Em tempos de juros baixos, é preciso ir além da caderneta de poupança. Especialistas dizem onde aplicar para ele render. E mais: glossário de investimentos e dicas para guardar (e ganhar)
No dia 18 de setembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, por unanimidade, reduzir a Selic, a taxa básica de juros, em 0,50 ponto porcentual, de 6% para 5,5% ao ano. Esse é o segundo corte da taxa no atual ciclo, após período de 16 meses de estabilidade. Com isso, a Selic está agora em novo piso da série histórica do Copom, iniciada em junho de 1996.
MAS O QUE ISSO MUDA NA SUA VIDA?
Para quem tem algum dinheiro guardado e aplicado em renda fixa, como a caderneta de poupança, a queda na taxa de juros Selic dificulta um pouco as escolhas – sob o risco de ver o patrimônio andar de lado. Para conseguir algum ganho, de acordo com especialistas, será preciso abrir mão da liquidez (deixando o dinheiro aportado por mais tempo no mercado financeiro) ou assumir riscos extras em produtos como ações e fundos imobiliários – sujeitos a oscilações e não isentos de prejuízos.
A RENDA FIXA E A BOLSA DE VALORES
Para o superintendente de portfólios de investimento do Itaú Unibanco, Victor Vietti, o que agora sobra para o investidor pessoa física é uma carteira com opções cada vez mais enxutas (e similares) dentro da renda fixa, aquele investimento em que o dinheiro é aplicado com uma garantia mínima de retorno após um determinado tempo. “A renda fixa sempre terá mercado, mas a gente está recomendando aplicação em Bolsa desde o final de 2018”, diz.
Produtos como CDBs, fundos DI e poupança, na opinião da coordenadora do curso de economia do Insper, Juliana Inhasz, vão virar uma espécie de “seguro” para o patrimônio do investidor. “Esquece essa história de ganhar dinheiro com o CDB. Essas aplicações servem para repor as perdas com inflação, variações cambiais.”
É UM MUNDO NOVO
Gilberto Abreu, diretor de investimentos do banco Santander, diz que o investidor deve evitar fazer comparações com o passado no mercado financeiro. “É um mundo novo, e ainda bem. Renda fixa paga pouco no mundo inteiro. O que acontecia no Brasil era uma incorreção do nosso mercado.”
LONGO PRAZO Em simulação para o Estado, a economista Paula Sauer, professora da ESPM e planejadora financeira da Planejar, chama atenção para o bom resultado projetado para os produtos com vencimento de longo prazo (acima de cinco anos). Destaque para as Letras de Crédito (tanto imobiliárias, as LCIs, quanto de agronegócio, LCAs). “O que garante o bom resultado desses produtos é a isenção do Imposto de Renda. E, mesmo assim, o porcentual de CDI que serve de remuneração para as letras está atrelado ao prazo. Quanto maior o prazo sem mexer no dinheiro, melhor a remuneração”, observa.
DIVERSIFICAÇÃO NECESSÁRIA
O investidor brasileiro não está acostumado ao novo cenário de juro baixo, que exige uma diversificação maior da carteira de investimentos. Essa é a avaliação de Rodrigo Ayub, gerente geral de Captação e Investimentos do Banco do Brasil. “O monoproduto na hora de investir vai ter de ser deixado de lado”, afirma. Ele lembra que, quando a taxa básica de juros estava em 14,5% ao ano, o investidor praticamente dobrava o capital aplicado a cada cinco anos. Agora, com a Selic recuando para 5,5% ao ano, serão necessários 13 anos para conseguir o mesmo feito. Isso significa que o brasileiro terá de diversificar e arriscar mais para obter uma rentabilidade maior.
A DINÂMICA DOS PRODUTOS
Ayub recomenda que o investidor procure saber exatamente os papéis que compõem os fundos de investimento mais arriscados. Há fundos multimercados, por exemplo, com mais de dois terços de aplicações em Bolsa. Em outros, diz o especialista, a Bolsa nem aparece. “É preciso entender a dinâmica de cada produto.” No caso de fundos com maior volatilidade e risco, ele recomenda deixar o dinheiro aplicado por mais tempo para reduzir os impactos das fortes oscilações.
COMO FICA A CADERNETA DE POUPANÇA?
