Diz a canção que ‘o mundo espera de nós um pouco mais de paciência’. Lindos versos, mas como colocar isso em prática, todos os dias, no trânsito?
MÁRIO ROSSIT
PARA O EXPRESSO
Trafegar por São Paulo quase nunca é prazeroso. Os congestionamentos são constantes e a irritação das pessoas, também. A luta é diária, sobretudo para quem vive disso – mas pode ser menos sofrida se o motorista tomar alguns cuidados. Montamos um dossiê de paciência e relaxamento, com dicas de especialistas.
• ALCIDES TRENTIN JÚNIOR Psiquiatra, médico de tráfego e membro do Departamento de Inovação e Tecnologia da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet)
COMPORTAMENTO
Uma a cada seis pessoas no País apresenta algum tipo de problema de comportamento no trânsito. “Há uma falsa sensação de que, como motorista, você está protegido de tudo e pode fazer o que bem entende. Não é assim. Existe um problema cultural de que ninguém pode interferir no seu deslocamento.”, explica.
ISSO ATRAPALHA
O crescimento urbano acelerado e o descompasso com a estrutura oferecida pelo poder público agravam a situação. “O mundo moderno nos impõe pressa para fazer tudo.”
ISSO AJUDA
Pegar caminhos alternativos e fazer exercícios de respiração ajudam a manter a calma atrás do volante. “Todos nós temos muito a perder. Exercícios de respiração com uma contagem de um a dez segundos podem evitar que você coloque em risco todo um futuro.”
FALTA DE EDUCAÇÃO
Faltam tolerância e educação no trânsito. “Aconselho que as pessoas pratiquem a indiferença. Não há nunca um motivo para insultar e nem para responder a um insulto.”
TEMPO A FAVOR
O motorista em trânsito – parado, entre uma corrida e outra ou até com um passageiro que não se incomode – pode, por exemplo, usar o tempo para aprender um novo idioma.
• JOSÉ ROBERTO MARQUES Coach
PRESSÃO CONSTANTE
No trânsito, motoristas de praça vivem em tensão constante. É importante que evitem se enervar por acontecimentos banais. O congestionamento é algo de que os taxistas não têm como fugir. Contar até dez ajuda a evitar uma avalanche de atos impulsivos.
CLIMA
Manter a temperatura do ar-condicionado estável equilibra a sensação térmica e a temperatura do corpo. “Um carro muito frio ou muito quente pode aumentar os níveis de estresse.”
BOM SENSO
Conversar com o passageiro ajuda ou atrapalha? “Depende, por isso o autoconhecimento é tão importante. Há motoristas que gostam de se concentrar em uma tarefa específica. Para eles, falar [além do necessário] pode ser desconfortável. Por outro lado, há os que conseguem ouvir música e conversar sem prejuízo das atividades. Não tem fórmula.” Ou seja: a questão é mais de bom senso. É a disposição e os humores do motorista e do passageiro que darão o tom da viagem. “E ela pode ser igualmente tranquila em silêncio ou não.”
GENTILEZA
Marques acredita que a melhor qualidade do motorista no trânsito é a gentileza – um atributo que traz leveza ao ambiente e o deixa mais agradável. “Algumas pesquisas mostram que ser gentil pode ser um enorme trunfo. Ser educado e cortês pode trazer benefícios para quem é assim e para quem convive com essa pessoa.”
VEJA TAMBÉM
FIQUE BEM ZEN
1. Postura positiva
Por mais que circunstâncias externas interfiram na vida, é preciso pensar antes de reagir e encontrar formas de manter o emocional sob controle.
2. Sono de qualidade
Não o despreze. O trabalho exige atenção constante e reflexos perfeitos. Cerca de 20% dos acidentes de trânsito estão relacionados à sonolência, que é uma das principais causas de morte nas rodovias.
3. Descanse
Dirigir por longos períodos causa um estresse natural. Se passar mais de uma hora em corridas, antes de pegar uma outra viagem é importante parar em algum lugar (pode ser o ponto ou um posto de gasolina), descer do carro e esticar as pernas por alguns minutos. Isso ajuda a aliviar a tensão.
4. Faça o que gosta
Para relaxar, obter conhecimento e preencher o tempo, recorra a músicas, livros, jornais e revistas (quando estiver parado, claro); programas de rádio; podcasts dos conteúdos mais variados.
5. Respeite as regras
O taxista consciente dirige certo, segue as leis de trânsito e tem atenção e cuidado em relação a pedestres e outros motoristas. Para esse condutor, a chance de ter de enfrentar alguém rude ou algum outro tipo de aborrecimento é (bem) menor.
6. Respire
Procure conhecer e praticar exercícios de respiração. O básico (inspirar profundamente pelo nariz e expirar lentamente pela boca, contando até dez) já ajuda muito.
7. Todo mundo erra
Se fizer algo que prejudique outra pessoa, procure reconhecer, corrigir, pedir desculpa. Não alimente a irritação de quem foi afetado por algo que você fez.
8. Cuidado com o celular
Em movimento, aquela olhada de dois segundos nas mensagens pode causar acidentes graves.
9. Não caia em provocações
Não é raro encontrar pessoas à flor da pele. Motoristas, passageiros, pedestres, ciclistas, o próprio taxista. Ninguém sabe do desafio enfrentado pelo outro, e todos precisam tentar conviver em paz. Diante de algum xingamento ou provocação, a recomendação é ignorar.
10. Não use a buzina do jeito errado
É irritante e atrai prejuízo. E quem buzina em engarrafamentos pode ser multado (R$ 88,38 a menos no bolso e três pontos a mais na carteira). Também são consideradas infrações buzinar de modo prolongado; entre 22h e 6h; e em locais e horários proibidos pela sinalização (ao redor de hospitais, por exemplo).
11. Seja educado
Dar passagem (e não acelerar) quando o outro motorista sinaliza a intenção de mudar de faixa é um sinal de boa direção e também de educação. Mais para frente, quem pede passagem é você. Se organizar direitinho, todos andam em paz.
Fontes: Detran, José Roberto Marques (coach), e Alcides Trentin Júnior (médico membro da Abramet)