“E se eu falar pra vocês que a gente vai construir outra biblioteca comunitária com livros de autores negros, e dessa vez focada em livros infantis?” Foi esta a mensagem que a estudante de pedagogia e trancista Tati Nefertari, disparou para sua rede na segunda-feira, dia 21 de março de 2022. Na sequência, ela avisou que precisará de ajuda na empreitada. “Vai ser um espaço cultural e educacional para nossas crianças.”
O desejo de Tati não é exclusivo. Ela faz parte de um coletivo articulado entre oito pessoas pretas, que mobiliza ações sociais para a Cidade Tiradentes. O grupo batalha agora por uma nova biblioteca comunitária, dessa vez dedicada à literatura racial infantil — além de atividades culturais e brincadeiras.
Na minha quebrada não tem um espaço seguro e cultural para que as crianças possam aprender, se desenvolver ou simplesmente brincar (Tati Nefertari)
CIDADE TIRADENTES
É um dos distritos com maior número de pessoas negras em São Paulo. São 56,1% dos moradores, segundo o Mapa da Desigualdade de 2020, divulgado pela Rede Nossa São Paulo. A Cidade Tiradentes fica na periferia da zona leste da capital paulista e abriga o maior complexo de conjuntos habitacionais da América Latina, com cerca de 40 mil unidades construídas, em sua maioria, na década de 1980 pela Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo (Cohab)
“A ideia de construir outra biblioteca comunitária é expandir o trabalho que já fazemos na Biblioteca Comunitária Assata Shakur [no mesmo bairro] e disponibilizar para crianças e adolescentes um espaço cultural”, conta Tati. “Sou moradora da Cidade Tiradentes e vivo no local em que iremos construir a nova biblioteca, na minha quebrada não tem um espaço seguro e cultural para que as crianças possam aprender, se desenvolver ou simplesmente brincar.” Ela explica que o objetivo é começar oferecendo as atividades para um público infantil, como reforço escolar, aulas de balé e hip-hop e projeto de férias.
Mais livros em Cidade Tiradentes — Desde 2019 o coletivo do qual Tati faz parte mantém a Biblioteca Comunitária Assata Shakur, com acervo de autores negros e questões raciais.
O nome da instituição é uma homenagem à ativista negra Assata Shakur, nascida em Nova York em 1947. Assata atuou principalmente nos anos de 1960 e 1970, quando integrou o partido dos Panteras Negras e liderou a organização Black Liberation Army em movimentos pela liberdade dos negros norte-americanos. Atualmente, vive exilada em Cuba e figura na lista de pessoas mais procuradas pelo FBI.
Como colaborar — A nova biblioteca vai se chamar Quilombo seu Gustavo, em homenagem ao avô de Ingrid Tauany, de 19 anos, fundadora do projeto. “Um ancestral que em vida foi muito conhecido por lá e que sempre ajudou ao próximo no que podia. Uma pessoa muito querida por todos”, diz a neta. “Achamos importante manter sua memória viva e temos certeza de que o pessoal vai gostar e se identificar bastante.”
O valor estimado para a construção é R$ 20 mil. Até o momento, foram arrecadados R$ 9 mil que estão destinados a pedreiros e materiais de construção. O coletivo recebe doações de livros na Rua Chaberá, 190, Vila Formosa. Doações por PIX podem ser feitas pelo e-mail bibliotecaassatashakur@gmail.com.