O longa-metragem Selvagem, do diretor Diego da Costa, narra as aventuras de Sofia (Fran Santos) e Ciro (Kelson Succi), estudantes da periferia que mobilizam a comunidade para que sua escola não feche. Estão no elenco a atriz Lucelia Santos e o rapper Rincon Sapiência.
Filmado em julho de 2018 em uma escola pública de São Paulo, Selvagem chegou a ser cotado para representar o Brasil no Oscar 2022 [a escolha da academia brasileira, divulgada nesta sexta, 15, foi Deserto Particular]. Não emplacar, porém, não nem o brilho nem a relevância do trabalho: “Além de um filme, Selvagem é a ponta de lança de uma série de coisas que a gente acredita e pelas quais a gente luta. Tem sido tudo muito intenso”, diz Well Darwin, produtor de Selvagem.
Além de um filme, Selvagem é a ponta de lança de uma série de coisas que a gente acredita e pelas quais a gente luta
Well Darwin, produtor do longa de Selvagem
Os realizadores contam que o trabalho da equipe de 30 pessoas foi marcado do início ao fim por uma nova forma de ver o cinema e discutir seu papel na sociedade. “Foi um modo muito incomum e com muito respeito. O bem-estar das pessoas é mais importante que o filme. Todos estavam na mesma energia e comungando do mesmo objetivo. A opinião de um ator sobre a cena, por exemplo, tinha o mesmo peso e a mesma importância da opinião do diretor ou da diretora de fotografia. E essa convivência do set está impressa no filme”, afirma Darwin.
A atriz Fran Santos cresceu no Capão Redondo, na zona sul da capital paulista, e fez curso de teatro no CEU Vila do Sol, no Jardim Vera Cruz. Selvagem é sua estreia no cinema. “Estava atuando em coletivos da região que abordavam questões como negritude e LGBTQIA+, porém, o cinema não estava presente na minha vida. A escolha para participar do teste para o filme foi muito importante”, afirma a atriz, que chegou a trabalhar em telemarketing.
Assim como a personagem Sofia, Fran também acompanhou o movimento de ocupações das escolas públicas pelos estudantes secundaristas em 2015. A mobilização dos estudantes paulistas, que teve repercussão nacional, é o pano de fundo para a história contada na tela. “A Sofia me fez relembrar tudo o que eu vivi naquele ano de ocupação. Eu era muito nova, não podia sair ou dormir fora de casa e tinha um pouco da revolta que a personagem também tem, porque aconteceu da mesma forma comigo”, diz a atriz.
O diretor Diego da Costa destaca que a obra foi desenvolvida pensando nos jovens periféricos e professores brasileiros. “É um longa essencialmente brasileiro voltado para os brasileiros. É um filme feito por pessoas do interior, de outros estados, com bastante diversidade. A história conversa e se identifica com muitos públicos. Também é uma história de amor no meio da luta”, indica o diretor.
Os personagens que conduzem a narrativa dão o tom das transformações: Ciro é um estudante que gosta de poesia e arte, enquanto Sofia é uma aluna dedicada, muito inteligente e focada em passar no vestibular. Ela se posiciona contra a ocupação no início. Os dois são então absorvidos pelo movimento de indignação por melhorias na qualidade do ensino.
“Ciro é um cara avoado, um poeta e não se liga muito no que os colegas estão fazendo até entender que a arte tem tudo a ver com a luta. Essa foi a essência das ocupações de 2015, quando os jovens descobriram que o espaço público também pertence a eles, com direitos de cuidar e opinar sobre eles”, avalia o diretor.
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