Autogestão, produção sustentável e lucro nas mãos de quem produz são bases da economia solidária e norteiam o projeto Conexões PeriFeira, em São Paulo. Voltado a capacitar mulheres da periferia para que conquistem autonomia econômica e social, o programa é gratuito, tem vagas limitadas e inscrições abertas até o dia 25 de março.
Serão selecionadas 30 artistas e/ou empreendedoras de baixa renda. A iniciativa é exclusiva para paulistanas cis ou transexuais. Serão atendidas, com prioridade, mães, indígenas, negras, imigrantes e LGBTQIA+.
Estruturado com recursos da Prefeitura, por meio do Programa de Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), e organizado pelo coletivo da Feira Agroecológica e Cultural de Mulheres no Butantã, o Conexões oferece às selecionadas um ciclo de 12 aulas online, a partir de 23 de junho. Os encontros ocorrerão às quintas-feiras, das 19h às 21h30.
Em uma atividade prática, as alunas vão expor produtos e serviços na PeriFeira de Mulheres, organizada por elas e marcada para o dia 21 de agosto, no Butantã. A expectativa é receber mais de 300 visitantes. Haverá ajuda de custo para transporte e alimentação no dia da feira, mas é necessário que as candidatas tenham smartphone para acessar as aulas por meio do chip de celular oferecido pela organização.
Articulação em rede — A geógrafa e gestora de projetos Julia Lourenção, de 28 anos, afirma que um dos principais objetivos da iniciativa está em encontrar alternativas justas de produção. Julia é uma organizadoras do Conexões e integra o coletivo da Feira Agroecológica e Cultural de Mulheres do Butantã, grupo comunitário responsável pelo projeto de capacitação.
“A economia solidária parte de uma perspectiva de que o produtor deve ter autonomia, não precisa vender a força de trabalho e se sujeitar a todo tipo de opressão para ter só o pão para comer ao final do dia. A ideia é construir circuitos de circulação de dinheiro e de produtos para garantir que a riqueza permaneça na localidade de origem”, explica. Essa autonomia está diretamente ligada à autogestão, modelo em que a administração, as decisões e o lucro da empresa são divididos entre os trabalhadores.
O curso Conexões PeriFeira tem no programa aulas de gerenciamento e gestão, finanças, legislação e comércio de produtos estruturado em redes de apoio para garantir a autonomia das mulheres.
Ecos do coronavírus — Julia reforça a importância da iniciativa em tempos de pandemia de covid-19, quando os cuidados familiares seguem sob responsabilidade das mulheres. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), entre o quarto trimestre de 2019 e o ano de 2020, mais de 8 milhões de mulheres deixaram o trabalho para, entre outras razões, cuidar da casa e dos familiares.
A Feira Agroecológica e Cultural de Mulheres do Butantã, formada por 60 participantes, também foi impactada pela expansão da doença. “Tivemos uma baixa de 25% entre nossas empreendedoras, porque se afastaram no contexto de crise de econômica com a necessidade de geração urgente de renda e diante da instabilidade emocional que a pandemia trouxe. São muitas mães que precisam dar conta da vida, cuidar dos filhos e dos parentes que adoeceram”, diz Julia.
Interrompidos os encontros presenciais, o coletivo começou a participar de editais, e o VAI foi um deles. Surgiram também aulas, oficinas e mesas para o trocas de conhecimento.
Foi nesse percurso que o grupo observou o potencial formativo das atividades no Butantã e resolveu preparar o ciclo de palestras para as mulheres de olho na formação de redes solidárias. A ideia é manter a integração entre artistas, artesãos, arte-educadoras e pequenas empreendedoras periféricas como agricultoras familiares, cozinheiras e produtoras de alimentos agroecológicos, numa lógica de colaboração feminina e feminista.
Projeto Conexões PeriFeira de Mulheres Inscrições: 7 a 25 de março Quem pode participar: mulheres periféricas, mães, indígenas, negras, imigrantes e LGBTQIA+ Formulário de inscrições: neste link WhatsApp: + 55 11 4141-7052