Lançamentos combinam o uso residencial ao comercial, com escritórios, hotel, consultórios e lojas em um só condomíno
Alguns dos mais icônicos prédios de São Paulo são condomínios com unidades comerciais e residenciais. O Copan, na Avenida São Luís, e o Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, são exemplos de edifícios marcantes não só pela arquitetura, mas pela multifuncionalidade.
Essa proposta de uso misto nunca saiu totalmente de cartaz na cidade, mas nos últimos anos vem chamando a atenção das incorporadoras, que preparam lançamentos.
Em parte, elas são estimuladas pelo Plano Diretor de 2014, que deu vantagens às incorporadoras que destinassem 20% dos edifícios para uso não-residencial, e também pela demanda das regiões, por causa da mobilidade numa cidade do tamanho de São Paulo. “A mobilidade é uma das razões para o Plano Diretor incentivar o uso misto. Mas há uma falha para este conceito funcionar, que é o problema do transporte público”, diz Carlos Borges, vice-presidente do Secovi-SP (sindicato da habitação).
Não há dados que determinem se cresceu ou não o número desses imóveis nos últimos anos, já que as informações de licenciamento não especificam o que é um prédio de uso misto. Mas o fato é que as construtoras estão de olho no filão, combinando residência com escritórios, hotel, consultório e lojas.
EXEMPLOS DE PROJETOS DE USO MISTO
• A incorporadora SKR tem três projetos em andamento que aliam torres residenciais com lojas no térreo, nas zonas oeste e sul da capital.
• O Cidade Matarazzo, do grupo Allard, em construção nas proximidades da Av. Paulista, vai ter hotel, flat, salas corporativas e serviços.
• A incorporadora You lançou seu primeiro edifício do tipo no Tatuapé, zona leste, em 2011. Agora, o Core Pinheiros, de março de 2019, terá serviços voltados à saúde com salas para clínicas e um espaço de exames do Hospital Albert Einstein. Na torre comercial, haverá também um hotel.
• É da Cyrela o Ibirapuera by Yoo, na zona sul, em que moradias de alto padrão dividirão condomínio com um complexo médico de clínicas, auditório, salas de reunião e local para pequenos procedimentos cirúrgicos. A empresa também está à frente do Thera Faria Lima, entregue em 2016.
CONEXÃO COM A CIDADE
O fato de os condomínios de uso misto permitirem mais espaços comuns para a sociedade é o que torna este tipo de empreendi mento saudável, na opinião da urbanista e diretora da Escola da Cidade, Cristiane Muniz. “A graça da cidade é o encontro. O fato de haver diferentes possibilidades em um mesmo lugar só tende a ser valorizado.” Por outro lado, se os condomínios se fecham só para os moradores, o conceito é desvirtuado.
“Se for como um bairro fechado, acho que tem um prejuízo para todos: para quem vive fora, que não pode acessar aqueles serviços, e para os moradores, que só ficam ali dentro e deixam de conhecer outros lugares.”, diz Cristiane.
Do ponto de vista dos construtores, a modalidade ainda está se aperfeiçoando. Há casos em que se constrói salas comerciais sem que o formato seja bem integrado à finalidade residencial. “Temos situações de ganha-ganha. Mas é cedo para analisar se o modelo deu certo. A estratégia de venda é diferente para a parte não-residencial, é preciso investir em segurança e iluminação. E a sociedade também tem de se acostumar”, analisa Carlos Borges, do Secovi-SP.
Com reportagem de Aramis Merki II, especial para o Estado