tempo juntos e descobrem que “o amor é um lugar estranho”. Com Scarlett Johansson e Bill Murray. A direção é de Sofia Coppola.
AMOR À FLOR DA PELE (2000)
A história lindamente filmada por Wong Kar-Wai se passa na Hong Kong dos anos 1960. Um homem e uma mulher, ambos casados, são vizinhos numa pensão. A mulher dele está longe, o marido dela, também. A relação é complicada. Eles descobrem que seus respectivos são amantes e não sabem o que fazer. Pequenos gestos de aproximação e afastamento, olhares. Ao som de Nat King Cole (Perfidia e etc.), os protagonistas (Maggie Cheung e Tony Leung) se movem no desejo. Mas há muitas perguntas no ar.
SEMPRE TE AMEI (1987)
A relação entre uma roteirista norte-americana (Anne Bancroft) e um livreiro londrino (Anthony Hopkins) cresce justamente no amor que os dois nutrem pelos livros. Helen (Anne) dá o primeiro passo ao escrever para a loja em que Frank (Hopkins) trabalha à procura de uma obra específica. A partir de então, os dois passam muitos anos trocando cartas. É um romance epistolar e muito emocionante.