Com a nova queda na Selic, a poupança, principal destino do dinheiro do brasileiro, perdeu atração. É que, até então, o investimento rendia 4,2% ao ano e superava boa parte dos fundos de renda fixa. Agora, ele recuou para 3,85% – pouco acima da inflação estimada em 3,60% no último relatório do Banco Central. Os fundos DI, que administram uma carteira de renda fixa, também ficaram para trás. Alguns deles, em função da taxa de administração, chegam a perder para a inflação por quase 1 ponto porcentual. Já no Tesouro Direto, os títulos de curto prazo atrelados à Selic ficam muito próximos à poupança. A recomendação aqui, mais uma vez, são títulos de médio e longo prazo, acima de 12 meses, atrelados à inflação.
Reportagem de Renato Jakitas e Márcia de Chiara. Saiba mais em bit.ly/jurosbx2
ANÁLISE DE GESTOR
Para auxiliar o leitor a navegar em mares um pouco mais turbulentos, o Estado ouviu seis grandes gestores e executivos de fundos ativos no mercado brasileiro. Veja a seguir alguns destaques da reportagem
DICAS RÁPIDAS
Para quem quer guardar ou investir
1. DINHEIRO PARA EMERGÊNCIAS pode ser investido com liquidez diária, do tipo que o investidor resgata em até um dia.
2. SE FICAR DESEMPREGADO, a liquidez de trinta dias é suficiente para resgatar investimentos. A dica é ter até seis meses de seus custos guardados em títulos desse tipo.
3. DIVERSIFIQUE as aplicações.
4. SE QUISER ASSUMIR RISCOS MAIORES, não comece com grandes quantias. Para se adaptar, é preciso treinar com valores menores.
5. TEMPO E PACIÊNCIA são fundamentais para conseguir bons resultados no item 4. Não se desespere com as primeiras perdas.
6. FUNDOS MULTIMERCADOS costumam ser a primeira indicação dos especialistas, eles envolvem riscos moderados e não exigem alto conhecimento no mercado.
7. FUNDOS DE AÇÕES também são recomendados antes de se arriscar sozinho no mercado de ações. Lembrando que, se o investidor não tiver conhecimento ou tempo, os planejadores indicam seguir nos fundos.
GLOSSÁRIO DE INVESTIMENTOS
RENDA FIXA
A remuneração ocorre por meio de juros. O investidor empresta dinheiro para um emissor e lá na frente recebe, junto do capital investido, os juros acumulados. Exemplos: caderneta de poupança, títulos públicos, CDB, letras de crédito imobiliário e fundos de investimento em renda fixa.
RENDA VARIÁVEL
O investidor não sabe qual será a remuneração. Isso depende muito das condições do mercado. Apesar de ser um investimento mais arriscado, pode gerar um rendimento muito maior. Exemplos: mercado de ações (Bolsa de Valores), derivativos, letras de câmbio e fundos de ações.
TESOURO DIRETO
É um título público de renda fixa emitido pelo Tesouro Nacional – órgão do governo que controla as finanças do País. O papel garante ao comprador o pagamento de uma quantia de dinheiro em uma determinada data (e a determinados juros corridos). Para investir, procure um banco ou corretora. Dá para começar com no mínimo R$ 30. Exemplos: pré-fixado (você sabe exatamente quanto irá resgatar), fixado à inflação e fixado à Selic (o rendimento vai depender dessas variáveis).
MERCADO DE AÇÕES
Empresas que querem realizar um projeto, mas não têm dinheiro, recorrem ao mercado de ações para angariar fundos vendendo títulos a investidores que viram sócios do negócio (elas poderiam ir ao banco, mas as taxas de empréstimo são altas).
APOSENTADORIA
A previdência privada é um complemento da aposentadoria comum, e não tem a ver com o INSS. Você pega o dinheiro, define a periodicidade, vai depositando e no final retira. Ela pode ser PGBL (cobra imposto do montante a ser resgatado e dá para descontar do Imposto de Renda) ou VGBL (cobra imposto sobre o rendimento e não dá para descontar do IR). Nos dois casos, é cobrada uma taxa de administração. Quem opta pelo Tesouro Direto escolhe um título de longo prazo, para resgate perto da idade em que vai se aposentar. O ideal é comparar as propostas de bancos diferentes para ver qual é o melhor.