Em busca de funcionários, companhias aceitam novos perfis e permitem trabalho a distância. A reportagem é de Fernando Scheller, do Estadão.
É de um cômodo numa casa simples em um bairro residencial de Sinop (MT), a 3 mil quilômetros de Porto Alegre (RS), que parte da programação da fintech gaúcha Warren é realizada. Contratado no início do ano pela empresa de soluções financeiras, Enieber Cunha, de 23 anos, nunca foi ao escritório da companhia para a qual trabalha. “Fui a Porto Alegre a um evento uma vez, mas nunca estive na sede da empresa”, diz ele.
Cunha começou a se interessar pela área de tecnologia ainda no ensino médio, quando optou por um curso de técnico em programação. Ainda menor de idade, conseguiu o primeiro emprego. Antes de entrar na Warren, batia cartão em uma empresa de Sinop. Mas tinha vontade de economizar o tempo que gastava para se locomover. Quando surgiu a oportunidade no Rio Grande do Sul, ele conseguiu satisfazer o desejo de trabalhar remotamente.
A forma que o profissional foi apresentado à Warren desafia os meios tradicionais de aproximação entre empresas e candidatos: em vez de enviar um currículo, ele apresentou seu trabalho com uma tecnologia usada pelo Facebook – e também pela fintech gaúcha – em um dos muitos fóruns de discussão sobre desenvolvimento de tecnologias da internet. Foi o suficiente para ser chamado para uma entrevista. De acordo com o cofundador da Warren, André Gusmão, a em – presa está em um forte processo de expansão. Com 112 pessoas na equipe, a intenção é chegar a 200 até o fim do ano. “Buscamos os profissionais mais curiosos em aprender”, afirma.
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VIRADA
A dificuldade das empresas de encontrar talentos em tecnologia abre espaço para quem quer oxigenar a carreira. Após trabalhar por 15 anos em indústrias químicas e de alimentos, Mirella Gabriel, de 37 anos, resolveu tentar uma virada depois de ser dispensada de uma multinacional, em maio de 2018. Ela passou o segundo semestre do ano passado em um curso de gestão de negócios digitais e, em abril de 2019, conseguiu ingressar na Gesto, de gestão de planos de saúde corporativos. Apesar de hoje ganhar 50% menos do que recebia há um ano, Mirella sente que agora tem espaço para crescer a médio (e longo) prazo. “É um preço que vale a pena pagar para conhecer um novo estilo de empresa e usar ferramentas que não conhecia”, diz.
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À PROCURA DE TALENTOS
Há demanda por profissionais de tecnologia em um momento de mercado de trabalho deprimido no Brasil. O País fechou o primeiro trimestre com 13,4 milhões de desempregados e uma taxa de desocupação de 12,7%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A Brasscom – entidade que reúne as grandes empresas do setor de tecnologia – afirma que esse segmento poderia gerar até 420 mil vagas nos próximos seis anos, caso houvesse mão de obra suficiente. Além da procura por parte de grandes companhias, as startups também têm apetite para contratar: o total de empresas nascentes no País deve chegar a 15 mil ao fim do ano, um crescimento de 50% sobre 2018, segundo a Abstartups. Veja o panorama no quadro abaixo.