Vigilante e detetive formado, Lourival Ribeiro, de 40 anos, enxergou no descarte de entulhos uma oportunidade. Em 2016 ele criou o projeto Louro Pallets, em que recicla e transforma restos de madeiras em novos objetos. A ideia de Lourival gerou sustento para ele e catadores do antigo lixão do Aurá, no Pará, e abriu portas para levar os produtos a outras cidades do país.
Por 16 anos, Lourival trabalhou como catador no antigo lixão do Aurá, na região metropolitana de Belém, que há 20 anos foi o destino de todo lixo produzido na capital e hoje foi desativado. Na época que funcionava, o lixão era dividido por setores: rejeitos, lixo domiciliar e entulho. Lourival trabalhava com entulhos.
Ele lembra que em um dia rotineiro de trabalho enxergou uma fumaça e viu que eram madeiras pegando fogo. Ali nasceu a ideia do projeto para transformar aquele material descartado em objeto reciclado, mas ele ainda não levava jeito com marcenaria. “Tive a ideia, mas não tinha experiência”, comenta.
Com o fechamento do lixão, em 2015, fez cursos e virou marceneiro. Na sequência, colocou o projeto para funcionar. A dinâmica do Louro Pallets é pautada na economia circular, conceito na economia que leva em conta o desenvolvimento sustentável nos negócios.
Ele conversa com os catadores que ainda trabalham no lixão, que, apesar de desativado, ainda recebe entulhos da capital. Ali, algumas pessoas selecionam as madeiras descartadas no local e levam até o projeto de uma a duas vezes na semana, transportadas em carroças e recebem média de R$ 70 e R$ 200, por carroçada.
Lourival se considera um catador ‘indiretamente’, já que continua o trabalho com a matéria prima do antigo lixão do Aurá. Para ele, o projeto tem dado frutos já que sua produção está sendo levada para outros estados como Maranhão, Rio de Janeiro e Ceará.
A natureza agradece — O projeto tem contribuído com o meio ambiente e fomenta uma movimentação ao comércio local, gerando renda para seu próprio negócio e para a comunidade. “Trouxe de berço, vendo minha mãe trabalhar ‘sol a sol’ ajudando a gente e as pessoas. O ato de contribuir com o próximo tem muito valor”, diz.
Lourival cita os benefícios do negócio, tanto para a comunidade Nova Vida, no bairro de Águas Lindas, em Belém, quanto para o cuidado e preservação da natureza. “É uma árvore que eu não deixo ser cortada, porque a partir da hora que tiro uma carroçada de dentro do lixão, com mais ou menos 300 centímetros de madeira, eu deixo de desmatar”, afirma.
O projeto trabalha com a madeira pinho, árvore que não é natural do Pará, pois no estado não se cultiva essa espécie por conta do clima, mas quando é descartada no antigo lixão é reaproveitada. “Pego o lixo e transformo em luxo, coloco dentro da casa daquele cara que jogou fora”, comenta.
A fabricação dos produtos ocorre no quintal de sua casa, onde funciona o projeto atualmente. Objetos como cama, guarda-roupa, estante, entre outros móveis são vendidos a preços acessíveis, além de que as peças são exclusivas e feitas por materiais recicláveis.
Lourival e sua família afirmam que estão felizes com o projeto, pois antes eles trabalhavam sem perspectiva e hoje tem um propósito de vida no reaproveitamento do lixo. Para dona Antônia Ribeiro, 73, mãe de Lourival, ‘apesar do bairro ser esquecido’, fora do lugar, eles são conhecidos. “Aqui não há coitadinhos ou pobrezinhos, existem pessoas necessitadas e que lutam pelo seu sustento”, reforça.
Nos próximos meses, Lourival sonha em ampliar o projeto para um galpão maior, onde poderá abrigar os materiais. Ele também quer montar uma escola para realizar oficinas profissionalizantes voltadas à marcenaria e à reciclagem. O projeto, além de ser enviado para outros estados, exibe peças em shoppings de Belém e em espaços culturais da cidade, como o Teatro da Paz, Estação das Docas e o Mangal das Garças.
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