Pode parecer um exagero comparar o financiamento estudantil com a compra de um automóvel. Mas financiar um curso de medicina, por exemplo, pode sair mais caro que comprar um carro popular a cada seis meses.
Para ter uma ideia, um estudante pode financiar até R$ 7 mil do valor da mensalidade, o que corresponde a R$ 42 mil por semestre. Isso sem calcular os juros, reajustes e encargos que são previstos em alguns contratos de financiamento estudantil.
Meu intuito aqui não é te convencer que comprar um carro pode ser mais vantajoso que ingressar em uma universidade. Afinal, quem vem da periferia como eu sabe que fazer um curso superior é a esperança de um futuro melhor pra muita gente.
Cresci ouvindo da minha mãe que “a educação é a nossa maior riqueza, pois o conhecimento ninguém pode nos roubar”. Ela, que cursou apenas até o ensino fundamental, não teve condições financeiras para continuar os estudos. Para mim, porém, nunca existiu outro caminho para o desenvolvimento profissional e financeiro a não ser o da educação.
Cerca de 4 milhões de pessoas fazem o exame nacional do ensino médio, o Enem, todos os anos — fui uma delas. Apesar de ser a principal porta de entrada para o ensino superior no País, nem todo mundo consegue vaga em universidade pública pelo Sisu ou uma bolsa de estudos pelo Prouni. O que resta é arcar com as mensalidades de uma faculdade particular, e isso não é para qualquer bolso. É aí que entra o financiamento estudantil.
Um dos programas de financiamento para estudantes mais conhecidos no Brasil é o Fundo de Financiamento Estudantil, o Fies. Foi criado pelo Ministério da Educação (MEC) em 2001 para facilitar o acesso ao ensino superior no Brasil
As inscrições para o Fies 2022 começam vão de 8 a 11 de março. Mas, antes de pensar se a sua nota de corte vai ser suficiente para ingressar no ensino superior por ele, é importante entender que esse é um modelo de financiamento que exige muito planejamento financeiro para não se endividar no futuro.
Está em dúvidas sobre como funciona o Fies e se vale a pena assumir uma dívida para realizar o sonho de cursar uma graduação? Separamos algumas dicas que podem te ajudar na hora de tomar essa decisão sem abalar sua saúde financeira.
Como funciona o Fundo de Financiamento Estudantil?
O financiamento estudantil funciona como um empréstimo para ajudar a pagar as mensalidades da faculdade. Para participar do programa, o estudante faz o contrato com uma instituição financeira que fica responsável por pagar as mensalidades do curso escolhido.
Desde o lançamento do programa, em 1999, o Fies passou por diversas mudanças, a principal e mais recente, foi em 2018, quando passou a ser chamado de Novo Fies. As mudanças foram impulsionadas pelo alto índice de inadimplência dos estudantes: de acordo com o governo federal, atualmente passa de 1 milhão o número de pessoas que deixaram de pagar o contrato por mais de 6 meses.
Para solucionar o problema, o MEC dividiu o programa em duas modalidades:
O Fies, que oferta vagas de financiamento para o ensino superior com juro zero a estudantes de baixa renda.
O P-Fies, que aceita estudantes com renda familiar bruta máxima de até cinco salários mínimos, mas que possui juros nas mensalidades.
Fizemos um quadro com as principais diferenças das duas modalidades para que você possa entender os prós e contras de cada uma e analisar em qual você se enquadra.
Com essa divisão, na modalidade P-Fies, o risco de crédito foi transferido para os bancos. Nesse caso, as instituições financeiras têm liberdade para definir tanto os critérios de avaliação para liberação de crédito, como as condições de pagamento e juros.
Mas independentemente da modalidade escolhida é importante lembrar que com as mudanças do Novo Fies de 2018, não há mais carência para o início do pagamento das mensalidades. Isso significa que a partir do primeiro mês após concluir o curso, o estudante que tem uma renda comprovada é obrigado a iniciar a quitação do financiamento.
Mesmo que você esteja em uma situação financeira apertada, não tem como fugir e deixar essa dívida para depois. Isso porque o desconto é feito direto da folha de pagamento por meio do eSocial, um sistema do governo que unifica as informações sobre pessoas físicas em um só sistema. Isso inclui dados cadastrais, jornada de trabalho, remuneração e mudanças salariais.
Já nos casos em que o estudante se formou, mas não tem renda fixa, são cobradas prestações mensais mínimas até o pagamento total. Dessa forma, é estabelecido um limite de 14 anos para a quitação total do crédito financiado.
