Há dois anos, na Vila Olímpica do Complexo do Alemão, o Favela Tênis ensina meninas e meninos das comunidades a jogar tênis, desafiando a elitização da modalidade muito associada a quem tem dinheiro para praticar. As aulas são dadas pelo professor de educação física Ruan Melo da Cunha, de 27 anos, com a ajuda de dois amigos. Ao todo, 73 jovens praticam o esporte às terças e quintas-feiras, das 8h às 10h.
Ruan conta que se apaixonou por tênis na infância, enquanto aproveitava as tardes livres para jogar videogame e aguardava a transmissão de partidas pela televisão. Na época, o Brasil era representado das quadras por Gustavo Kuerten, o Guga, primeiro e único atleta brasileiro a ser eleito o número do mundo.
“Quando você é morador de favela, percebe que alguns esportes e realidades estão muito distantes. Aqui, por exemplo, é fácil encontrar quadras de futebol e às vezes basquete, mas é raro ver uma para tênis. A que utilizamos hoje, na Vila Olímpica do Complexo do Alemão, passou por uma reformulação feita por nós mesmos”, diz Ruan.
Essa condição, avalia Ruan, é um empecilho na formação de novos atletas profissionais, o que reflete no baixo número de jogadores brasileiros bem-sucedidos. Diferentemente do futebol, os jovens tendem a conhecer ou ter experiência com as raquetes e materiais do tênis quando estão mais velhos, fator que dificulta o desenvolvimento das habilidades no jogo.
Ainda que o País não tenha atualmente um representante na lista dos melhores do mundo, a pesquisa International Tennis Federation (ITF) aponta um crescimento de adeptos e praticantes do esporte no Brasil. Em relatório de 2019, a organização destacou que os brasileiros são 2,6% dos jogadores ou 2,2 milhões de atletas. Só que o custo de material, como raquetes, redes, bolas e etc. é alto, por isso a maior parte dos atletas é de classe média alta ou alta.
“Minha paixão pelo esporte trouxe essa vontade de criar um projeto social para os jovens da favela em que cresci. Então, junto com meus amigos, comecei a colocar em prática tudo que aprendemos sobre o tênis e, com o tempo, as crianças foram se interessando”, afirma Ruan. “Para mim, isso é mais do que praticar um exercício ou uma atividade, é demonstrar para quem vem das comunidades que é possível jogar ou ser quem você quer ser, sem esteriótipos.”
O Favela em Tênis se mantém com o apoio de organizações e doadores que fornecem todos os materiais utilizados pelos estudantes. Em contrapartida, os alunos são cobrados por seu compromisso com o esporte, a regularidade na participação e o bom desempenho escolar. “Quem sabe se o próximo Guga está aqui na favela?”, pergunta Ruan, que sonha com um cenário esportivo mais inclusivo para a comunidade.