O que você faria se pudesse solicitar um empréstimo hoje mesmo, sem muitas burocracias? Investiria em um novo negócio? Faria a tão sonhada reforma na casa? Ou aproveitaria a oportunidade para quitar dívidas?
Em linhas gerais, podemos afirmar que optar por um empréstimo é uma grande responsabilidade e exige organização e planejamento financeiro. Porém, muitos brasileiros estão recorrendo ao crédito consignado, de forma emergencial, para suprir necessidades básicas, como pagar o aluguel da casa, trocar o gás e, até mesmo, comprar alimentos. Isso porque entrou em vigor, no dia 11 de outubro, a Lei 14.431/2022, que amplia a margem de crédito consignado para os mais de 20 milhões de beneficiários do Programa Auxílio Brasil, antigo Bolsa Família.
O objetivo da medida é permitir que famílias que, atualmente, não têm acesso a crédito, possam se organizar financeiramente. Entretanto, apesar de o empréstimo representar um alívio momentâneo para algumas famílias, a alternativa é criticada por muitos especialistas, que acreditam que a medida pode aumentar o endividamento das mesmas.
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COMO FUNCIONA O EMPRÉSTIMO CONSIGNADO DO AUXÍLIO BRASIL?
De modo geral, o empréstimo consignado é um tipo de crédito que desconta as parcelas diretamente na folha de pagamento. No caso do Auxílio Brasil, as parcelas serão descontadas diretamente no valor mensal pago ao beneficiário.
Por ter um menor risco de inadimplência para as instituições financeiras, normalmente esse tipo de empréstimo oferece taxas de juros menores em comparação a outros tipos de empréstimo. Pelas regras definidas pelo governo federal, o consignado do Auxilio Brasil tem juros de 3,5% ao mês, podendo ser dividido em 24 meses, com prestações mínimas de R$ 15 e não podendo passar de 40% do valor total do Auxilio Brasil.
VALE A PENA RECORRER AO EMPRÉSTIMO CONSIGNADO DO AUXÍLIO BRASIL?
De acordo com Rodrigo Bernardo, educador financeiro na Barkus, quando se trata de saúde financeira, não existe certo ou errado. Tudo vai depender da realidade de cada família. “O mais importante é ter em mente que qualquer empréstimo, antes de ser tomado, precisa ser planejado.
Principalmente quando é direcionado para pessoas que não possuem acesso à educação financeira e que estão em situação de vulnerabilidade social”, explica o especialista.
O empréstimo consignado do Auxílio Brasil pode ser uma boa saída para pessoas inadimplentes, por exemplo, que buscam linhas de crédito com taxas de juros menores para quitar dívidas já existentes. Porém, o educador financeiro também alerta que, mesmo nesses casos, é preciso estar de olho no montante final da dívida, pois, às vezes, uma dívida tem uma taxa de juros anual menor, mas ao ser parcelada em mais vezes, seu valor total acaba ficando mais caro do que a opção original.
Além disso, saúde financeira tem tudo a ver com a liberdade de escolher qual vai ser o destino do nosso dinheiro e um empréstimo consignado tira essa liberdade, pois, em uma situação de emergência, não há a possibilidade de deixar de pagar a parcela da dívida para priorizar tal emergência financeira, por exemplo.
Sabemos que a população brasileira, em geral, não tem acesso à educação financeira e desconhece de maneira profunda conceitos como os de juros e inflação e as diferenças entre os serviços financeiros disponíveis. Tudo isso pode criar uma “bola de neve” na vida de pessoas em situação de vulnerabilidade financeira.
QUAIS SÃO OS RISCOS DE CONTRATAR O CRÉDITO CONSIGNADO DO AUXÍLIO BRASIL?
Apesar de os juros de 3,5% estabelecidos pelo Ministério da Cidadania estarem abaixo dos juros de um empréstimo pessoal, por exemplo, essa taxa continua sendo maior do que os juros para outros tipos de empréstimo consignado, como os concedidos para aposentados, pensionistas e servidores públicos.
Tratando-se de uma realidade em que quase 80% das famílias brasileiras estão endividadas e 29% estão com contas atrasadas – de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) referentes ao mês de julho de 2022 — esse cenário acaba aumentando as chances de o acesso ao crédito consignado gerar ainda mais problemas financeiros, acarretando em mais endividamento.
Mas, além de se planejar e ficar atento aos juros, no caso do consignado do Auxílio Brasil, a atenção precisa ser redobrada, pois de acordo com as regras divulgadas pelo governo, caso o auxílio seja cortado, extinto, ou tenha suas regras mudadas, o valor do empréstimo precisa ser pago mesmo assim.
Ao contratar o empréstimo consignado do Auxilio Brasil, o beneficiário do programa está assumindo um compromisso direto com a instituição financeira que emprestou o dinheiro. Por isso, se por algum motivo (como ficar com dados desatualizados no Cadastro Único, por exemplo), a pessoa deixar de receber o benefício, ainda assim, terá de arcar com a dívida e continuar pagando as parcelas até o final do prazo do contrato.
No caso de ausência do recebimento do benefício, as parcelas passam a ser cobradas por meio de emissão de boleto e, como em qualquer outro empréstimo, caso o pagamento não seja feito até a data do vencimento, serão cobrados juros por atraso, aumentando o valor da dívida. Por isso, caso você decida pegar o empréstimo, é importante entender qual vai ser o impacto dessa parcela no seu orçamento e, acima de tudo, entender que a dívida não é com o governo, mas sim com uma instituição financeira.