Pessoas, becos, vielas e grafites. O improviso e a criatividade da população para se adaptar a um modo de vida que exige “dar um jeito”. Esses são os assuntos mais frequentes nos trabalhos do fotojornalista Leonardo da Silva Brito. Aos 34 anos de vida e 10 de carreira, Léu Britto — como é mais conhecido — nascido na favela do Monte Azul, na zona sul de São Paulo. Seu portfólio tem mais de 50 mil fotografias de favelas e periferias do Brasil, sendo que no estado de São Paulo já retratou 200 comunidades.
Léu é co-criador do Di Campana Foto Coletivo, um projeto que acompanha o cotidiano de diversas periferias no objetivo de criar e manter um banco de imagens de regiões pouco registradas. “O termo ‘di campana’ é a pessoa que fica na função de olheiro do tráfico e de outras atividades na comunidade, é quem avisa quando rola alguma coisa errada. Nós somos os observadores das periferias, quando acha alguma coisa interessante, a gente intervém com um clique”, conta.
Em 2021, o fotógrafo lançou seu primeiro livro. A Gambiologia da Sevirologia saiu pela editora Porto de Cultura. Ao falar da lógica das imagens, que mostram as pessoas se virando para viver com o que têm, ele explica que gambiarra, na periferia, é buscar um objetivo. “Para nós, [gambiarra] nunca foi sinônimo de fazer as coisas mal feitas. Pelo contrário, é preciso fazer o que é preciso para se adaptar e alcançar um propósito.”
Mais do que se virar com o que tem, Léu acredita que as pessoas retratadas no livro são muito fortes. “São inúmeros exemplos do cotidiano periférico em que a frase do naturalista Charles Darwin se aplica. Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças. Nesse quesito, somos especialistas”, completa.
O livro A Gambiologia da Sevirologia pode ser encontrado pelas redes sociais da editora Porto de Cultura ou por email: photothingsbr@gmail.com
PRIMEIROS PASSOS Depois de estudar comunicação social, estagiar no jornal "Brasil Atual" (2012) e conhecer o projeto de jornalismo comunitário que daria origem à Agência Mural, Léu Britto (foto acima) conseguiu o primeiro trabalho de fotógrafo com carteira assinada. Isso foi em 2013, num núcleo de comunicação na Agência Solano Trindade — espaço que propõe inovação social e coletiva no Campo Limpo, periferia na zona sul de São Paulo. Lá ele gravou seu primeiro documentário, sobre as enchentes do bairro Jardim Maria Sampaio. De 2014 a 2017, Léu tomou conta de uma gráfica que ele mesmo criou, junto com o fotógrafo José Silva e o designer Cassimano depois de perceber que todos os eventos de que participava precisavam sempre de trabalhos gráficos. Na época, o investimento foi feito com verba de um edital municipal que eles foram comtemplados. "Fui contaminado pelo estilo de vida de sevirologia [habilidade de se virar com o que tem] que aprendi na Solano Trindade”, explica. Hoje, ele vive de fotografia e audiovisual independente. “Quis sair do grande mercado e voltar para a quebrada pra tentar ser mais feliz, e sou”, conta. “Entendi que a foto era a minha cara, a oportunidade de me comunicar melhor com as periferias, as pessoas, os movimentos sociais e o terceiro setor. Falava 'mano, eu nasci na favela do Monte Azul, mas, e as favela da norte, oeste, leste, como eu chego lá?' Entendi que seria com minha arte de fotografia, e ela foi me levando para onde eu quero estar. Falando, contribuindo, propagando as histórias dos meus, de quebrada."
Perguntado sobre acreditar ou não no poder de seu trabalho para inspirar outras pessoas, Léu diz não confiar muito nesta ideia. “Mano, não sei se meu trabalho gera inspiração e sonhos, pois retrato a vida como ela é nas favelas, se tem alegria clico, mas se a realidade é triste não romantizo e não fico fazendo poesia, clico também”, resume.
Mano, não sei se meu trabalho gera inspiração e sonhos, pois retrato a vida como ela é nas favelas, se tem alegria clico, mas se a realidade é triste não romantizo e não fico fazendo poesia, clico também
Um dos exemplos na carreira foi a própria pandemia em curso, também encarada pelas lentes. “Vi durante esses registros muita pobreza e fome”, comenta. “As doações e auxílios não foram suficientes para suprir a população que, mais uma vez, sofreu mais que todos, porque além das mortes, as condições de empobrecimento em suas vidas gritaram diariamente, fortemente”, emenda.
De olho no futuro, um dos projetos do fotógrafo nasceu em 2016, que é conhecer o maior número de favelas na próxima década. A pesquisa vai gerar outro livro, programado para 2028. “Em 2020 e 2021, registrei pouco as outras quebradas, como gosto de fazer, então acrescentei mais 2 anos, por causa da pandemia mesmo”, explica. “Vai ser minha contribuição, meu legado na vida. Muitas favelas nascem e morrem sem quase ninguém conhecer, é diferente de bairros como a Bela Vista ou Jardim Europa, que se você procurar tem um registro histórico de muitos anos atrás.”
Minha visão pros boy é a seguinte, se vocês um dia vão apagar nóis, firmeza, mas vocês tem q saber que nóis existiu tá ligado