Os recentes “Desafio Momo” ou “Desafio do desodorante”, que causou a morte de um menino mineiro de 10 anos na quinta-feira, 25 de agosto, fazem parte desse tipo de “brincadeira” que coloca em risco a segurança e a vida de crianças e adolescentes
Com reportagem de João Ker, O Estado de S.Paulo
Desde 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem considerado os “jogos perigosos” (hazardous games, em inglês) como um distúrbio comportamental listado na Classificação Internacional de Doenças (CID). Os recentes “Desafio Momo” ou “Desafio do desodorante”, que causou a morte de um menino mineiro de 10 anos na quinta-feira, 25 de agosto, fazem parte desse tipo de “brincadeira” que coloca em risco a segurança e a vida de crianças e adolescentes.
Os "jogos perigosos" são definidos pela OMS como "um padrão de jogatina, online ou offline, que aumenta sensivelmente o risco de consequências prejudiciais à saúde mental ou física" de um indivíduo.
O perigo pode se manifestar tanto pelo excesso do tempo gasto com a “brincadeira” quanto pelos “comportamentos e consequências de risco” associados diretamente às regras do jogo. No caso do “desafio do desodorante“, por exemplo, os participantes são incentivados a inalar aerossóis impróprios para o consumo humano.
Dados do Instituto Dimicuida apontam que pelo menos 27 crianças e adolescentes morreram no Brasil até o ano passado ao tentarem algum dos “jogos perigosos”.
“Proibir o acesso à internet não adianta e, assim, não chegamos a lugar nenhum. É preciso alertar as crianças da mesma maneira que você ensina a prestar atenção ao atravessar a rua, por exemplo”, aponta a pediatra Evelyn Eisenstein, coordenadora do grupo de trabalho Saúde Digital da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). “A internet é um local público e as pessoas podem colocar qualquer coisa lá. Deixar uma criança sozinha com o celular ou o computador é como largá-la no meio do Parque Ibirapuera e esperar que nada aconteça”.
Psicóloga e colunista do Estadão, Rosely Sayão ainda explica que é importante diferenciar o tratamento e a vigilância entre crianças e adolescentes a partir dos 13 anos, que demandam um monitoramento mais “discreto”. “O ideal é fazer um trato de que ele vai ver o celular e frequentar as redes sociais, porém ciente de que os pais depois vão ver o que foi feito. Mas não pode fazer isso escondido, precisa ser às claras”, ressalta. “Essa atitude já é um controle e pode fazer com que eles evitem fazer alguma coisas por saberem que o pai ou responsável não vai gostar.”
No caso das crianças, uma dica que ela dá é, por exemplo, espelhar a atividade do celular na televisão. “Elas não têm ideia do que é a internet e não consegue fazer avaliação de riscos, exceto em pequenas coisas do dia a dia.” Essa falta de experiência e capacidade para avaliar riscos associada à pressão de amigos é o que pode levar uma criança a, por exemplo, inalar o aerosol de um desodorante: “Pode parecer apenas uma brincadeira, porque ela não sabe o que tem ali dentro e não faz ideia do que pode acontecer”, aponta Rosely. Acima de tudo, ela frisa, é importante que os pais não confiem nos filhos:
“Tanto a criança quanto o adolescente vão agir de acordo com a idade que têm e desobedecer, se rebelar etc.. É o contrário que precisa acontecer: os filhos que precisam confiar nos pais, para dividirem as dúvidas com eles.”
Abaixo, ela elenca algumas dicas de como pais e responsáveis podem abordar esse problema e se prevenir contra os “jogos perigosos”.
DICAS DE COMO PAIS E RESPONSÁVEIS PODEM ABORDAR ESSE PROBLEMA E SE PREVENIR CONTRA OS ‘JOGOS PERIGOSOS’
- Alerte sobre os desafios que existem e por que eles são perigosos
- Converse e alerte sobre a pressão social dos amigos e como não se deixar levar
- Nunca deixar a criança ou o adolescente sozinho e trancado no quarto jogando videogames online
- Procure saber e conheça quem está do outro lado da tela
- Atente-se ao conteúdo disseminado pelos jogos
- Estabeleça horários e regras para o uso da internet
- Se necessário, espelhe o conteúdo do celular em uma TV