Foi na Salvador de 2015 que a empreendedora social Lívia Suarez começou a perceber que no debate de mobilidade urbana a população periférica era excluída. À época, a baiana estava à frente do La Frida Bike, uma cafeteria itinerante que se transformou em movimento organizado e passou a aproximar mulheres negras e população periférica das questões de direito à cidade
Reportagem de Eduarda Nunes, do Favela em Pauta, no Rio de Janeiro
As atividades da La Frida Bike expandiram-se a partir do projeto de oficinas Preta, Vem de Bike, que ensina mulheres negras a pedalar e manusear bicicletas. Depois surgiram outras iniciativas, a exemplo do sistema de compartilhamento Bici La Frida e dos cursos profissionalizantes em mecânica. Destaque para o Bicitrans, direcionado às mulheres trans e travestis, e para o Bici Pr3ta, uma linha própria de bicicletas vendidas para todo o Brasil.
Coordenadora geral do La Frida, Lívia explica que, ao criar produtos, soluções e estratégias de mobilidade para a população crespa, negra e periférica, o principal norte das cicloativistas é pensar a emancipação do corpo e da mente como ato político.
Estima-se que mais de duas mil mulheres já tenham sido impactadas direta e positivamente pelas ações de “empreendedorismo orgânico e empoderador” do grupo. Indiretamente, são mais de 20 mil.
Pedal urbano — Com uma ciclovia de 310 quilômetros de extensão, Salvador é a segunda melhor capital do nordeste e a quinta do Brasil para ciclistas, segundo o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP). “Aqui, como em todo centro de cidade, a caminhada pulsa, mas é muito comum as pessoas da periferia virem de ônibus e fazerem pequenos trajetos de bike”, conta Lívia.
Ela ressalta ainda que a ação política do movimento inclui o diálogo com o poder público por meio de secretarias de mobilidade, turismo e resiliência de Salvador. “Nas eleições, a gente já participou de debates sobre as bicicletas, sobre a inclusão. As transformações ocorreram. Hoje, a gente tem a possibilidade de bicicleta no metrô, no ônibus, mais ciclovias”, diz Lívia.
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