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Conteúdo sobre as periferias pelo olhar de quem vive nelas
Home Na Perifa Colunas

Inspirada pela Liniker, agora me chamem de Odara Gabriela

Odara Grabriela Por Odara Grabriela
6 de dezembro de 2023
em Colunas, Na Perifa
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Odara Gabriela Santos Silva é o meu nome. Há poucos dias consegui os documentos com este nome. Minha trajetória começa na infância. Cresci em um lar católico e sempre fui orientada a conversar com Deus. Em minha inocência, sempre pedia para ser uma menina. Eu tinha o anseio de saber como o meu eu seria tomando a forma do gênero oposto. 

Os meus pensamentos eram: “Por que eu não posso ser uma menina?” e “Se existir outra vida, quero ser uma garota”. Vale ressaltar que sempre fui uma criança extremamente feminina, delicada e amorosa, atributos muitas vezes ligados ao gênero feminino. Isso causava estranheza nas outras pessoas que, desde sempre, sabiam que eu não seria a pessoa que eles planejaram em seus ideais.

Uma memória muito marcante da minha infância era quando eu pegava os saltos da minha mãe, as cobertas da cama e fazia grandes vestidos em magníficos desfiles. Sentia-me poderosa, ali eram os minutos em que eu me sentia livre.

O tempo passou, fui crescendo e me reprimindo cada vez mais. Guardei em uma caixinha a questão da minha identidade de gênero e não a questionei durante muitos anos, por medo, insegurança e angústia. Meu maior temor era decepcionar os meus pais, pois tudo o que faço em minha vida é pensando neles. Ter uma filha transexual daria margem para muitos pensamentos negativos, os quais eu ainda não me sentia pronta para desmistificar naquele momento.

O primeiro estágio para a minha jornada de autodescobrimento foi questionar minha orientação sexual. Acredito que seja assim para uma grande parcela da comunidade trans. 

Muitas pessoas atrelavam meu jeito “afeminado” na infância ao achismo de eu ser uma pessoa homossexual, o que era uma mentira, pois sempre me atraí por todos os gêneros. Sou uma pessoa panssexual (sinto atração pelas pessoas, independente do gênero delas), mas, enquanto uma pessoa que estava vulnerável e frágil, acatei aquilo que falavam sobre mim e me convenci de que eu era mesmo um garoto homossexual. Mas sabe quando não é exatamente aquilo? Quando o seu ser necessita se completar com algo que você ainda nem sabe o que é. Talvez seja confuso para você que lê, imagine para mim que vivi essa realidade.

O segundo estágio foi a autoaceitação. Pesquisei muito, li muito, acompanhei artistas que me inspiravam e eram semelhantes a mim. Finalmente me entendi, me encontrei. Foi libertador, mas muito angustiante. E agora, o que seria de mim? Qual rumo tomaria minha vida naquele momento? Buscava refúgio em pessoas que já tinham passado por isso. Uma das minhas maiores inspirações e aliada a essa minha jornada é a Liniker, cantora e multiartista. Sempre tive um carinho enorme por ela, e quando não sabia o que fazer, ouvia suas entrevistas e suas músicas, o que me dava um ar de esperança.

A frase “eu sou uma mulher transsexual” não saiu da minha boca, mas sim da minha mãe, como um questionamento. Quando já tinha ciência de quem eu era, comecei aos poucos a explorar novas características: um cabelo com tranças longas, roupas mais justas, maquiagem e unhas longas. Toda essa movimentação deixava minha mãe preocupada e sem entender. 

Para ela, eu era uma pessoa homossexual, e isso já bastava. Brigávamos muito, pois ela não entendia o motivo de eu estar “querendo fazer isso”. Foi aí então que a terapia com um profissional se tornou essencial. Percebi que seria algo complicado para ela lidar, e então pedi para ela procurar um psicólogo. Assim ela fez. Meu pai, em meio a tudo isso, ficava neutro, nunca me falou nada e sempre mediou as situações. 

Minha mãe, eu e meu pai

Até que um dia, sentamos todos para conversar sobre o que está acontecendo, e minha mãe me perguntou: “Você é trans?” Para mim, foi um choque tremendo. Não estava esperando essa pergunta e achei que seria um caminho muito mais complicado. Meus pais tiveram muitas dificuldades no início, mas hoje, graças às pessoas que nos rodeiam e ao muito diálogo, temos uma convivência de muito respeito, amor e cuidado.

