Os desafios do ensino superior envolvem alunos, professores e principalmente como as universidades encaram a sociedade moderna. Para o historiador Leandro Karnal, repensar a universidade, que ainda enfatiza demais o conteúdo, é fundamental. “Devemos ensinar a curiosidade de aprender e o uso de problema para resolver
questões”, diz o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
As novas tecnologias cada vez mais alteram tanto o dia a dia dos alunos quanto a forma de ensinar. Como os professores devem encarar o desafio de formar os profissionais que vão para o mercado?
Yuval Harari disse que somos a primeira geração que não sabe o que ensinar. O que será válido em 40 anos? A tecnologia é uma ferramenta que não deve ser ignorada pela escola, porém deve servir a um projeto pedagógico. Na modernidade, o ato de escolher não deriva de tablets, mas de boas visões sobre educar. Devemos ensinar a curiosidade de aprender e o uso de problema para resolver questões. Devemos começar a
perder o fetiche do conteúdo.
A validade do conteúdo perde-se com rapidez. A ferramenta mental que eu possa ter desenvolvido no aluno é um dom permanente.
Na modernidade, o ato de escolher não deriva de tablets, mas de boas visões sobre educar. Devemos ensinar a curiosidade de aprender e o uso de problema para resolver questões.
Devemos começar a perder o fetiche do conteúdo.
Em termos históricos, as universidades brasileiras estão enfrentando bem o desafio de formar alunos técnicos e ao mesmo tempo preparados para a vida profissional?
As universidades sofrem com várias coisas e precisam de uma profunda revisão sobre as relações entre o ensino e a sociedade. Todo nosso sistema ainda enfatiza conteúdo e utiliza demais os verbos identificar e descrever como parte do sistema de avaliação. Quase nunca as escolas, do fundamental ao doutorado, são vanguardas
em algo. Temo pela irrelevância crescente das universidades.
Quais as principais mudanças do papel do professor do ensino superior hoje em comparação com o que ocorria há 10 ou 20 anos? Todas as mudanças são benéficas para o aprendizado?
Nós jogamos a água suja do banho com a criança. Para substituir o autoritarismo, temos evitado a autoridade. O ensino abrange muito mais gente e capilarizou-se, com o custo da queda média de qualidade. Um aluno que trabalhou oito horas chega à aula da noite na faculdade com fome e cansado. Como produzir um universitário
curioso, protagonista da sua formação e com grande habilidade de leitura?
Necessitamos repensar o financiamento do ensino, refletir sobre cursos e instituições caça-níqueis, qualificação do magistério superior, os cuidados necessários para cursos a distância, relações entre os currículos e o mundo profissional e, por fim, como fazer um aluno egresso de um curso superior sair minimamente bem formado
Nas instituições públicas existe muito sucateamento material. Nas privadas, o aluno cliente é um conceito complexo. Aprende-se mais no YouTube do que na sala de aula. Não é um processo fácil de resolver, mas há bons exemplos aqui e fora de que é possível. Necessitamos repensar o financiamento do ensino, refletir sobre cursos e instituições caça-níqueis, qualificação do magistério superior, os cuidados necessários para cursos a distância, relações entre os currículos e o mundo profissional e, por fim, como fazer um aluno egresso de um curso superior sair minimamente bem formado.
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