Como se planejar financeiramente para assumir essa dívida?
Apesar de muitas pessoas lidarem com o Fies apenas como mais uma porta de entrada à universidade, é importante lembrar que ele é um tipo de financiamento, e que assim como qualquer outro, exige muito planejamento financeiro.
Para te ajudar nesse momento de organização, separamos alguns pontos que precisam ser considerados e entrar na conta.
- Se prepare para reajustes, juros e encargos
Nem preciso falar que ler o contrato é indispensável na hora de assumir um financiamento, né? Principalmente na modalidade do P-Fies, reajustes, juros e encargos operacionais podem estar previstos em contrato e você precisa considerar todos eles em seu planejamento financeiro.
Além disso, independente da modalidade, o estudante também precisa pagar o seguro prestamista, que é obrigatório e prevê a quitação da dívida em caso de morte, invalidez ou desemprego involuntário do segurado. - Considere as despesas extras da faculdade
Um erro muito comum ao elaborar um planejamento financeiro para o Fies é considerar apenas o valor das mensalidades da faculdade. Além de mensalidade, transporte e alimentação, uma graduação envolve outras despesas que podem te pegar de surpresa.
Muitas universidades cobram o material didático, como livros e apostilas. Mas também há cursos que possuem materiais específicos, como acontece na graduação de odontologia, em que os alunos precisam comprar jalecos, luvas, alicates e outros materiais. - Faça uma reserva mensal
Mesmo que você decida iniciar o pagamento da mensalidade da faculdade apenas no final da graduação, ter uma reserva de emergência é essencial para evitar a inadimplência.
Você pode se programar para investir um valor fixo em uma aplicação financeira mensalmente ou sempre que conseguir poupar uma graninha. Assim, além de ter um dinheiro reservado para ajudar com os gastos extras da faculdade, quem sabe você não consegue programar uma viagem para comemorar a formatura? - Seja realista com o seu “eu do futuro”
“Quando acabar a faculdade vou conseguir o emprego dos sonhos, pagar a dívida do Fies, comprar uma casa e um carro.” É normal que sejamos super otimistas em relação ao futuro, e é isso que nos move. Mas na hora de montar um planejamento financeiro é preciso ter os pés no chão.
Conseguir um emprego após se formar ainda é uma tarefa que exige muita dedicação, então, pode ser que você demore um pouco para conseguir realizar os seus sonhos. Por isso, ter um plano realista de como irá pagar o financiamento no futuro é muito importante para que as parcelas não acumulem e você acabe entrando pra lista de inadimplentes do Fies. - Foco, força e fé
Por último, mas não menos importante, mantenha o foco no seu objetivo! Seja pela dificuldade financeira, ou por problemas pessoais durante a graduação, é normal ter vontade de desistir de tudo. Mas se o motivo do desânimo for financeiro, saiba que abandonando a graduação você não deixa de lado a sua dívida. Após ter o financiamento contratado e aprovado não há como desistir.
Mas se o seu objetivo for apenas mudar de curso, é possível pedir a suspensão temporária do Fies de até 4 semestres. Assim é possível esfriar a cabeça e encontrar um novo curso que te faça feliz.
Mas afinal, o Fies compensa?
Esse é sem dúvida o principal questionamento de quem está em busca de um curso superior, e a resposta é: depende! Antes de recorrer ao financiamento é indispensável analisar a sua realidade financeira, fazer projeções para o futuro e só assinar o contrato se as parcelas couberem no seu orçamento.
Além disso, se estiver saindo agora do Ensino Médio e sentindo a pressão para tomar uma decisão tão importante sobre seu futuro, saiba que é normal ter várias incertezas e inseguranças. Mas você não precisa decidir em um mês o que quer fazer pelos próximos 4 anos da sua vida.
Então, se puder, tire um tempo para estudar e pesquisar todas as possibilidades. Se ainda não souber qual curso fazer, existem vários testes vocacionais na internet que podem te dar um norte. Conversar com profissionais da área que deseja atuar também é uma boa opção para entender os desafios e tendências para o futuro da sua carreira.
Meu objetivo com esse texto foi te mostrar os pontos mais importantes que precisam ser considerados antes de optar pelo Fies. Mas se você tiver dúvidas sobre o processo de inscrição, cronograma e nota de corte, basta clicar aqui para acessar o site do Fies e ficar por dentro de tudo.
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