O reconhecimento é um dos mais relevantes da literatura nacional; ‘As Casas de Unzó’ está entre os cinco livros que concorrem ao grande prêmio na categoria juvenil
Um dos finalistas do prêmio Jabuti, o mais tradicional prêmio literário do Brasil, cedido pela Câmara Brasileira do Livro, é um jovem de 24 anos morador da periferia da zona leste de São Paulo. Ciano Buzz concorre na categoria juvenil, com o livro de estreia As Casas de Unzó — uma publicação independente ilustrada pelo artista visual Cauã Bertoldo.
ATENÇÃO: NO DIA 8 DE NOVEMBRO ESTE TEXTO, PUBLICADO ORIGINALMENTE NO DIA 4 DE NOVEMBRO, FOI ATUALIZADO PARA INCLUIR A INFORMAÇÃO DE QUE 'AS CASAS DE UNZÓ' PASSOU PARA A PRÓXIMA ETAPA DO JABUTI E ESTÁ ENTRE OS CINCO FINALISTAS. O VENCEDOR SERÁ ANUNCIADO NO DIA 24 DE NOVEMBRO
O Prêmio Jabuti 2022 ao todo 4.290 inscrições para 20 categorias — cada uma delas tem 10 selecionados na primeira fase. Na etapa do dia 8 de novembro são conhecidos os 5 finalistas e, no dia 24 de novembro, os vencedores.
Para Ciano Buzz, o momento atual abre brecha para reimaginar o futuro nas periferias. “O que mais nos é roubado por causa do capitalismo é o direito ao tempo. Ter tempo para entender nosso passado, presente e futuro é importante. Reimaginar o futuro tem a ver com entender que a favela vence quando a gente vence junto”, comenta. “Utopia é esperança. Se a gente não conseguir pensar em um futuro diferente, a gente morre. A gente precisa ter uma utopia, mas isso só acontece coletivamente”, completa.
Ao mostrar um menino que perdeu a casa e, junto com a avó, ficou sem ter onde morar, As Casas de Unzó propõe uma reflexão sobre ocupações, direito à moradia e sobre como esse direito foi violado durante a pandemia de covid-19. Na escrita, o autor quis tratar do tema de um jeito mais poético, e combinou a seu estilo o palavras de idiomas falados em Angola e no Congo, países do continente africano, a exemplo de dengo, caçula e zangado.
Artista multimídia, candomblecista e LGBTQIA+, Ciano diz que sempre tem muitas ideias, anota tudo, e às vezes deixa engavetado. O livro foi escrito em 2016, mas só em 2019 ele o inscreveu no VAI (Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais), da Prefeitura Municipal de São Paulo — decidiu arriscar e foi selecionado. A obra ficou pronta em 2021 e as 300 cópias produzidas hoje estão espalhadas nas bibliotecas públicas municipais de São Paulo e nas bibliotecas das Casas de Cultura. Além disso, em 2023 será impressa uma segunda edição pela editora Jandaíra, disponível para venda ao grande público.
Ciano costuma se auto intitular como griô do futuro. Griôs são mestres de tradição oral, de acordo com as premissas africanas. Pessoas que obtêm e transmitem diversos tipos de conhecimento e são conhecidas como bibliotecas vivas (a propósito: ele também gravou um disco que está no Youtube). “Acredito que narrativas têm muito a ver com as formas de dominação e estruturas de poder, têm a ver com a gente retomar espaços. O futuro também, a forma que a gente narra é como a gente consegue mensurar possibilidades”, explica.