Começa a esquentar no Brasil a disputa entre empresas de e-commerce, transporte, entregas, pagamentos e até bancos digitais para virar superaplicativo
A partir do WeChat, uma ferramenta semelhante ao WhatsApp, a gigante chinesa Tencent criou um ambiente onde é possível pedir comida, reservar um carro para ir ao aeroporto e até transferir dinheiro sem se distrair das novidades enviadas a todo o momento por amigos.
A companhia é dona do superapp, ou superaplicativo, mais famoso no mundo.
Outras iniciativas semelhantes ganham fôlego em países como Índia e Cingapura.
E o Brasil? Diante do tamanho do mercado e da ausência de uma ferramenta onipresente preferida pelo público, empresas de diversos segmentos flertam com a possibilidade de ser um superapp nacional.
QUEM QUER SER UM SUPERAPP?
Estudo do Itaú BBA diz que nessa disputa estão ferramentas de mensagens (como Facebook e WhatsApp), meios de pagamento (como Mercado Pago e Ame, da B2W, dona da Americanas.com), empresas de transporte (Uber, 99, Yellow), serviços de entregas (iFood e Rappi) e gigantes do e-commerce (Mercado Livre, Amazon e Magazine Luiza). Alguns bancos digitais também têm se mostrado dispostos a entrar na briga (veja quadro).
VAI VINGAR?
O Itaú BBA diz que ainda é cedo para dizer se a estrutura de superapp vai vingar por aqui. Uma das razões, segundo Enrico Trotta, um dos autores do estudo, é o fato de o conceito de privacidade na internet dos chineses ser muito diferente do adotado no resto do mundo. “A China não tem um governo democrático. Logo, é vantajoso incentivar a concentração das informações da população em um aplicativo só.”
Feita essa ressalva, o levantamento mostra que todas as “candidatas” brasileiras a superapp têm chances de lograr sucesso na prestação de serviços variados. Na China, há casos de empresas de transporte, entregas, pagamentos e e-commerce que conseguiram fazer o salto para outras áreas, agregando serviços a partir da plataforma original.
Quem leva jeito para superapp no Brasil
UM (OU MAIS) APP DE VANTAGENS
RAPPI
A empresa mais disposta a ser um superapp é o Rappi, que já faz entrega de comida (de supermercados e restaurantes), tem uma carteira digital para pagamentos e também é forte em e-commerce de produtos e serviços – uma das novidades mais recentes do app é a possibilidade de um time de futebol de várzea “alugar” um entregador do Rappi como goleiro, pagando por hora.
WHATSAPP
Na ponta oposta do espectro, está o WhatsApp – um app de mensagens como era, inicialmente, o WeChat. Se o Rappi é candidato natural a superapp pela variedade de serviços, a plataforma de mensagens do Facebook tem algo vital para o multisserviço: a grande quantidade de usuários com presença constante na plataforma. No entanto, pelo menos até agora, o WhatsApp e seu dono, o Facebook, não fizeram nada de relevante para virar um superapp.
IFOOD
A Movile – dona do iFood – diz que sua rede de serviços não será necessariamente agregada em um só app. Hoje, a Movile tem outras ofertas, como a Sympla (de eventos e vendas de ingressos) e o iFoodPay, uma carteira digital. “Para mim essa história de superapp é ultrapassada. Com serviços como o Google Assistant e a Alexa, da Amazon, tudo vai mudar. O mundo vai ser muito diferente daqui três ou quatro anos”, diz Eduardo Henrique, cofundador da Movile.
BANCOS DIGITAIS
O mineiro Banco Inter quer ser um superaplicativo. A instituição recebeu um aporte de R$ 1,24 bilhão em julho (sendo R$ 760 milhões da gigante japonesa Softbank), conseguiu atrair capital justamente graças à intenção de ir além de seu mercado de origem. O superapp do banco, que deve chegar em setembro, deve oferecer serviços de mobilidade, turismo e entretenimento.
Reportagem de Fernando Scheller, O Estado de S. Paulo. Leia a íntegra em bit.ly/inovapp