Imagino que você tenha pegado a referência do título da famosa música do Racionais MC’s Vida Loka pt.2. Nela, Mano Brown canta sobre mostrar para todas as pessoas que preto e dinheiro não são palavras rivais. Essa frase sempre ecoou na minha vida como um chamado para mostrar que a nossa capacidade de consumo pode, sim, influenciar positivamente o mundo e provocar mudanças.
Se eu te disser que essas mudanças já estão acontecendo, você acredita? Elas estão partindo de dois pontos:
- Os consumidores que estão exigindo empresas mais conscientes e hoje entendem o poder do seu consumo;
- As instituições financeiras que entenderam que investir em diversidade é importante para a sociedade e para as empresas.
A sociedade já está vivendo uma mudança. Atualmente, com a evolução dos movimentos sociais e a organização de grupos sub-representados, criaram-se mercados como black money e pink money, que são representações da capacidade de consumo da população negra e da população LGBTQIA+. E esses movimentos têm influenciado diversas empresas a terem ações voltadas para estes grupos. E por quê? Porque dá lucro.
No último ano, somente a população negra no Brasil movimentou mais de R$ 1,7 trilhão, enquanto a população LGBTQIA+ movimentou mais de R$ 420 bilhões em 2020. Com esses números, nenhuma empresa pode ignorar o quanto é importante fazer ações que levem um público diverso mais para perto de seus serviços ou produtos.
Também existem outros movimentos que estão influenciando o mercado, não necessariamente vindo dos consumidores, mas das instituições que fornecem crédito. As instituições financeiras estão exigindo medidas, ações e regulações para que empresas construam um lugar melhor para todos e todas. Por quê? Porque também dá lucro, e além disso, constroem um mundo melhor. O nome mais famoso desse movimento, atualmente, se chama ESG (ASG, em português).
Mas o que é ESG? — ESG é uma sigla que significa Ambiental (Environmental), Social (Social) e Governança (Governance). Basicamente, é uma forma de avaliar as empresas para entender se elas estão diminuindo o impacto negativo que geram e criando práticas melhores para todos.
“Ah, Tarso! Empresas são legais. Sem elas não teríamos Netflix, chocolate e meu tênis bonitão”. Eu sei que empresas desenvolvem produtos importantes para o nosso dia a dia, mas você sabia que para fazer uma busca no google se gasta mais energia que deixar uma lâmpada ligada por duas horas? Você sabia que o seu tênis pode estar sendo feito com mão-de-obra escrava? Eu sei que você já entendeu o ponto. Todo desenvolvimento tem um custo ambiental e social e, por isso, precisamos constantemente buscar melhores práticas nos processos. Em outras palavras, uma empresa com políticas ESG está focada em reduzir os seus danos para construir um negócio melhor e também um mundo melhor para todos.
Mas ESG e Diversidade tem a ver? Sim, dentro do ESG, uma das dimensões que é avaliada é a Diversidade e Inclusão nas empresas, ou seja, se as empresas executam essas ações de forma estratégica, pois as posicionam bem perante o mercado consumidor (NÓS) e também o mercado financiador (BANCOS). E nessa busca por mais diversidade, nós também podemos nos beneficiar. Porém, talvez você deva estar se perguntando agora o que essa “Diversidade” significa. Calma, já vou explicar melhor…
Mas o que é Diversidade? — Quando citamos Diversidade para o mundo corporativo, estamos falando sobre ações que ajudam grupos sub-representados a ingressar e permanecer dentro de espaços empresariais. Hoje, o mercado formal de trabalho é composto, em sua maioria, por pessoas brancas, heterossexuais, sem deficiência, com alta escolaridade, idade entre 25 a 45 anos e do gênero masculino.
Se você não se encaixa dentro dessa descrição, certamente faz parte dessa Diversidade. Se, por exemplo, é uma pessoa negra (preta ou parda), mulher, LGBTQIA+, se possui deficiência, e/ou tem mais que 50 anos, provavelmente você terá dificuldade em ingressar no mercado de trabalho ou empreender, em comparação com o perfil que descrevi acima.
Porém, a diversidade corporativa tem como objetivo desenvolver diversos aspectos dentro das empresas, desde sensibilizar com uma palestra, educar líderes, achar talentos diversos para ocupar cargos, medir a diversidade, elaborar políticas e até pensar em ações para redução do turnover (a rotatividade) de colaboradores(as) de grupos minorizados.
Historicamente, o Brasil é um país desigual. Na pandemia, grupos diversos foram os mais afetados pelo desemprego ou a falta de renda, o que contribui ainda mais para o abismo da desigualdade que vivemos.
Entretanto, como dito anteriormente, as empresas estão mais conscientes sobre as exigências dos(as) consumidores(as) e das instituições financeiras e os impactos que a pandemia teve em grupos da diversidade, e isso fez com que essas empresas tenham se movimentado para realizar iniciativas que reduzam este cenário. Veja abaixo algumas delas.
