Estamos vivendo eventos extremos. São muitos casos de insegurança, em que o racismo climático escancara a dura realidade das populações mais vulneráveis. Por exemplo, no mês de setembro, outubro e novembro, estados do Sul decretaram emergência. Por conta das grandes chuvas no estado, pessoas ficaram desabrigadas, plantações foram perdidas e pelo menos 48 vidas, segundo o balanço da Defesa Civil.
Os povos indígenas do Sul também foram impactados por isso. Por uma decisão do estado de Santa Catarina, a barragem José Boiteux foi fechada pelo risco de inundação da cidade, no entanto o fechamento da barragem alagaria aldeias próximas à barragem, o que aconteceu.
Parentes do povo Xokleng tiveram suas aldeias alagadas e plantações perdidas, por escolha do estado, e as promessas feitas para assistência do povo não foram cumpridas pelas autoridades. Não houve atendimento médico, nem barcos para logística da comunidade, muito menos água potável e alimento para os Xokleng afetados pela enchente.
Estamos vivendo em um tempo em que não entendemos o tempo. Outro exemplo de impacto ambiental devido à crise climática é a seca no estado do Amazonas e outros estados da região norte. O nível das águas desceu tanto, que centenas de peixes, botos, peixes-boi e outras espécies morreram sufocadas em resquícios de rios. O calor também afeta a temperatura da água, o que causa também a morte dos animais.
A seca afeta a vida das populações amazônicas, indígenas, beradeiros que sofrem com o isolamento e a falta de recursos de sobrevivência. Campanhas de arrecadação de alimentos foram feitas para tentar ajudar comunidades que vivem dos rios, da pesca e da caça.
Todos os municípios do Amazonas decretaram situação de emergência. Além da seca, a fumaça das queimadas assola a região, por mais de um mês. Manaus está sufocando com uma das piores qualidade do ar.
O que esses exemplos tem a ver com o que temos para falar? Somos os principais afetados pelos efeitos das mudanças climáticas, no entanto não somos nós os causadores de todos esses impactos, pelo contrário, guardamos o bioma por muitos anos para que todos pudessem ter a chance de ter a floresta em pé.
Entendemos que fazemos parte do planeta como um todo, e assim não podemos acabar com o nosso próprio corpo. Nossos territórios se mantêm preservados para manter a biodiversidade. Somos os guardiões e muitas das vezes pagamos com a própria vida.
A impunidade na exploração por vezes vem de legislações aprovadas no Congresso, onde a bancada ruralista dita o futuro das nossas terras, incentivando o desmatamento, as queimadas, grilagem, mineração, exploração, caça e pesca ilegal, assassinato de lideranças indígenas e ativistas pela causa.
O calor e os efeitos das mudanças climáticas afetam a todos, muito mais os mais vulneráveis, e podem ter certeza que os causadores, não estão nessa lista.
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