“Brincadeira de criança, como é bom, como é bom”, já dizia o hit do grupo Molejo nos anos 1990. O brincar na infância tem levado coletivos paraenses a resgatar brincadeiras tradicionais que valorizam as raízes culturais de meninas e meninos no norte do País.
Arte, dança e brincadeiras lúdicas são propostas por esses grupos para aprimorar o desenvolvimento socioemocional e intelectual e fortalecer o sentido de pertencimento de crianças e adolescentes que vivem na periferia de centros urbanos, em comunidades quilombolas e no interior do Pará.
O Expresso na Perifa conheceu projetos que mantêm vivas as brincadeiras e listou atividades que divertem a garotada. Antes, uma palavra do pedagogo Cláudio Moraes, especialista em Práticas Inovadoras na Educação: “O brincar é importante, porque estimula o desenvolvimento cognitivo, o trabalho em grupo e a educação de uma forma integral. Nas brincadeiras, devemos trazer a criança o mais perto possível do ambiente natural”.
PROJETO PERPETUAR
Na cidade de Mojú (PA), o Projeto Perpetuar se dedica ao fortalecimento de identidades, ancestralidades e territorialidades quilombolas. Faz isso por meio de educação, arte e cultura. Em média, mensalmente cerca de 100 crianças participam das atividades lúdicas e criativas do projeto. “As brincadeiras amazônicas traduzem a resistência das comunidades quilombolas na construção de um território livre com práticas contextualizadas, emancipatórias e antirracistas”, afirma Samilly Valadares, coordenadora do Perpetuar. “Nossos territórios são de bole-bole, taco, futebol, bonecas da bacabeira e espiga de milho, os saltos de cordas no igarapé…”
‘HISTÓRIAS DE QUINTAL’
Trabalhando com teatro e brincadeiras tradicionais, o ator Paulo César interage com o público infantil na periferia de Bragança (PA) — mas não só. O espetáculo Histórias de Quintal, escrito e protagonizado por ele, circula semanalmente por bairros e vilarejos de Belém e já foi apresentado a cerca de 500 crianças. A peça fala das aventuras de Juninho, um menino de 8 anos que vê seu quintal como um lugar onde tudo é possível. “Salvaguardar nosso imaginário através do jogo e da brincadeira é divertido e ao mesmo tempo transformador, principalmente para as crianças. O teatro na infância mostra que elas podem ser o que elas quiserem”, diz Paulo César.
CORDÃO DE PÁSSARO COLIBRI
Outra iniciativa que mistura brincadeira e raízes culturais é o Cordão de Pássaro Colibri, na ilha de Caratateua, em Outeiro, um distrito de Belém. O coletivo existe há 50 anos e reúne crianças, jovens e adultos no intuito de resgatar as manifestações folclóricas de bichos e pássaros em festejos juninos da Amazônia. “Temos 35 brincantes e o Pássaro proporciona que as crianças da comunidade tenham uma atividade lúdica para se entreter”, diz Laurene Costa Ataíde, 64, socióloga e uma das responsáveis pelo projeto.
'BRINCADEIRAS AMAZÔNICAS' Bole-bole: as crianças fazem uma roda (o número de participantes é livre) e separam as pedrinhas. A ideia é colocar as pedrinhas na palma da mão, lançá-las para cima e apará-las com o outro lado da mão. Ganha quem conseguir aparar mais. Tacobol: os materiais usados são uma bola pequena, garrafa pet e ripas de madeira. Cada dupla inicia no taco e a outra na bola. Quem está no taco pontuar e protege a garrafa para ganhar o jogo. Quem está na bola derrubar a garrafa para conseguir ir até o taco e pontuar. Salto de cordas: presente em quilombos, lugarejos e cidades do interior do Estado. Os fios são amarrados a troncos de árvores em rios, igarapés e córregos e as crianças se penduram e dão saltos dentro d'água garantindo a diversão, além de um banho refrescante com amigos e os familiares. Bonecas de bacabeira e milho: são feitas da espiga de milho e folha da bacabeira, fruto nativo amazônico. Como os recursos financeiros eram escassos, as famílias mais velhas inventaram uma estratégia para as crianças brincarem, os próprios pais confeccionavam. A tradição segue até hoje.
Parabéns pelo projeto, fiquei apaixonada e muito feliz em poder relembrar essas brincadeiras da minha infância e adolescência.
Tenho uma proposta, seria interessante se fizesse oficinas dessas brincadeiras para formar multiplicadores nos bairros,e assim incentivar as nossas crianças e adolescentes de hoje.👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