Pensar em racismo ambiental, crise climática e desigualdades é parte da missão do Instituto Perifa Sustentável, mas esse debate não pode ser resumido a metas, números, resultados e crescimento. Precisamos humanizar esse diálogo urgentemente, trazendo os mais vulnerabilizados e empobrecidos para estarem no centro da discussão. Neste sentido, os últimos meses foram de diversos aprendizados e neste último artigo, queremos dividir contigo algumas vitórias desta trajetória.
2023 começou com um forte sentimento coletivo de esperança e um desejo profundo por mudanças. Desejamos o restabelecimento da ordem do nosso país e estávamos ansiosos pela reconstrução de políticas públicas. E mesmo que ainda falte bastante, sabemos que estamos no caminho. No Instituto Perifa Sustentável, aprendemos ao longo do tempo que o processo de planejamento não se resume apenas em traçar metas e números, mas também em criar espaços para o crescimento pessoal e coletivo, promovendo novas formas de pensar, agir e sentir.
Em Educomunicação, ampliamos a nossa produção de conteúdo com uma linguagem direcionada para a galera periférica e passamos a ocupar lugares de destaque na mídia brasileira. Fizemos a cobertura da COP 28 – Dubai com duas correspondentes, Amanda Costa e Mahryan Sampaio, entendendo que se a crise climática afetará os mais vulnerabilizados, é com estas pessoas que precisamos direcionar nossa narrativa.
E querido leitor, quem diria que a periferia chegaria neste espaço tão importante de discussão e de tomada de decisão? Mas não basta apenas chegar lá, nossa luta nunca será resumida no discurso simplista de “a favela venceu”. Até porque, a favela só vencerá quando todos vencerem juntos.
Já na nossa frente de Incidência política, fortalecemos nossa presença em redes e grupos de trabalho relacionados ao meio ambiente e à educação, com o intuito de influenciar políticas públicas e contribuir para uma adaptação inclusiva das periferias às mudanças climáticas. Estar nestas múltiplas redes nos ensinou que a transformação só é efetiva quando feita de forma coletiva. É necessário se comunicar, mobilizando a base para fazer pressão popular nos tomadores de decisão para termos mudanças que realmente tragam um impacto positivo para a nossa comunidade!
Em nosso pilar de Território, fortalecemos nossa relação com lideranças comunitárias da Brasilândia e realizamos uma campanha de inverno, que distribuiu mais de 700 itens para amenizar o frio. A quebrada tem frio e ainda precisamos de ações assistencialistas para garantir a sobrevivência dos mais necessitados. Mas não podemos sintetizar a luta por aqui por aí! Aprendemos que a transformação também vem do acesso ao conhecimento e no segundo semestre implementamos o projeto Clima de Quebrada, uma formação racial e climática para alunos e docentes de escolas públicas das periferias de São Paulo.
O fortalecimento da educação ambiental, com foco nas mudanças climáticas nas escolas públicas deve também ter um componente de engajamento comunitário e o suporte para que as pessoas de quebrada se tornem agentes de transformação em seus respectivos territórios.
A primeira edição foi realizada em parceria com a Diretoria Regional de Educação da Freguesia/Brasilândia e com o CEU EMEF Teotonio Vilela (CEU Paz). Esse projeto proporcionou formação sobre questões raciais e climáticas para alunos e professores, visando fortalecer o engajamento comunitário e promoveu ações concretas.
Queremos transformar o mundo, começando pelo nosso bairro!
Também tiveram muitos erros, choros e confesso, alguns desesperos nesse processo. Afinal de contas, estamos construindo algo novo, com muita luta, resistência e vontade de criar uma PERIFA SUSTENTÁVEL!
O processo de mudança que tanto queremos lá fora, começa com as mudanças aqui dentro. Ampliar nossas capacidades de fazer mas também de perceber a vida em cada um de nós e nos outros, isso é se tornar organização. E esse processo de mudança só vai ocorrer com espaços de conversa, acolhimento e construção de confiança, que devem estar e ser parte do tal planejamento.
Querido leitor, ao dialogarmos sobre nossas experiências e aprendizados, reafirmamos a importância de planejar ações e nossa organização, mas não apenas com foco em resultados, mas também em promover o crescimento humano e coletivo, construindo espaços de diálogo, acolhimento e confiança. Por aqui deixamos as palavras do padre Ignácio Loyola: “não é o muito saber que sacia a alma, mas sim o sentir e saborear internamente as coisas.”
Esperamos que assim como nós, você tenha se saciado com as nossas palavras, vivências e aprendizados durante nossa temporada por aqui.
***Este conteúdo é uma coluna de opinião que representa as ideias de quem escreve, não do veículo.