Promover o desenvolvimento local por meio de ações de autogestão, autonomia e trabalho coletivo é uma parte das propostas dos chamados bancos comunitários. Essas instituições financeiras colocam em prática uma tecnologia social de apoio à geração de trabalho e renda nas comunidades.
Defensor da iniciativa, o economista Cleberson Pereira, um dos autores do livro Reflexões Periféricas: Propostas em Movimento para a Reinvenção das Quebradas, publicado em 2021, acredita que os bancos comunitários atuam como uma alternativa ao sistema financeiro tradicional e que atenda pessoas invisibilizadas pelo mercado, entre as quais está a população pobre, preta e periférica. “Acredito que a proposta é criar novas redes, novas centralidades e novas cadeias de valor”, diz Pereira. O objetivo do banco comunitário, explica, é desenvolver economias locais, apoiar pessoas e ajudar os pequenos negócios a partir do microcrédito.
A economista Regiane Vieira Wochler também ressalta a importância das redes de bancos comunitários. “São uma ferramenta importante para desenvolver os territórios a partir de suas próprias vivências e especificidades”, afirma.
Regiane faz parte do Observatório de Bancos Comunitários, um grupo multidisciplinar acadêmico que desenvolve pesquisas e divulga instrumentos de economia solidária. O foco está no modo com as instituições contribuem para o desenvolvimento econômico e social dos territórios periféricos.
Esses bancos comunitários estão se digitalizando para reduzir custos e oferecer mais serviços para a população. Uma das funções é o monitoramento dos gastos e a possibilidade de fazer uma reserva para um projeto (Cleberson Pereira, economista)
Pereira e Regiane recomendam o aplicativo dos Bancos Comunitários de Desenvolvimento, o e-dinheiro. “A gestão é comunitária”, explica Pereira. “Esses bancos estão se digitalizando para reduzir custos e oferecer mais serviços para a população. Uma das funções é o monitoramento dos gastos e a possibilidade de fazer uma reserva para um projeto.”
O e-dinheiro é uma plataforma nacional e representa uma moeda social digital que pode ser utilizada nos comércios que a aceitam. Qualquer cidadão interessado abre uma conta via site ou celular. A lógica dos bancos comunitários, diz Regiane, é evitar “o vazamento de recursos do circuito inferior e desenvolver sustentavelmente negócios locais.”
Circuito inferior é um conceito usado pelo geógrafo brasileiro Milton Santos (1926-2001), no livro Pobreza Urbana, ao tratar de economias que envolvem comércios pequenos, locais, mais artesanais. O "circuito superior", por sua vez, abrange a indústria urbana moderna. O circuito inferior abrange, em grande parte a população pobre nas cidades
A tempo: ainda sobre serviços financeiros voltados ao contexto periférico, Regiane chama a atenção para o surgimento de fintechs (startups de tecnologia e finanças) com objetivos sociais. Como exemplo, ela cita o Grupo DX que opera com mulheres, negros, população LGBTQIA+, idosos e pessoas com deficiência. “Acredito que nos próximos meses a oferta de serviços para esses nichos deve aumentar”, avalia.
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