Programas de Inclusão — Os programas de inclusão focados em diversidade são uma forma que as empresas encontraram de recrutar e selecionar exclusivamente grupos sub-representados. São equivalentes às ações afirmativas, que buscam corrigir desigualdades presentes na sociedade e acumuladas ao longo de anos. Vamos aos exemplos?
Magazine Luiza Um dos programas mais famosos foi o da Magazine Luiza, que criou em 2020 um programa de trainee exclusivo para pessoas negras. Após a grande repercussão, repetiu o programa em setembro de 2021 e transformou em uma ação fixa em seu quadro de contratações. Nubank Neste ano, o Nubank também tem se destacado na pauta de diversidade e inclusão. A empresa de tecnologia criou um programa de formação e contratação de mulheres para tecnologia. O programa faz parte da meta da empresa de atrair mais mulheres para a equipe. Vale A Vale está olhando para diversidade de forma mais estratégica, abrindo 45 vagas exclusivas para mulheres em diferentes níveis no Brasil todo. A ação impulsiona o objetivo de dobrar a representatividade feminina na empresa até 2030
Eu trouxe esses exemplos para você ficar de olho em oportunidades como essa, que irão surgir cada vez mais. Geralmente, nesses processos seletivos, as empresas auxiliam os candidatos em toda a jornada e entendem que, pela questão histórica da falta de oportunidades iguais, precisam apoiar a candidatura das pessoas de grupos minorizados para que consigam participar do processo até o fim e terem mais chances de ser selecionadas.
É importante deixar claro que as empresas não fazem isso só porque são legais, mas porque essas ações são estratégicas para o negócio como um todo. Diversidade traz inovação para empresa, ampliação do mercado e por consequência, lucro.
Banco de talentos para diversidade — Uma outra forma de se beneficiar das ações de inclusão é se cadastrar em empresas especializadas no recrutamento de pessoas pertencentes a grupos de diversidade. É bem simples: você acessa o site da empresa e se inscreve com o seu currículo e experiências profissionais e educacionais. Aqui embaixo estão alguns exemplos de empresas que disponibilizam essas oportunidades.
Troca A TROCA é especializada no recrutamento de públicos da diversidade e auxilia as empresas a se tornarem mais diversas através de Programas de Inclusão. Acesse o site, envie uma mensagem dizendo que quer fazer parte do banco de talentos e você receberá um link para cadastro. Mais Diversidade Consultoria voltada para diversidade e inclusão. Experiente no mercado, também tem um banco focado em pessoas LGBTQIA+. Você pode entrar no site e realizar o seu cadastro.
Tem oportunidades para micro e pequenas empresas também! — Outra ação de impacto social que algumas empresas vêm realizando é incentivar ou até mesmo exigir que seus fornecedores invistam em diversidade. Dessa forma, podem oferecer mais oportunidades para que empresas ou empreendedores(as) representantes de grupos minorizados se tornem seus fornecedores. E isso acontece através de busca ativa por fornecedores diversos e também da redução da burocracia no cadastro e pagamento pelos produtos e/ou serviços prestados. Conheça mais alguns programas que podem beneficiar você e seu micro ou pequeno negócio.
AMBEV Em julho de 2021, organizada através de uma parceria, a AMBEV fez uma chamada pública para diferentes tipos de serviços, desde fornecimento de papel higiênico a limpeza de caixa d'água, e era exclusivo para empresas fornecedoras fundadas e geridas por pessoas de grupos diversos. Mastercard A Mastercad, por exemplo, tem políticas globais estruturadas para criar uma cadeia de fornecedores que abrace a diversidade. Em seu site, deixam todas as áreas que estão com chamadas abertas para você submeter sua empresa.
Também existem instituições ou ações focadas em conectar empresas diversas a outras empresas compradoras.
Integrare Criada em 1999, a Integrare é especializada em conectar empresas fundadas por representantes de grupos diversos a empresas compradoras. Ela tem a missão de criar uma relação de benefício mútuo entre fornecedores de minorias e grandes corporações. Rodadas de Negócio Esta ação é super simples e basicamente junta duas pontas: a oferta e a demanda. Porém, desde 2018, existem rodadas específicas para os grupos da diversidade terem oportunidades com grandes empresas. O SEBRAE e o SISTEMA B, entre outras instituições, organizam de forma contínua essas atividades.
O poder que temos como consumidores — Você já deve ter percebido que Diversidade e dinheiro não são rivais. Na verdade, são complementares e mostram que, somados, podem influenciar mercados, criar oportunidades de crescimento e, principalmente, gerar grandes transformações sociais.
É importante, como consumidores, que tenhamos essa consciência porque ela é poder. Mas como dizia o tio de alguém, “junto com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”, e não podemos nos isentar sobre as ações das empresas que influenciam tanto as nossas vidas. Precisamos exigir que elas mudem, já que queremos nos ver representados(as) nelas e nos produtos e serviços que oferecem. Não pense que elas não nos escutam, pois sim, pessoal, elas estão nos ouvindo! Aproveite esse movimento.
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