Tornei-me um ativista climático por necessidade, muito antes de saber o que era ‘ativismo’. Na quebrada, o cuidado com a terra são soluções ancestrais; tudo que aprendi sobre meio ambiente foi com os meus semelhantes. Aprendi desde o dia em que falta água, como economizar para não faltar água em outras casas, quais ruas evitar passar quando chove e como puxar eletricidade de um poste para ter energia em casa.
Foi na ausência de políticas públicas de saneamento e energia que as ruas me ensinaram como sobreviver em meio às crises climáticas. Demorei para ter consciência de que os danos ambientais não eram culpa nossa e que a responsabilidade sobre a periferia não é papel apenas dos moradores.
Nos últimos anos, descobri que existe o maior evento de meio ambiente da ONU, a COP, conhecida como “Conferência das Partes”, onde as “partes” são os países que assinam um acordo climático em busca de reduzir os dados ambientais do mundo. Esse encontro existe há 30 anos, e nunca vi sendo citado nas favelas.
Precisei sair da minha bolha, e buscar conhecimento nos movimentos sociais sobre o tema. Mas sempre me questionando por que a comunicação inversa não chegava até a gente
Quanto mais buscava saber sobre, mais conhecia um favelado que lutava pelo meio ambiente e saúde dos nossos. Foi ali que entendi que eu não estava sozinho, e tomei como missão de vida levar esse conhecimento para outras periferias que sofrem diariamente com danos ambientais.
Moradores de periferias são prejudicados 15 vezes mais por eventos climáticos extremos
No dia 30 de novembro, ocorre o 28º encontro da Conferência das Partes em Dubai, nos Emirados Árabes. De tanto sonhar, aquele jovem de favela que sofria pela falta de água em seu bairro hoje ocupa o maior evento de meio ambiente do mundo. Sou o único jovem negro de uma cidade com mais de 1,4 milhão de habitantes a ser convidado para a COP28.
Nasci em Guarulhos, na Grande São Paulo, onde existem várias pessoas como eu, mas que não tiveram a mesma oportunidade de ocupar Dubai. É essencial que ações ou eventos sobre meio ambiente pautem os nossos territórios, para que a nossa voz, enquanto favelados, não seja apagada, pois não existe meio ambiente sem a pluralidade étnica racial, povos originários, quilombolas, ribeirinhas e favelas.
Mateus Fernandes é ativista climático e secretário da Juventude em Guarulhos
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