O ano virou. 2023. Já estava certa de que queria iniciar minha terapia hormonal e retificar os meus documentos. Esperei meu aniversário de 18 anos para correr atrás disso com minhas próprias pernas, mas mesmo assim, minha mãe sempre fez questão de me acompanhar em todas essas etapas, a parceira da minha vida. Em primeiro momento, optei por tentar iniciar a terapia hormonal pelo convênio médico. Marquei a consulta e fiquei meses esperando para passar. Chegando lá, a médica olhou para mim e disse que “não fazia essas coisas”. Fiquei arrasada, decepcionada e indignada. Só mostrou que programas particulares muitas vezes não estão prontos para receber pessoas semelhantes a mim. 

Afirmo isso com toda a certeza, pois depois dessa consulta, entrei em contato com o convênio atrás de algum endocrinologista que atendesse pessoas trans, e eles disseram que não tinha. Ou seja, o meu corpo não cabia naquele espaço. Fui em busca do SUS. Achei que demoraria, mas foi um processo tranquilo, com profissionais que me acolheram e sempre buscaram solucionar minhas pendências. Agradeço especialmente à doutora Evelyne, que me orientou e foi essencial nessa trajetória. Após 2 meses de exames, finalmente entrei com as medicações. Atualmente, fazem 6 meses que faço terapia de forma segura e com profissionais que sempre me trataram da melhor forma. Nunca me tratando como um animal de zoológico.

Muitas meninas, quando iniciam a transição, se automedicam justamente por essa falta de acesso e preparo de muitos profissionais. A disforia (mal-estar psíquico acompanhado por sentimentos depressivos, como tristeza, melancolia e pessimismo) e a distorção de imagem nos fazem tomar decisões impulsivas. Precisamos acolher essas pessoas e orientá-las. Tive que pesquisar, estudar e conversar com muitas pessoas para saber os direitos que eu tenho.

A retificação de documentos é um processo demorado devido aos documentos necessários para solicitar sua nova certidão. Você tem pouca orientação e precisa pagar valores altos. Ao todo, tive que tirar mais de 20 cópias de documentos e pagar cerca de R$350 em todo o processo. Mas e quem não pode pagar esse valor? Consegui tirar todos os documentos necessários por meio do site Poupatrans, que disponibiliza uma cartilha com uma lista e um passo a passo de como tirar todos os documentos necessários, o que facilitou o processo. 

Todos os lugares que eu olhava só tinham uma lista, sem nenhuma instrução de como e onde tirar. Avaliando, percebo que a sociedade não está pronta para pessoas como nós. Não querem que sejamos quem somos e, por isso, não nos instruem e não facilitam os acessos. 

Demorei mais de 6 meses para conseguir solicitar a retificação, pois não tinha dinheiro, e isso fez com que os outros documentos que eu solicitei vencessem, e tive que fazer o processo todo de novo. Esse tipo de serviço deveria ser gratuito. Como dito anteriormente, nem todas as pessoas têm condições de pagar esse valor, e nenhum ser humano merece passar por situações constrangedoras por conta de um passado que não lhe pertence.

Depois de tantos perrengues, finalmente consegui ter minha certidão de nascimento em mãos. De fato, foi um momento de renascimento e ressignificação. Chorei muito por estar vivendo aquilo que a minha criança sempre quis viver, aquilo que minha criança sempre pedia a Deus. 

É muito além de um papel, muito além de um nome. É uma questão de trajetória e identificação. Sempre ouvi das pessoas que eu tenho uma luz e que comecei a brilhar ainda mais depois de toda a história que trilhei até aqui. E de fato, quando você vive a sua verdade, as coisas ao seu redor começam a fluir muito melhor. 

É importante ressaltar a importância de uma rede de apoio. Sempre contei com meus amigos e meus familiares, que me abraçaram e respeitaram quem sou, algo fundamental para o meu desenvolvimento pessoal.

Preta, moradora de periferia e transexual, essa sou eu. Contrariando todas as estatísticas e toda a visão equivocada que as pessoas têm sobre mim e minhas semelhantes,  vivo como se tivesse o poder de mudar o mundo. Isso me move. Quero direitos para os meus, mereço políticas públicas que zelem por quem somos. Com 18 anos e muitas coisas para contar, espero inspirar gerações com minha trajetória. Estejam prontos para receber a grande massa de pessoas como eu, pois viemos para revolucionar e quebrar paradigmas.

***Este conteúdo é uma coluna de opinião que representa as ideias de quem escreve, não do veículo. 

Tags: ColunasOdara Gabriela
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Comments 1

  1. Aninha says:
    1 ano ago

    Lindo sua história, Oda!!
    Você merece o mundo, merece cada coisa boa que a vida possa te oferecer❤️

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