O controle de ganhos e gastos pessoais exige, antes de tudo, conhecimento sobre a própria movimentação financeira. A partir daí, sim, as tecnologias ajudam a organizar as contas. Esta é a recomendação da economista Regiane Vieira Wochler. Professora universitária e mestra em economia política, ela lembra que os próprios bancos oferecem ferramentas para isso, e que o método adotado depende do perfil de cada um.
“Os mais jovens preferem aplicativos; os mais maduros, planilhas em Excel ou até mesmo anotações à mão”, diz Regiane. “Tudo é válido, o importante mesmo é ter consciência de seus gastos, desde os pequenos, como aquele café na padaria, até os grandes, como os impostos.”
Educação financeira pode e deve ser para todos Um novo significado para a educação financeira, por Bia Santos
Diretora do DSOP Educação Financeira, Ana Rosa Vilches alerta: o mero registro não basta. “Após um mês, é preciso fazer uma análise e tomar as devidas providências como redução [de gastos] e a não aquisição de alguns bens e serviços.” O acompanhamento das finanças e os serviços online são as vantagens que Ana destaca nesse tipo de ferramenta. “[Existe] a possibilidade de o cliente obter informações em tempo real de todas as transações na conta bancária, saber das compras em seu cartão de crédito com alerta enviado por mensagem no celular e resolver situações sem ter de se deslocar até a agência.”
Educação financeira — Para o economista Cleberson da Silva Pereira, um dos autores do livro Reflexões Periféricas: Propostas em Movimento para a Reinvenção das Quebradas (Ed. Dandara, 2021), o uso das ferramentas tecnológicas ajuda no controle financeiro e nas decisões adequadas à realidade de cada um.
Pesquisador do Centro de Estudos Periféricos, Pereira salienta que essa organização depende, no entanto, do nível de educação financeira de cada pessoa.
Em momentos de crise, como o da pandemia do novo coronavírus, completa Regiane, a falta de educação financeira pode colocar as famílias em risco diante de imprevistos por não ter, por exemplo, reserva de emergência. “As famílias que tinham feito planejamento financeiro antes da pandemia e, portanto, tinham o controle do orçamento doméstico e dispunham de reservas financeiras, puderam enfrentar esse período de forma menos traumática”, diz.
A questão da educação financeira trazida por Pereira e Regiane faz parte da preocupação de outros estudiosos que concordam: o desconhecimento da população tem de ser superado, bem como a ausência de políticas públicas que reforcem esse saber. Pesquisa dos professores Cliff Robb e Ann Woodyard, em artigo publicado na Universidade do Alabama, nos Estados Unidos, mostra que tudo isso tem impacto no comportamento financeiro das pessoas.
Segundo Pereira, a tecnologia fornece instrumentos, como o uso de aplicativos entre outros aportes, mas antes disso está o conhecimento financeiro calcado na realidade. “Não essa educação que forma youtubers mirins que nunca trabalharam”, critica, ao comentar sobre dicas de finanças transmitidas em redes sociais por influenciadores que estimulam seus seguidores a poupar o dinheiro da mesada dada pelos pais ou de um intercâmbio à Disney para aplicação na Bolsa de Valores. Uma realidade econômica, segundo o economista, distante da maioria da população.
BANCOS DIGITAIS Levantamento da fintech N26, em parceria com a Accenture, multinacional que atua em soluções para o universo digital, mostra que o Brasil está em segundo lugar na adesão mundial a bancos digitais. Foram entrevistados 47 mil clientes de instituições digitais e convencionais em 28 países. Os bancos digitais são uma alternativa interessante para o público que ainda não tem conta em banco e/ou busca simplicidade e mais transparência ao fazer e receber pagamentos. Sem agência física, até a abertura da conta corrente é feita por aplicativo. As taxas são mais baratas e geralmente o cartão de crédito não tem anuidade. Ana Rosa Vilches, doutora em Educação Financeira, lista prós e contras dos bancos digitais. As condições específicas variam de uma empresa para outra Vantagens Abertura de conta sem burocracia Acesso fácil em qualquer lugar que tenha internet Serviços 24 horas Todos os serviços de um banco convencional Saques ilimitados no Banco 24 horas Transferências ilimitadas, sem taxa Taxas mais baratas Rendimento de saldo em conta pode ser superior à poupança convencional Inexistência de filas Atendimento ao cliente online e mais ágil Desvantagens Ausência de contato humano Insegurança em fazer uso de serviços bancários no ambiente digital Saques em dinheiro apenas em Banco 24 horas, com cobrança de taxas por algumas instituições financeiras O cliente pode achar difícil usar o app